De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Os últimos, isolados
12/11/2020
Fonte: UOL/Ecoa - https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais
Símbolo de resistência, Piripkuras caminham para a extinção com dois últimos indígenas ocupando terra ameaçada
Marcos Candido
A chuva cai uma vez ao ano na terra dos Piripkura. A seca entre maio e setembro é precedida pelas chuvas de outubro a março, que chegam em uma média de até 2.400 milímetros ao ano. Mas os Piripkura não dominam e nunca dominaram os números, as métricas. Sabem que os igarapés enchem d'água na chuva e é mais difícil pescar assim. O cacau e as castanhas são os principais alimentos o ano todo, mas na seca peixes como o cará, a traíra, são mais facilmente fisgados e abundantes nos igarapés. Também é mais simples caçar para comer, como espetar jacarés com lanças. Os Piripkura vivem entre duas condições climáticas opostas, com temperaturas que oscilam de 18o C a 40o C. Por isso, o ano deles é dividido por antropólogos e percebidos por eles como apenas um inverno e um verão. Eles poderiam viver por mais uma dezena incontável de décadas desta maneira, mas a cada estação estão mais próximos de desaparecer. Hoje, os Piripkura foram resumidos a dois indígenas: Tamanduá e Baita. São os últimos a ainda viverem na floresta como seus ancestrais. Há também uma única mulher, que há aproximadamente 40 anos não vive mais entre os familiares.
Baita é o mais velho, tem cerca de 50 anos. Tamanduá, mais novo, é seu sobrinho. A idade é um termo relativo para indígenas. Eles entendem que os anos passam quando envelhecemos e nos tornamos mais sábios, os portadores e transmissores de conhecimento. Mas entre os Piripkura não há mais velhos. Após a morte da dupla, não restarão nem os mais jovens para repassar as técnicas de sobrevivência e o uso consciente do meio ambiente que lhe garantiram a existência até hoje. "São povos com tradições milenares que conseguiram sobreviver em pleno século 21 independentes da era industrial. É um conhecimento tal da floresta que eles conseguem sobreviver e ainda garantir gerações", explica o indigenista Antenor Vaz, que desde a década de 1980 acompanha e monitora os Piripkura e povos isolados no Brasil e América do Sul. Antenor liderou um estudo que confirma a existência de 28 povos indígenas isolados em território brasileiro. São indígenas que evitam contato, rejeitam qualquer comunicação ou sequer sabem da chegada dos europeus ao continente sul-americano. O Brasil tem o maior número de isolados confirmados na América do Sul, à frente do Peru. Há ainda uma suspeita de que o número seria muito maior: 86 povos indígenas viveriam isolados em nosso país.
Em uma área de 242,5 mil hectares, no norte do Mato Grosso, a Terra Indígena Piripkura tem sofrido com avanços de grileiros e madeireiros desde os anos 1980 que pode diminuir este número. O crescente desmatamento em 2020 coloca em risco não só a existência do povo, como a as práticas de reconhecimento e respeito aos povos da floresta que levaram anos para serem consolidadas.
https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/piripkuras-caminham-para-extincao-com-apenas-dois-indigenas-na-floresta/index.htm#cover
Marcos Candido
A chuva cai uma vez ao ano na terra dos Piripkura. A seca entre maio e setembro é precedida pelas chuvas de outubro a março, que chegam em uma média de até 2.400 milímetros ao ano. Mas os Piripkura não dominam e nunca dominaram os números, as métricas. Sabem que os igarapés enchem d'água na chuva e é mais difícil pescar assim. O cacau e as castanhas são os principais alimentos o ano todo, mas na seca peixes como o cará, a traíra, são mais facilmente fisgados e abundantes nos igarapés. Também é mais simples caçar para comer, como espetar jacarés com lanças. Os Piripkura vivem entre duas condições climáticas opostas, com temperaturas que oscilam de 18o C a 40o C. Por isso, o ano deles é dividido por antropólogos e percebidos por eles como apenas um inverno e um verão. Eles poderiam viver por mais uma dezena incontável de décadas desta maneira, mas a cada estação estão mais próximos de desaparecer. Hoje, os Piripkura foram resumidos a dois indígenas: Tamanduá e Baita. São os últimos a ainda viverem na floresta como seus ancestrais. Há também uma única mulher, que há aproximadamente 40 anos não vive mais entre os familiares.
Baita é o mais velho, tem cerca de 50 anos. Tamanduá, mais novo, é seu sobrinho. A idade é um termo relativo para indígenas. Eles entendem que os anos passam quando envelhecemos e nos tornamos mais sábios, os portadores e transmissores de conhecimento. Mas entre os Piripkura não há mais velhos. Após a morte da dupla, não restarão nem os mais jovens para repassar as técnicas de sobrevivência e o uso consciente do meio ambiente que lhe garantiram a existência até hoje. "São povos com tradições milenares que conseguiram sobreviver em pleno século 21 independentes da era industrial. É um conhecimento tal da floresta que eles conseguem sobreviver e ainda garantir gerações", explica o indigenista Antenor Vaz, que desde a década de 1980 acompanha e monitora os Piripkura e povos isolados no Brasil e América do Sul. Antenor liderou um estudo que confirma a existência de 28 povos indígenas isolados em território brasileiro. São indígenas que evitam contato, rejeitam qualquer comunicação ou sequer sabem da chegada dos europeus ao continente sul-americano. O Brasil tem o maior número de isolados confirmados na América do Sul, à frente do Peru. Há ainda uma suspeita de que o número seria muito maior: 86 povos indígenas viveriam isolados em nosso país.
Em uma área de 242,5 mil hectares, no norte do Mato Grosso, a Terra Indígena Piripkura tem sofrido com avanços de grileiros e madeireiros desde os anos 1980 que pode diminuir este número. O crescente desmatamento em 2020 coloca em risco não só a existência do povo, como a as práticas de reconhecimento e respeito aos povos da floresta que levaram anos para serem consolidadas.
https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/piripkuras-caminham-para-extincao-com-apenas-dois-indigenas-na-floresta/index.htm#cover
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