De Povos Indígenas no Brasil

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Índios destroem carro da Funasa

21/06/2005

Autor: CRISTINA LAURA

Fonte: A Tarde-Salvador-BA



Acampados há 15 dias na sede da fundação, em Juazeiro, atikuns garantem que só saem com as reivindicações atendidas

Índios das tribos Atikuns Bahia e Tumbalalás, acampados na sede da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em Juazeiro, destruíram, ontem, com paus e pedras, um dos carros da fundação, estacionado dentro do prédio desde a ocupação, dia 5 último. Eles alegaram estar "cansados de esperar um representante da Fundação Nacional do Índio (Funai)".

O compromisso assumido pelos índios, de que cuidariam do patrimônio, em reunião, na semana passada, com representantes da Polícia Federal e da Procuradoria da República, de Petrolina, não foi cumprido, e mesmo tendo dado a palavra, a cacique Djanira da Silva consentiu e participou da destruição do carro da Funasa.

Segundo ela, "não podemos ficar parados, esperando que essas pessoas façam pouco caso da gente, que os índios morram de fome e fiquem sem atendimento médico. Nosso protesto é justo e queremos que alguém da Funai venha conversar com a gente para resolver essa questão, mas que venha com solução, não com promessas", afirma a cacique da tribo Atikun Bahia.
Djanira garantiu que, enquanto o presidente da Funai, Márcio Pereira Gomes, e o diretor de Assuntos Fundiários não comparecerem ao prédio da Funasa, com uma resposta para os problemas das aldeias, os índios vão permanecer onde estão e destruir os outros três carros da Funasa.
Na semana passada, eles devolveram um dos carros, que pertencia a Sílvio Ribeiro dos Santos, funcionário da Funasa, em troca de cestas básicas, acordo intermediado por integrantes do Instituto Ambiental de Proteção à Vida. Os mais de 200 índios atikuns e tumbalalás, apoiados pelas tribos Trukás e da Tapera, permanecem fechados no prédio federal, sem carro para transporte de doentes, sem linha (telefones foram bloqueados para chamadas) e sem alimentos.

Dos índios acampados, entre adultos e crianças, dez estão doentes. Segundo Djanira da Silva, integrantes do Conselho Tutelar de Juazeiro, preocupados com a situação das crianças, foram até a Funasa, conversaram com eles e levaram duas crianças para atendimento médico nos postos de saúde da cidade. Para a cacique, "é vergonhoso que os índios precisem da ajuda da comunidade para ter comida e remédios, enquanto o órgão federal responsável pela vida das tribos não se manifesta".

Estudantes da Faculdade de Comunicação Social da Uneb, em Juazeiro, solidários com a luta dos índios, arrecadaram alimentos entre os colegas de curso e entregaram à cacique semana passada. Para o estudante Luiz Cláudio Pergentino, "a ajuda é pequena, mas mostra que é possível colaborar com a causa das aldeias. A situação dos índios é real e exige atitude imediata por parte da Funai e da Funasa e apoio da comunidade".

Os índios ocuparam o prédio da Funasa em protesto pela demora na homologação das terras que ocupam, próximas ao município de Curaçá, e contra a falta de assistência médica nas aldeias. Houve uma tentativa de acordo com o administrador da Funasa em Paulo Afonso, Sílvio Marques, sem sucesso, e ninguém da Funai apareceu até agora para uma negociação. A falta de resposta está deixando os índios impacientes, gerando mais nervosismo e revolta, que acabou, ontem pela manhã, com a destruição de um bem da União.
 

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