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FDN aliciou peruanos e colombianos para cartel

12/01/2017

Fonte: Valor Econômico, Especial, p. A12



FDN aliciou peruanos e colombianos para cartel

André Guilherme Vieira

A facção criminosa Família do Norte (FDN) aliciou uma rede de fornecedores peruanos e colombianos para constituir seu próprio cartel de drogas na região amazônica com o objetivo de obter o monopólio de abastecimento do mercado brasileiro de cocaína - o segundo maior do mundo, atrás apenas do americano -, segundo fontes da Polícia Federal (PF), do Ministério Público Federal e do núcleo de inteligência do governo do Amazonas.
Nota técnica com informes de inteligência elaborada pela Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) alerta para o risco de transferência de cultivos de coca do território peruano para o brasileiro, na região de fronteira entre os dois países conhecida como 'Bajo Amazonas'. O documento, obtido pelo Valor, reúne dados sobre diversos levantamentos de informações realizados por autoridades brasileiras e internacionais desde 2006.
Segundo o relatório, as autoridades brasileiras que combatem o narcotráfico na tríplice fronteira amazônica não foram informadas pelo governo do Peru ou pelo Escritório de Drogas e Crimes da ONU (Unodc) sobre o surgimento de uma nova área de produção de cocaína na fronteira peruana.
Datada de 4 de janeiro, a nota técnica do governo do Amazonas aponta que, até 2006, autoridades brasileiras, embasadas em relatórios da Unodc, "estavam convictas" de que os plantios de coca para produção de pasta base de cocaína ocupavam "a banda oriental" da Cordilheira dos Andes.
"Isto, pela falta de dados do Sistema Integral de Monitoreo de Cultivos Ilícitos, elaborados pelo Unodc e Governo do Peru, que determinassem o surgimento de uma nova zona cocalera na região do Bajo Amazonas", diz a nota.
Chama a atenção, no relatório, o fato de o período de ampliação da produção de pasta base de cocaína coincidir com a época em que a facção Família do Norte (criada por assaltantes e latrocidas no Amazonas em 2007, e que tem o criminoso José Roberto Fernandes Barbosa, o "Compensa", como seu maior líder) começou a ampliar seu tamanho, poderio bélico e influência, passando à condição de protagonista do tráfico de drogas e do controle de presídios em Estados da região Norte do Brasil - além de se estabelecer como principal aliada do Comando Vermelho, que domina o crime no Rio de Janeiro e o abastece com drogas.
"No período de 2007 a 2010, observou-se o acirramento dos conflitos letais na fronteira do Estado do Amazonas com o Peru", reporta o documento.
Diz o relatório que, "diante dessa nova ameaça", e para determinar a "potencialidade ofensiva dos cultivos de coca na área do rio Javari pelos peruanos", a PF, órgãos brasileiros e peruanos realizaram diversas operações policiais "cujos resultados causaram perplexidade e temor".
Constatou-se, então, a existência de "diversas áreas ocupadas com o cultivo de coca na Amazônia úmida e a grande quantidade de laboratórios destinados a transformação das folhas de coca em pasta base de cocaína".
O temor, descreve o relatório de inteligência, resultou da proximidade dos cultivos à linha de fronteira de Brasil e Peru, além do emprego de índios da etnia Ticuna e de "fanáticos seguidores de uma seita denominada 'Misión Israelita del Nuevo Pacto Universal'". As investigações já identificaram a existência de índios Ticuna entre os integrantes da FDN, caso do criminoso conhecido como "Matchuca".
"Todos os Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste são afetados pela droga que vem daqui do Amazonas, isso já é um fato conhecido há algum tempo", afirma uma fonte que atua na inteligência de combate ao narcotráfico na fronteira. As estimativas mais atuais indicam que o mercado brasileiro de cocaína movimenta entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5 bilhões ao ano.
Uma das linhas de investigação da PF e do MPF aponta para a possibilidade de existência de uma rota de tráfico já chamada de "Conexão Solimões-Fortaleza", para remeter de pasta base de cocaína em barcos pelo rio Solimões até Manaus, para posterior envio, em pequenos aviões, ao Nordeste - principalmente à capital cearense. De lá, se destinariam ao exterior pela via marítima. Nos últimos cinco anos, a PF apreendeu cargas da droga que saíram da região de Manaus e que seriam destinadas aos Estados Unidos, Ásia, África e Europa. No ano passado, os federais, por meio da Interpol, avisaram o governo mexicano sobre a chegada de um carregamento de cerca de 300 kg de pasta base de cocaína. Ainda não está claro o nível de envolvimento da FDN com o tráfico internacional. Até agora, já se sabe que a facção atua no eixo dosdois principais entrepostos do comércio ilegal da droga no Brasil, Manaus e Belém (PA).
De acordo com o descoberto pela PF, transportadores contratados tanto pela FDN como por seus fornecedores exclusivos atuavam ao menos desde 2011 em municípios da região da tríplice fronteira -Santa Rosa, Letícia e Tabatinga - e traziam a cocaína em embarcações construídas sob medida para o tráfico, que tinham entre 25 e 30 pés de comprimento (de 7 a 9 metros).
"Há escutas telefônicas de líderes da FDN mandando construir novos barcos para transporte de droga, orientando para que essas novas embarcações fossem mais velozes", relata um investigador.
Segundo o MPF, fornecedores primários de cocaína peruanos e colombianos presos em operações policiais brasileiras e encaminhados a prisões do Amazonas eram coagidos para se "filiarem" à FDN.
"Esse estrangeiro preso tinha uma escolha: ser fornecedor exclusivo da facção, ou ser morto na cadeia", revela o investigador.

Valor Econômico, 12/01/2017, Especial, p. A12

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