De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias

RO: Povo Wajuru denuncia exploração criminosa de território tradicional

21/08/2025

Fonte: A Nova Democracia - https://anovademocracia.com.br



Lideranças Indígenas encaminharam à equipe de AND em Porto Velho, Rondônia, uma série de denúncias que revelam que empresários e latifundiários exploram ilegalmente há quase um século o território tradicional do Povo Wajuru com a conivência e participação direta do Estado. O território, localizado em Porto Rolim do Guaporé, Alta Floresta d'Oeste, desde 2002 está em processo de demarcação, ainda sem avanços concretos.

Há anos, a comunidade indígena denuncia a invasão de grileiros, a construção de pousadas e de prédios de órgãos públicos na terra indígena. Diversas ações, inclusive judiciais, foram movidas pelo povo indígena, onde o Estado teve de reconhecer que diversas construções públicas e privadas estavam sendo realizadas na terra indígena. Contudo, apesar das denúncias, todas as construções foram finalizadas e seguem em funcionamento, entre elas, a agência de defesa sanitária agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (IDARON) e o posto da Polícia Militar Ambiental.

Na região, com o incentivo do município e do governo do Estado, o turismo centrado na pesca e em pousadas à beira do rio Guaporé, barcos-hotéis, e grupos desrespeitosos já afastam animais tradicionais, como o tracajá, impactando na desova dos quelônios, que já não sobem à margem do rio, pela presença de turistas. Esses têm demorado a realizar a desova por conta das mudanças climáticas, como a seca, que tem sido mais duradoura, pelo barulho dos barcos em torno das praias e a presença humana em cima das praias os têm feito migrar para mais distante.

Outros peixes comuns no rio, como o tambaqui, o tucunaré e o pintado, passaram a ser cada vez menos comuns, pois durante o "pesca e solta", os animais feridos se tornam presas de piranhas, também muito comum. A perda de animais tradicionais reflete na alimentação do povo indígena e na manutenção do meio ambiente, isto é, ataca os indígenas e a natureza.

A propaganda de "pesca e solta" esconde, na verdade, uma verdadeira pesca predatória, não apenas de peixes, mas de jacarés, que têm a carne do seu rabo consumida e o corpo jogado ao rio. Ainda, diversos relatos apontam para o fato de indivíduos que frequentam a região pescarem grandes quantidades de peixes.

Da mesma forma, estudos realizados pela Universidade Federal de Rondônia já indicaram contaminação das águas dos poços daquela região e do principal rio, o Guaporé. Para Najela Wajuru, "as águas são contaminadas, pois os dejetos e lixos produzidos pelos barcos-hotéis e os barcos flutuantes na beira do rio são descarregados diretamente nele. As pousadas têm contaminado o meio ambiente e o solo através do descarte irregular de lixo em único lixão". Desta forma, a exploração criminosa do território contamina diretamente os indígenas, que são colocados em situação de extrema vulnerabilidade econômica e social, principalmente o povo Wajuru.

Ainda, há na região um único aterro sanitário, que funciona como verdadeiro lixão a céu aberto, que concentra o lixo produzido pela região, inclusive o lixo hospitalar do posto de saúde voltado aos não-indígenas. A grande quantidade de lixo oferece risco aos moradores, contamina o solo e contribui com a contaminação do lençol freático.

Em meio a isto, o ex-governador do Estado de Rondônia, Ivo Cassol, latifundiário que utiliza de força de trabalho semisservil¹ e foi cassado por compra de votos e ameaça a testemunhas, ocupa extensamente do território tradicional Wajuru com uma fazenda construída em cima de urnas funerárias. Um relatório publicado pelo Conselho Indigenista Missionário afirma que 80% do território tradicional indígena era ocupado pela família Cassol, em 2008, que além de grilar a terra indígena, utiliza as urnas funerárias como adornos para sua fazenda. Além das três fazendas, a pista de pouso exclusiva na fazenda danificou diversas urnas funerárias da região.

Opressão histórica contra o povo indígena Wajuru em Rondônia
A partir da década de 1980, a região às margens do Rio Guaporé que já era explorada por seringais de Borracha, como o Seringal Pernambuco, e que submetia indígenas e não indígenas à intensa exploração semisservil, passa a ser explorada por empreiteiras e construtoras de grande porte a serviço do projeto do Regime Militar de aprofundar a exploração madeireira, agropecuária e mineral.

