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Notícias

O saber indígena aliado à ciência moderna: Ações protagonizadas por povos tradicionais restauram terras devastadas

05/06/2025

Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/



O saber indígena aliado à ciência moderna: Ações protagonizadas por povos tradicionais restauram terras devastadas
Com técnicas da agroecologia, programas indígenas avançam na Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia

05/06/2025

Lucas Altino

A ciência criou tecnologias para otimizar o plantio, como sensores de solo, biofertilizantes e sistemas de irrigação. Mas ninguém entende de floresta como os povos originários. Diversos projetos de restauração ambiental têm, no papel de protagonistas, comunidades indígenas como os tikmu'un-maxakali, cujo saber tradicional está recuperando uma grande área da Mata Atlântica devastada no leste de Minas Gerais.

A conversão de florestas em pastagens, ao longo do tempo, encurralou essa etnia em seu território. Agora, porém, o povo de estimados 2,5 mil indígenas, espalhados entre cidades como Santa Helena de Minas e Teófilo Otoni, está na dianteira do reflorestamento na região.

Graças ao Projeto Hãmhi Terra Viva, os tikmu'un-maxakali se formaram como agentes agroflorestais. Combinando conhecimento tradicional com novas técnicas de plantio, eles recuperaram, em um ano, 150 hectares de Mata Atlântica e plantaram 60 hectares de quintais agroecológicos nas aldeias. Assim, bananeiras, graviolas, mangueiras, açaizeiros e pés de urucum e cupuaçu voltaram a florescer na região.

Criada por pesquisadores com o apoio do Instituto Opaoká, a iniciativa foi viabilizada com recursos de empresas que fizeram acordos de reparação com o Ministério Público de Minas.

Maurílio Maxakali é um dos 30 agentes já formados. Além de participar de cursos, eles recebem equipamentos para plantio e uma bolsa mensal de R$ 600.

- Antigamente, a mata fornecia nossa comida. Mas os brancos trouxeram bois, plantaram capim para alimentar os bois, os bois pisaram na nossa terra e, assim, acabaram com a nossa terra - explica Maurílio. - Nossos antigos plantavam, mas as roças eram menores. Agora, estamos plantando em áreas muito maiores, e a floresta vai voltar.

O projeto Hãmhi também introduz o tema da agrofloresta na formação dos professores Tikmu'un, na licenciatura na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), outra parceira do projeto. O leste de Minas, onde fica a comunidade, foi uma das regiões do Brasil onde houve maior aumento de temperatura recente, com as mudanças climáticas, segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

- O projeto contribui para o enfrentamento das mudanças climáticas e tem como perspectiva o reconhecimento da força linguística e cultural do povo Tikmu'un, apresentando um modelo de formação profissionalizante em nível médio que, a um só tempo, valoriza sua riqueza linguística e fortalece a autonomia alimentar - explica Rosângela de Tugny, coordenadora-geral do projeto.

Coleta de sementes no Xingu
Na Terra indígena do Xingu, em Mato Grosso, entre o Cerrado e a Amazônia, uma das regiões mais pressionadas pelo agronegócio, lideranças indígenas criaram, há 20 anos, a Rede Sementes do Xingu (RSX). Hoje, são 25 grupos coletores de sementes. Ano passado, as 45 toneladas de sementes coletadas, de mais de 130 espécies, foram um recorde.

As sementes são vendidas para fazendeiros que precisam reflorestar os passivos ambientais de suas propriedades ou para empresas e ONGs. Há ainda parcerias com universidades que fazem estudos genéticos.

A Rede Xingu foi uma das pioneiras na técnica de muvuca, método de restauração em que uma mistura de sementes de diversas espécies nativas é plantada diretamente no solo, substituindo mudas de viveiros.

Amanda Kayabi, de 23 anos, acompanha as coletas desde os 13 e se tornou a primeira mulher a atuar na rede. Ela é responsável por avaliar as produções de nove grupos e cuidar da logística de distribuição.

- Somos guardiões porque nascemos da floresta. As florestas têm suas regras, as sementes têm suas regras. A gente pede permissão para a floresta porque a gente precisa dela para sobreviver - diz Amanda. - Mas, para replantar, precisamos dos laboratórios também, daí vem a combinação entre saber tradicional e ciência formal.

A RSX também realiza pequenas restaurações no território - 9,2 hectares ano passado - e foi selecionada, no edital Floresta Viva, do BNDES, para implementar o projeto Na trilha da Floresta Viva: Restauração Ecológica Socioprodutiva na Bacia do Xingu, com objetivo de restaurar 200 hectares de áreas degradadas nas regiões do Médio e do Alto Xingu, no Pará e em Mato Grosso.

A Rede Sementes do Xingu faz parte do Redário, uma articulação que atualmente reúne mais de 2500 coletores de sementes de espécies nativas, em 27 redesabrangendo 13 estados e cinco biomas. Desde 2019, o coletivo, formado por povos tradicionais, agricultores familiares, coletores urbanos e ONGs, já contribuiram com 638 toneladas de sementes, o suficiente para restaurar 21,5 mil hectares a partir de muvuca. Além da articulação, o Redário atua no mapeamento das áreas de coleta até o transporte, e dá suporte às questões comerciais, legais, e administrativas das redes.

Muitas das redes, como a Tuyguá Sementes (ES), Coopajé Sementes (BA), Terra do Meio (PA), Xingú (MT), Mutum (RO), Portal da Amazônia (MT), Coletores Geraizeiros (MG) e Coletores do Vale do paraíba (SP), coletam e executam projetos de restauração e reflorestamento.

https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/06/05/o-saber-indigena-aliado-a-ciencia-moderna-acoes-protagonizadas-por-povos-tradicionais-restauram-terras-devastadas.ghtml
 

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