De Povos Indígenas no Brasil
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Pela primeira vez, artista indígena é protagonista no Teatro Amazonas
23/08/2017
Fonte: FSP, Ilustrada, p. C5
Pela primeira vez, artista indígena é protagonista no Teatro Amazonas
FABIANO MAISONNAVE
DE MANAUS
Inaugurado há quase 121 anos como reduto da alta cultura europeia no meio da selva amazônica, o Teatro Amazonas abrirá seu palco pela primeira vez para uma apresentação produzida e protagonizada por uma indígena.
A façanha histórica de Djuena Tikuna, 32, terá lugar nesta quarta (23). "É uma conquista coletiva. Sou uma cantora do movimento indígena", diz Djuena, rosto pintado e adorno de penas no cabelo, no café anexo ao teatro.
O espetáculo marca o lançamento do álbum "Tchautchiüãne" ("minha aldeia"), com músicas só na língua ticuna -a maior etnia do país, com cerca de 54 mil pessoas.
No palco, Djuena Tikuna receberá convidados especiais de outros dois povos. Com entrada gratuita, a expectativa é de uma grande presença de "parentes" (como os índios se referem uns aos outros) também na plateia do teatro, muitos pela primeira vez ali.
"Eu não entro no teatro e vejo a beleza. Eu penso: quantos parentes derramaram sangue por causa desse local", diz a cantora, falando sobre o prédio erguido com o dinheiro da borracha, cuja exploração matou e escravizou indígenas.
"Vou cantar aqui pra bater os nossos pés, cantar e dizer que estamos aqui, resistindo."
Djuena nasceu em uma aldeia próxima a Tabatinga (AM), na tríplice fronteira com Peru e Colômbia. Aos sete, ainda sem falar português, desceu descalça do barco em Manaus com a mãe e irmãos para se reunir ao pai, que era segurança de banco.
Na capital, enfrentou o preconceito na escola. Na juventude, envolveu-se com teatro e com outros artistas ticunas do grupo Wotchimaücü,entre os convidados desta noite. Hoje, além de cantar e compor, ela cursa jornalismo.
Suas letras, explica, falam sobre o ambiente, demarcação de terras e outros temas ligados aos direitos indígenas. A opção de não cantar em português também é política.
"Alguns povos não falam mais a sua língua. Já pensou se canto em português? Os jovens que estão me assistindo vão querer me imitar. Mesmo na cidade, temos de manter a língua e a identidade."
"Ela é muito talentosa, e a apresentação tem um forte significado", afirma o escritor Milton Hatoum, que cresceu na vizinhança do teatro. "Muito manauras ignoram a importância da cultura indígena numa cidade quem tem o nome de uma etnia indígena."
"Djuena não é aquela índia pintada romanticamente nas telas do salão nobre do teatro. A gente tem de lutar contra essa visão estereotipada e romantizada dos outros", diz o autor de "Dois Irmãos".
DJUENA TIKUNA
ONDE Teatro Amazonas (av. Eduardo Ribeiro, 659)
QUANDO 20h (horário local)
QUANTO grátis
FSP, 23/08/2017, Ilustrada, p. C5
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/08/1912133-pela-primeira-vez-artista-indigena-e-protagonista-no-teatro-amazonas.shtml
FABIANO MAISONNAVE
DE MANAUS
Inaugurado há quase 121 anos como reduto da alta cultura europeia no meio da selva amazônica, o Teatro Amazonas abrirá seu palco pela primeira vez para uma apresentação produzida e protagonizada por uma indígena.
A façanha histórica de Djuena Tikuna, 32, terá lugar nesta quarta (23). "É uma conquista coletiva. Sou uma cantora do movimento indígena", diz Djuena, rosto pintado e adorno de penas no cabelo, no café anexo ao teatro.
O espetáculo marca o lançamento do álbum "Tchautchiüãne" ("minha aldeia"), com músicas só na língua ticuna -a maior etnia do país, com cerca de 54 mil pessoas.
No palco, Djuena Tikuna receberá convidados especiais de outros dois povos. Com entrada gratuita, a expectativa é de uma grande presença de "parentes" (como os índios se referem uns aos outros) também na plateia do teatro, muitos pela primeira vez ali.
"Eu não entro no teatro e vejo a beleza. Eu penso: quantos parentes derramaram sangue por causa desse local", diz a cantora, falando sobre o prédio erguido com o dinheiro da borracha, cuja exploração matou e escravizou indígenas.
"Vou cantar aqui pra bater os nossos pés, cantar e dizer que estamos aqui, resistindo."
Djuena nasceu em uma aldeia próxima a Tabatinga (AM), na tríplice fronteira com Peru e Colômbia. Aos sete, ainda sem falar português, desceu descalça do barco em Manaus com a mãe e irmãos para se reunir ao pai, que era segurança de banco.
Na capital, enfrentou o preconceito na escola. Na juventude, envolveu-se com teatro e com outros artistas ticunas do grupo Wotchimaücü,entre os convidados desta noite. Hoje, além de cantar e compor, ela cursa jornalismo.
Suas letras, explica, falam sobre o ambiente, demarcação de terras e outros temas ligados aos direitos indígenas. A opção de não cantar em português também é política.
"Alguns povos não falam mais a sua língua. Já pensou se canto em português? Os jovens que estão me assistindo vão querer me imitar. Mesmo na cidade, temos de manter a língua e a identidade."
"Ela é muito talentosa, e a apresentação tem um forte significado", afirma o escritor Milton Hatoum, que cresceu na vizinhança do teatro. "Muito manauras ignoram a importância da cultura indígena numa cidade quem tem o nome de uma etnia indígena."
"Djuena não é aquela índia pintada romanticamente nas telas do salão nobre do teatro. A gente tem de lutar contra essa visão estereotipada e romantizada dos outros", diz o autor de "Dois Irmãos".
DJUENA TIKUNA
ONDE Teatro Amazonas (av. Eduardo Ribeiro, 659)
QUANDO 20h (horário local)
QUANTO grátis
FSP, 23/08/2017, Ilustrada, p. C5
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/08/1912133-pela-primeira-vez-artista-indigena-e-protagonista-no-teatro-amazonas.shtml
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