De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
PR: Justiça Condena Cacique Indígena que se defendeu de ataque da Força Nacional
12/09/2025
Fonte: A Nova Democracia - https://anovademocracia.com.br
A velha Justiça Federal condenou o cacique Avá Guarani Izaias Benites a 15 anos e 10 meses de prisão após este resistir a um ataque armado da Força Nacional, acompanhada por latifundiários, à retomada territorial da Tekoha Arakoê, em Terra Roxa (PR).
O conflito ocorreu durante patrulhamento da Força Nacional na área onde indígenas Avá-Guarani realizam retomada territorial da Tekoha Arakoê. Segundo a sentença, Izaias teria subtraído fuzil de viatura policial e tentado efetuar disparos contra os agentes. A defesa contesta a versão oficial, alegando que os policiais atacaram primeiro a comunidade indígena.
Latifundiário acompanhou Operação Policial
Um dos elementos mais reveladores do caso é a presença do fazendeiro Jean Paulo Rodolfo Ferreira, proprietário da Fazenda Brilhante, durante a operação policial. Ferreira não apenas acompanhou a ação como "realizou o registro audiovisual do momento do conflito", conforme consta na própria sentença judicial.
A presença do latifundiário em território indígena ao lado da força policial evidencia o caráter de classe da operação. Em vez de mediar o conflito de forma supostamente imparcial, a Força Nacional atuou como força de proteção dos interesses privados do fazendeiro contra a comunidade indígena que reivindica suas terras ancestrais.
Histórico de Violência da Força Nacional
O grupo da Força Nacional envolvido no confronto já havia protagonizado outros episódios de violência contra indígenas na região. Segundo relatos das comunidades, esse mesmo contingente foi responsável por espancamentos e agressões contra os povos originários antes do incidente de setembro.
A própria sentença menciona que "desde dezembro de 2023, surgiram conflitos relacionados à ocupação de terras por grupos indígenas em Guaíra/PR e Terra Roxa/PR", demonstrando que a tensão na região não é episódica, mas resultado da resistência indígena ao avanço do latifúndio sobre seus territórios tradicionais.
Versão do Cacique Contradiz Acusação
Em entrevista exclusiva ao jornal A Nova Democracia no dia 25 de setembro de 2024, o cacique Izaias Benites apresentou uma versão completamente distinta dos fatos:
"A gente percebe que alguém da força nacional não é a favor de indígena, defende o 'proprietário', defende o fazendeiro. A gente entende que não devem escutar só um lado, mas que devem escutar a gente, para não acontecer algo que não era para acontecer. Mas nesse momento que aconteceu durante o ataque, em que a força nacional entra assim, queriam fazer alguma coisa com a comunidade indígena, por isso no primeiro passo expulsamos a Força Nacional. Pois eles deram 4 tiros, 2 tiros contra uma jovem, atiraram para matar mesmo e 2 tiros de cima. E daí a gente tomou o fuzil deles. E a gente falou para o pessoal, que não podia fazer isso. Chegaram com brutalidade, chegou com camioneta brutal, e queria passar por cima das comunidades indígenas, daí a comunidade não está recuando e aconteceu isso, daí a gente conversou com o chefe, ou tenente ou responsável da força nacional, que transferiu para algum lugar esse pessoal, que estava no meio e não estava gostando dos indígenas."
Criminalização da Luta pela Terra e Resistência Indígena
A condenação de Izaias Benites se insere no contexto mais amplo de criminalização dos movimentos de luta pela terra. Enquanto latifundiários utilizam pistoleiros para atacar comunidades indígenas sem qualquer consequência judicial, lideranças que defendem seus territórios ancestrais são tratadas como criminosas pelo sistema judiciário.
O caso expõe como o aparato repressivo do Estado opera em defesa dos interesses do agronegócio, transformando legítima defesa territorial em crime contra o patrimônio. A própria tipificação do delito - "roubo qualificado" - revela o viés ideológico da acusação, que trata a reação defensiva indígena como crime contra a propriedade privada.
Essa inversão perversa da realidade se repete sistematicamente na região. Este ano, dois jovens indígenas foram decapitados no oeste paranaense, vítimas do mesmo ódio racial promulgado pelos braços armados do latifúndio.
No sul da Bahia, uma situação semelhante acometeu os povos Pataxó. O Cacique Wellington Braz, chefe do Conselho dos Caciques Pataxó, conhecido como Cacique Suruí, foi preso em uma emboscada da Força Nacional, acusado de organizar a autodefesa Pataxó contra bandos paramilitares do latifúndio, como o chamado "Invasão Zero". Dias após a prisão da liderança Pataxó, paramilitares armados assassinaram covardemente dois jovens guerreiros Pataxós.
Nenhuma investigação, seja no oeste paranaense, seja no sul da Bahia, conduziu sequer a indiciamentos satisfatórios dos verdadeiros responsáveis, enquanto membros das comunidades indígenas são presos previamente a cada conflito.
