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Mapeamento em 67 aldeias visa a salvaguarda de línguas indígenas faladas no Oiapoque

30/04/2025

Fonte: Portal Amazonia - https://portalamazonia.com



O que faz uma língua continuar existindo e sendo falada por um povo, a cada nova geração? Essa foi uma das perguntas-chave de um evento realizado nos dias 22 e 23 de abril, na superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) no Amapá, em Macapá. 

O '1o Encontro Qual(is) Língua(s) Você Fala?' foi uma ação do projeto de pesquisa de mesmo nome, realizado no âmbito do Mestrado Profissional de Cultura e Política da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e contemplado em 2023 pelo edital do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI) do Iphan. 

Reunindo pesquisadores, professores, estudantes e lideranças indígenas, o evento serviu para apresentar e pôr em discussão alguns resultados do projeto, que vem mapeando e busca criar um acervo digital de línguas indígenas faladas no Oiapoque, norte do Amapá. 

Para isso, a equipe do projeto vem produzindo registros audiovisuais, aplicando questionários e conduzindo entrevistas nas 67 aldeias da região, com falantes das línguas:

Parikwaki (do povo Palikur-Arukwayene), 
Kheuól Karipuna (dos Karipuna), 
Kheuól Galibi-Marworno (dos Galibi Marworno)
e Kali'na (dos Galibi-Kali'na). 
Com esse conjunto de dados qualitativos e quantitativos, os pesquisadores querem caracterizar a situação de cada uma dessas línguas - se estão em uso vigoroso, em processo de perda ou em fase de revitalização - para contribuir com a sua salvaguarda e o seu reconhecimento oficial como patrimônio cultural do Brasil. 

"Esse tipo de trabalho tem valor por si só - por tudo que ele representa para as comunidades envolvidas -, mas também abre caminhos para novas políticas públicas, que garantam, por exemplo, educação bilíngue nas escolas indígenas, materiais de saúde traduzidos nas línguas das comunidades e o direito dessas pessoas de serem atendidas e compreendidas em sua própria língua", disse o superintendente do Iphan no Amapá, Michel Flores. "Esse tipo de trabalho abre caminhos para novas políticas públicas, que garantam, por exemplo, educação bilíngue, materiais de saúde traduzidos e o direito das pessoas de serem atendidas em sua própria língua".

O superintendente nota que a própria pesquisa celebrada no evento desta semana já é fruto de uma política pública de grande relevância, implementada pelo Iphan, o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), que reconhece e protege as línguas faladas por diferentes comunidades no País. 

Utilizando critérios padronizados e metodologia científica, o INDL é uma forma de documentação de línguas que, se reconhecidas como Referência Cultural Brasileira, podem contar com nível de proteção do Estado semelhante a outros bens culturais registrados como Patrimônio Imaterial do Brasil.  

"O INDL entende que a língua é um patrimônio cultural, um bem precioso que deve ser cuidado como se cuida da memória de um povo", disse Flores.

Participação das comunidades 
Para a coordenadora do projeto, a doutora em Linguística Elissandra Barros, a pesquisa vai "fornecer dados sem precedentes sobre as línguas indígenas do Oiapoque", município que abriga cerca de 8 mil indígenas - quase um terço de sua população. Segundo ela, além de contabilizar o número de falantes de cada uma das quatro línguas estudadas, a ideia é também investigar expressões e usos cotidianos, os níveis de proficiência e como se dá a relação entre elas e o português. Algo que pode variar muito de geração para geração. 

"Os jovens entendem o que os mais velhos dizem, mas só respondem em português", diz Nadilson Felipe, do povo Karipuna, que integra a equipe do projeto. Embora afirme que o Kheuól Karipuna continua vivo como língua e identidade étnica, Nadilson destaca que em muitas aldeias o português é a língua predominante, o que só reforça a urgência e a necessidade da pesquisa. 

É um depoimento semelhante ao de Rudolph Lod, do povo Galibi Kali'na: "Meu povo no Brasil é pequeno, somente os mais velhos falam o Kali'na", diz ele. "Mas passei a ter um outro olhar sobre a nossa língua quando entrei para o projeto e vejo que isso tem acontecido com muitos indígenas também". 

A participação de Nadilson e Rudolph na equipe não é por acaso. O projeto conta com a colaboração de organizações representativas dos quatro povos estudados: a Associação Indígena do Povo Palikur (AIPA), a Associação Indígena do Povo Galibi-Marworno (AIPGM), a Associação Indígena do Povo Karipuna (AIKA) e a Associação Na'na Kali'na. 

Cada uma delas indicou um coordenador interno para articular as ações localmente, garantindo a participação direta das comunidades na pesquisa. Além de Nadilson e Rudolph, também integram a equipe, como coordenadores locais, Lenise Felício Batista, do povo Palikur, e Orineio Monteiro, dos Galibi-Marworno. 

"Essa estrutura colaborativa assegura que o projeto seja conduzido em diálogo constante com os povos envolvidos, respeitando os saberes tradicionais e as dinâmicas locais", diz Elissandra. 

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