Em 1982, parte do povo Wajuru foi transferida para o posto indígena multiétnico Ricardo Franco em Guajará-Mirim, criado pelo Serviço de Proteção Indígena. A intenção era concentrar uma grande quantidade de indígenas naquela região para abastecer os seringais locais e "civilizar os indígenas", princípio racista com objetivo de controlar as rebeliões indígenas.

A situação dos povos indígenas em Rondônia pouco mudou com a "redemocratização". Desde 2000, o processo de demarcação da terra indígena se arrasta sem avanços concretos. Sob o dito "governo popular" petista de Luiz Inácio e Dilma Rousseff, onde o território em processo de demarcação dentro de área da União, localizado na bacia amazônica, possui riqueza ancestral, onde diante dos séculos, alguns sítios arqueológicos se mantêm, onde não se sabe por quanto tempo mais se manterá diante do turismo predatório.

Ao longo desses anos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (PHAN), a FUNAI, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério Público, em que pese as visitas sem qualquer resultado concreto, não têm avançado com as duas ordens judiciais que obrigam os órgãos a avançarem com a demarcação e lançarem esforços para encerrar com a invasão do território.

Durante o governo Bolsonaro, entidades representantes dos empresários da região atacaram os povos indígenas que lutaram pelo cumprimento da quarentena e o respeito ao isolamento social. Os empresários e alguns funcionários da Escola Ana Nery não cumpriram a ordem, o que gerou uma perda significativa de indígenas do povo Wajuru.

Omissão do velho Estado e perseguição aberta ao povo indígena
Enquanto os indígenas são perseguidos, a cacica do povo Wajuru necessita de escolta, pois teve sua vida ameaçada dentro e fora do território, e vive sem acesso a direitos básicos. O estado de Rondônia e o Governo Federal seguem incentivando os lucros dos empresários. Cassol segue sem qualquer punição e todos os danos causados pelo Estado, pela prefeitura e pelos invasores ao sítio arqueológico, às urnas funerárias e ao modo de vida do povo Wajuru seguem sem qualquer reparo.

A situação a que estão submetidos os Wajuru naquela região viola os Direitos Humanos e Indígenas. Os próprios indígenas se indignam com o fato que chega ao cúmulo desses exploradores organizados através de uma associação chamada Ecologia dos Rios Mequéns e Guaporé - ECOMEG cobrarem pedágio dentro da área da União.

Os indígenas Wajuru não desejam encerrar as atividades turísticas, mas participar realizando um etnoturismo voltado à preservação do meio ambiente e fortalecer os mesmos economicamente e socialmente no decorrer do processo de demarcação. Os indígenas ainda cobram a intervenção da primeira Superintendência Indígena do Governo do Estado de Rondônia, dirigida por Gasodá Surui, que passa a valer a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, os Artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988. Para as lideranças, esse sonho do povo pode ser construído com apoio das organizações apoiadoras e indígenas do Estado de Rondônia, entre elas a Organização dos Guerreiros Indígenas do Estado de Rondônia (AGIR), o Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, a Organização dos Povos Indígenas de Rondônia, Noroeste do Mato Grosso e Sul do Amazonas (OPIROMA) e a Kanindé.

¹ Em entrevista à pesquisadora Maria Gracineide Rodrigues, Maura Wajuru afirmou que "Aqui quando chegou o pessoal [seringais] ]a gente já fugiu foi pro Serrito, do Serrito fizeram uma matança, mataram 200 Wajuru, de lá já viemo corrido de novo do Serrito, já nós fiquemo aqui, os outros parente e daqui nós vamo pra onde? Nós tem que ficar é aqui, mataram muito dos nosso parente, muito, muito mesmo, aonde pessoal aqui mesmo escravizou, mataram um sobrinho meu, mataram meu pai, tudo isso". A anciã Wajuru relata os massacres ocorridos com a colonização da região nas décadas de 1930 a 1940 como resultado da política varguista de exploração de látex natural para abastecimento estadunidense na Segunda Guerra Mundial.

https://anovademocracia.com.br/wajuru-denuncia-exploracao-territorio-ro/
 

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