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Mesmo com queda histórica nas emissões, agronegócio mantém Brasil fora da meta climática

03/11/2025

Autor: Fábio Bispo

Fonte: InfoAmazonia - https://infoamazonia.org



Relatório mostra que a redução foi puxada pelo controle do desmatamento em 2024. Ainda assim, mais da metade das emissões seguem concentradas na Amazônia, aponta o Sistema Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, ferramenta do Observatório do Clima.

O Brasil registrou, em 2024, a maior queda nas emissões de gases de efeito estufa em 16 anos - uma redução de 16,7% em relação a 2023, segundo novos dados do Sistema Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), plataforma da rede Observatório do Clima (OC), divulgados nesta segunda-feira (03). No ano passado, foram liberadas 2,145 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente (GtCO₂e), contra 2,576 GtCO2e do ano anterior.

A maior parte das emissões brasileiras tem origem na Amazônia, responsável por 58% do total nacional. O levantamento do SEEG divide as emissões em cinco setores: mudança de uso da terra (desmatamento), agropecuária, energia, resíduos e processos industriais. Entre eles, o desmatamento ainda representa a maior parcela das emissões do país (42%), mas também foi o setor que apresentou a maior redução entre 2023 e 2024, de 32,5%.

Na sequência, estão as emissões da agropecuária, com 29% do total nacional; as de energia, com 20%; resíduos, com 4,46%; processos industriais, 4,39%. Embora o agronegócio ocupe o segundo lugar entre os setores que mais emitem diretamente no país, a atividade também responde, de forma indireta, pela maior parte do desmatamento - e, consequentemente, pelo carbono contabilizado no setor de mudança de uso da terra.

As emissões diretas e indiretas do agro correspondem a dois terços do carbono lançado pelo Brasil. Para Priscila Alves, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), responsável pela contabilização das emissões do setor agropecuário, os dados evidenciam a necessidade de maior preocupação com "uma produção agropecuária ambientalmente sustentável".

Diferente das emissões por desmatamento, as emissões da agropecuária se mantiveram praticamente estáveis, com uma pequena queda de 0,7%. Energia teve uma alta de 0,8%, assim como processos industriais, que cresceu 2,8% e resíduos, com alta de 3,6%.

Só a pecuária foi responsável por 404 MtCO₂e provenientes da fermentação entérica - o chamado "arroto do boi"- que libera metano, gás cerca de 28 vezes mais potente que o dióxido de carbono. Se fosse um país, "o boi brasileiro seria o sétimo maior emissor do mundo, ligeiramente à frente do Japão (1,068 GtCO2e)", destaca o relatório.

Na avaliação da especialista, o setor só vai conseguir reduzir suas emissões quando der escala às boas iniciativas que já como as pastagens de alto vigor e o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta.

Metas ameaçadas e a dependência do desmatamento
O secretário executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, destacou que o corte histórico nas emissões revela que as políticas de combate ao desmatamento estão funcionando, mas pondera que essa redução precisa ocorrer também nos outros setores para que o país possa atingir suas metas.

Mesmo com essa queda em 2024, a projeção do SEEG indica que o Brasil não cumprirá a própria Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) para 2025 - plano de ação climática nacional para cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 oC.

A meta brasileira era chegar, em 2025, em uma emissão de 1,32 GtCO₂e líquidas. No entanto, a estimativa é fechar o ano em 1,44 GtCO₂e, muito por conta da estagnação dos cortes no agro, energia, resíduos e indústria.

"Na projeção, o Brasil não vai conseguir cumprir sua meta, mas fica muito próximo. Esse muito próximo está basicamente ligado ao não desempenho dos demais setores, que não é o setor de florestas, de desmatamento. Se o setor de agropecuária e o setor de energia tivessem o mesmo desempenho, a gente teria na projeção números melhores", afirmou Astrini.

Na projeção, o Brasil não vai conseguir cumprir sua meta, mas fica muito próximo. Esse muito próximo está basicamente ligado ao não desempenho dos demais setores, que não é o setor de florestas, de desmatamento. Se o setor de agropecuária e o setor de energia tivessem o mesmo desempenho, a gente teria na projeção números melhores.

Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima
Os especialistas do SEEG apontam que apesar da queda das emissões por desmatamento, o país está próximo de um teto de corte nas emissões em mudança de uso da terra. Eles apontam que iniciativas do próprio governo podem atrapalhar o caminho ao desmatamento zero anunciado como meta até 2030.

A principal delas é a BR-319, a rodovia Porto Velho-Manaus, cujo asfaltamento, defendido pelo governo federal, tem potencial de implodir o controle do desmatamento na Amazônia. A licença prévia para a obra foi concedida ilegalmente pelo governo de Jair Bolsonaro e, hoje, está suspensa pela Justiça. Ela pode, porém, ser destravada caso o Congresso derrube os vetos do presidente Lula à Lei Geral do Licenciamento, o PL da Devastação.

Outra obra federal com potencial de pressionar as florestas é a Ferrogrão, que levará soja de Mato Grosso ao Tapajós e deve causar uma expansão da produção no sul do Pará.

Petróleo e queimadas: vilões não contabilizados
O relatório do SEEG também calculou adicionalmente as emissões provocadas por queimadas, que não são contabilizadas no inventário nacional, documento oficial do governo federal que reúne e organiza os dados sobre quanto o país emite e remove gases de efeito estufa.

Em 2024, a Amazônia teve a maior área queimada da história. Segundo os especialistas do OC, só as emissões por fogo foram de 241 MtCO2e, praticamente a mesma quantidade que as emissões por desmatamento, que foram de 249 MtCO2e.

"Se o inventário considerasse normalmente essas emissões [de fogo] em sua conta, elas aumentariam em média entre 20% e 30% do setor [de mudanças de uso da terra]. Só que, em 2024, as queimadas chegaram a quase 100% das emissões líquidas do setor, e a gente praticamente teria duplicado essas emissões", explica Bárbara Zimbres, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Até o momento, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) ainda não inclui esses incêndios como fonte obrigatória nos inventários nacionais.

O SEEG também destaca as emissões associadas ao petróleo extraído no Brasil e exportado para outros países. Em 2024, a exportação de óleo cru atingiu um novo recorde histórico, chegando a 85 milhões de toneladas. Esse volume pode resultar em uma emissão estimada de 260 MtCO₂e, contabilizada nas estatísticas de outros países e, portanto, fora das metas de redução brasileiras.

"Não conta para a nossa emissão, mas esse carbono é emitido em algum lugar quando o petróleo brasileiro é queimado", afirma Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do Instituto de Energia e Ambiente (Iema).

Houve uma queda na liberação de carbono ligada ao transporte de passageiros - consequência do consumo recorde de etanol e do avanço dos biocombustíveis. Em contrapartida, as emissões na geração de energia elétrica aumentaram, impulsionadas pelas termelétricas a gás. O subsetor de geração de eletricidade registrou um crescimento de 17%.

https://infoamazonia.org/2025/11/03/mesmo-com-queda-historica-nas-emissoes-agronegocio-mantem-brasil-fora-da-meta-climatica/
 

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