Toda essa dinâmica demonstra a atuação organizada da polícia política conhecida como "Força Nacional", que para além das tentativas de encarceramento e ataques diretos contra aqueles que lutam contra a opressão, ainda promove campanha sistemática de desmoralização das lideranças e, principalmente, das lutas que representam. Quase que de imediato, a falácia do monopólio de imprensa transmuta todo o eixo dos casos em um espetáculo de criminalização, construindo um mundo invertido onde os policiais - braços armados do Estado latifundiário - aparecem como "vítimas" do povo que resiste com paus, pedras, tochas e arcos contra o despojo de suas terras históricas.
https://anovademocracia.com.br/pr-condena-cacique-indigena-forca-nacional/
O conflito ocorreu durante patrulhamento da Força Nacional na área onde indígenas Avá-Guarani realizam retomada territorial da Tekoha Arakoê. Segundo a sentença, Izaias teria subtraído fuzil de viatura policial e tentado efetuar disparos contra os agentes. A defesa contesta a versão oficial, alegando que os policiais atacaram primeiro a comunidade indígena.
Latifundiário acompanhou Operação Policial
Um dos elementos mais reveladores do caso é a presença do fazendeiro Jean Paulo Rodolfo Ferreira, proprietário da Fazenda Brilhante, durante a operação policial. Ferreira não apenas acompanhou a ação como "realizou o registro audiovisual do momento do conflito", conforme consta na própria sentença judicial.
A presença do latifundiário em território indígena ao lado da força policial evidencia o caráter de classe da operação. Em vez de mediar o conflito de forma supostamente imparcial, a Força Nacional atuou como força de proteção dos interesses privados do fazendeiro contra a comunidade indígena que reivindica suas terras ancestrais.
Histórico de Violência da Força Nacional
O grupo da Força Nacional envolvido no confronto já havia protagonizado outros episódios de violência contra indígenas na região. Segundo relatos das comunidades, esse mesmo contingente foi responsável por espancamentos e agressões contra os povos originários antes do incidente de setembro.
A própria sentença menciona que "desde dezembro de 2023, surgiram conflitos relacionados à ocupação de terras por grupos indígenas em Guaíra/PR e Terra Roxa/PR", demonstrando que a tensão na região não é episódica, mas resultado da resistência indígena ao avanço do latifúndio sobre seus territórios tradicionais.
Versão do Cacique Contradiz Acusação
Em entrevista exclusiva ao jornal A Nova Democracia no dia 25 de setembro de 2024, o cacique Izaias Benites apresentou uma versão completamente distinta dos fatos:
"A gente percebe que alguém da força nacional não é a favor de indígena, defende o 'proprietário', defende o fazendeiro. A gente entende que não devem escutar só um lado, mas que devem escutar a gente, para não acontecer algo que não era para acontecer. Mas nesse momento que aconteceu durante o ataque, em que a força nacional entra assim, queriam fazer alguma coisa com a comunidade indígena, por isso no primeiro passo expulsamos a Força Nacional. Pois eles deram 4 tiros, 2 tiros contra uma jovem, atiraram para matar mesmo e 2 tiros de cima. E daí a gente tomou o fuzil deles. E a gente falou para o pessoal, que não podia fazer isso. Chegaram com brutalidade, chegou com camioneta brutal, e queria passar por cima das comunidades indígenas, daí a comunidade não está recuando e aconteceu isso, daí a gente conversou com o chefe, ou tenente ou responsável da força nacional, que transferiu para algum lugar esse pessoal, que estava no meio e não estava gostando dos indígenas."
Criminalização da Luta pela Terra e Resistência Indígena
A condenação de Izaias Benites se insere no contexto mais amplo de criminalização dos movimentos de luta pela terra. Enquanto latifundiários utilizam pistoleiros para atacar comunidades indígenas sem qualquer consequência judicial, lideranças que defendem seus territórios ancestrais são tratadas como criminosas pelo sistema judiciário.
O caso expõe como o aparato repressivo do Estado opera em defesa dos interesses do agronegócio, transformando legítima defesa territorial em crime contra o patrimônio. A própria tipificação do delito - "roubo qualificado" - revela o viés ideológico da acusação, que trata a reação defensiva indígena como crime contra a propriedade privada.
Essa inversão perversa da realidade se repete sistematicamente na região. Este ano, dois jovens indígenas foram decapitados no oeste paranaense, vítimas do mesmo ódio racial promulgado pelos braços armados do latifúndio.
No sul da Bahia, uma situação semelhante acometeu os povos Pataxó. O Cacique Wellington Braz, chefe do Conselho dos Caciques Pataxó, conhecido como Cacique Suruí, foi preso em uma emboscada da Força Nacional, acusado de organizar a autodefesa Pataxó contra bandos paramilitares do latifúndio, como o chamado "Invasão Zero". Dias após a prisão da liderança Pataxó, paramilitares armados assassinaram covardemente dois jovens guerreiros Pataxós.
Nenhuma investigação, seja no oeste paranaense, seja no sul da Bahia, conduziu sequer a indiciamentos satisfatórios dos verdadeiros responsáveis, enquanto membros das comunidades indígenas são presos previamente a cada conflito.
Toda essa dinâmica demonstra a atuação organizada da polícia política conhecida como "Força Nacional", que para além das tentativas de encarceramento e ataques diretos contra aqueles que lutam contra a opressão, ainda promove campanha sistemática de desmoralização das lideranças e, principalmente, das lutas que representam. Quase que de imediato, a falácia do monopólio de imprensa transmuta todo o eixo dos casos em um espetáculo de criminalização, construindo um mundo invertido onde os policiais - braços armados do Estado latifundiário - aparecem como "vítimas" do povo que resiste com paus, pedras, tochas e arcos contra o despojo de suas terras históricas.
https://anovademocracia.com.br/pr-condena-cacique-indigena-forca-nacional/
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