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Indígenas e quilombolas buscam visibilidade na Zona Verde

10/11/2025

Autor: Giovanny Vera

Fonte: Amazonia Real - https://amazoniareal.com.br



Belém (PA)- A 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima começou nesta segunda-feira (10), reunindo negociadores governamentais de todo o mundo na Zona Azul e abrindo também as portas da Zona Verde. Nesse espaço, participam representantes da sociedade civil, instituições públicas e privadas, comunidades tradicionais, empresas e outros participantes - estrangeiros, brasileiros e moradores locais.

A Zona Verde é um ambiente voltado ao diálogo, à conexão e à troca de experiências sobre temas relacionados às mudanças climáticas. "O que precisamos é ser enxergados e nossos direitos poderem valer no nosso território", afirmou Edmilson Karipuna, coordenador do Conselho de Caciques dos Povos Indígenas de Oiapoque (CCPIO), sintetizando o tom de parte das reivindicações desses povos originários que, assim como os quilombolas, buscam apoio e alianças para fortalecer suas pautas.

A declaração do cacique aconteceu durante o debate "A resposta somos nós: participação dos povos na COP30 - iniciativas do território como propostas para a conferência", que contou com a presença de lideranças indígenas da Panamazônia no estande do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público do Trabalho (MPT), localizado no Pavilhão do Círculo dos Povos.

Saberes tradicionais como resposta à crise climática

O encontro teve como objetivo ouvir diretamente os povos indígenas, permitindo que as próprias comunidades compartilhassem suas experiências em relação às mudanças climáticas e apresentassem as soluções que já estão concebendo e implementando.

Segundo Luene Karipuna, coordenadora executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp), o espaço foi construído de forma conjunta. "Isso para demostrar que a resposta somos nós, não apenas a partir das iniciativas dos nossos territórios, mas também a partir do lançamento do que estamos chamando de NDC Indígena", afirmou.

A NDC indígena representa as formas como os povos indígenas contribuem para a proteção do território e para o enfrentamento da crise climática, a partir de conhecimentos conectados à floresta, ao território e ao manejo de plantas nativas. "Agora é o momento de conectar os conhecimentos tradicionais, mas também sensibilizar e unir esforços com parceiros como o MPF para efetivar políticas que vão além de uma COP, que discute questões globais. Queremos discutir a implementação de soluções concretas aqui no Brasil", explicou Luene.

Já o cacique abordou as dificuldades enfrentadas pelos povos indígenas do Amapá em relação às suas reivindicações, destacando as ameaças e a ausência de respostas sobre a BR-156 - rodovia que corta as terras indígenas Uaçá, Galibi e Juminá. Há mais de 70 anos, essas comunidades aguardam medidas de compensação ou mitigação pelos impactos causados pela estrada.

"Hoje, o que tira o nosso sossego é a exploração de petróleo chegando muito próximo da nossa região, das três terras indígenas", afirmou. Segundo ele, após uma reunião com o governo do estado em busca de diálogo e apoio para garantir a consulta aos povos indígenas, não houve avanços. Por isso, a participação em espaços como a COP30 é fundamental para estabelecer parcerias e denunciar as violações de direitos que continuam ocorrendo.

"Esse é o papel do MPF e das demais instituições do poder público: ouvir os povos tradicionais", explicou o Procurador da República Rafael Martins. Segundo ele, o apoio dessas instituições deve hoje ter um alcance mais amplo e atualizado, reconhecendo que a proteção dos territórios das comunidades tradicionais é essencial para a adaptação e mitigação frente às mudanças climáticas. "Queremos entender como eles sobrevivem nos territórios dessa maneira, para que possamos ajudá-los, protegendo-os - e também nos proteger", acrescentou.

A força das mulheres quilombolas na luta climática

No evento "Território, Tecnologias Ancestrais e Justiça Climática: caminhos tecidos pelas mulheres quilombolas frente à mudança global do clima", mulheres quilombolas do Pará debateram temas como território, tecnologias ancestrais e justiça climática.

Elas compartilharam suas vivências como mulheres e lideranças formadas desde a infância em seus territórios, guiadas pelos saberes transmitidos pelos mais velhos e buscando construir soluções próprias para a crise climática.

Nas comunidades quilombolas, essas práticas tradicionais e conhecimentos ancestrais seguem como fontes de inspiração e fortalecimento coletivo. "Plantando, colhendo e mantendo a floresta em pé, porque a floresta em pé para nós é prioridade, ela significa vida e resistência", afirmou Elida Monteiro, liderança do quilombo Itancuã Miri, em Acará.

Para Keila Couto, da comunidade de Igarapé São João, em Abaetetuba, a invisibilidade das comunidades quilombolas é um desafio histórico, agravado agora pela impossibilidade de estarem presentes na Zona Azul. Ainda assim, ela ressalta que participar da COP30, mesmo na Zona Verde, é uma forma de romper esse silêncio. "É furar essa bolha, como fizeram minhas colegas que também se colocaram e se fizeram presentes aqui. É tentar colocar a nossa voz para que a nossa invisibilidade, de alguma forma, seja quebrada", afirmou.

Já Samilly Valadares, do Quilombo Oxalá de Jacunday, destacou que, desde que se entendem como pessoas, as mulheres quilombolas - benzedeiras, parteiras e contadoras de histórias - têm ensinado como devem se colocar no planeta. Para ela, o papel dessas mulheres é abrir caminhos para que o mundo continue sendo mundo. "Porque sem nós, sem a presença dessas mulheres quilombolas, indígenas, mulheres negras, periféricas, e que estão na base, de fato, não tem como construir caminhos para combater os impactos das mudanças climáticas", concluiu.

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