De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Fome mata mais uma crianca india em MS
22/02/2005
Fonte: FSP, Brasil, p.A7
Fome mata mais uma criança índia em MS
Menina de seis meses é a terceira a morrer de desnutrição no Estado neste ano; em 2004, foram 15 casos
Hudson Corrêa
Da Agência Folha, em Campo Grande
A desnutrição causou a morte de mais uma criança índia da etnia caiuá em Dourados (218 km de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul). "A desnutrição levou à diarréia e à desidratação, e a criança morreu", afirmou ontem o médico Zélik Trajber, 58, que presta serviço de assistência na aldeia para a Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
A menina Kelly Fernandes, que tinha seis meses e 15 dias de vida, morreu no sábado pela manhã no Hospital da Mulher localizado na cidade, mas a morte só foi confirmada ontem pela Funasa. O bebê estava internado havia nove dias.
É o terceiro caso de morte por desnutrição neste ano nas aldeias de Dourados.
As outras vítimas foram uma menina de três anos e 11 meses, em fevereiro, e um bebê de oito meses em janeiro. Os dois também eram caiuás. Em 2004, ocorreram 15 mortes devido à fome nas aldeias do sul do Estado.
O médico Helder Lúcio Ganacin, 33, também da Funasa, e Trajber informaram que no atestado de óbito constará como causa da morte desidratação e diarréia. Ganacin e Trajber disseram que a desnutrição tornou a criança mais vulnerável às doenças, porém não aparecerá como motivo da morte.
No atestado de óbito das outras duas crianças que morreram neste ano a desnutrição aparece como causa direta.
Kelly Fernandes morava na aldeia Bororó ao lado de um posto de saúde. Ela era sobrinha do capitão (líder indígena máximo) Luciano Arévolo.
"A família resistia para internar a criança. Apesar de serem pessoas esclarecidas. Não entendi isso", afirmou o vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, o índio terena Fernando da Silva Souza, 37.
Segundo ele, com muita dificuldade os agentes de saúde conseguiram convencer os pais a internar a criança.
O capitão da aldeia de Caarapó, Sílvio Paulo, 45, afirma que, na cultura indígena, os pais costumam chamar diarréia em crianças de "kuaia virado", doença curada pelos líderes religiosos que no tratamento batem nos pés das crianças durante rituais.
Paulo disse que é preciso conversar com as famílias para convencê-las a levar os bebês doentes ao médico.
Ganacin e Trajber preferem não comentar esses aspectos da cultura dos guaranis e caiuás. A Funasa tem dados sobre a fome.
Mortalidade infantil
Em Dourados vivem 11 mil índios das etnias guarani, caiuá e terena, em uma área onde deveriam estar no máximo 200 famílias. Falta terra para plantar.
Segundo a Funasa, na reserva indígena de Dourados 12% dos índios menores de cinco anos de idade, ou 232 crianças, estão desnutridas, e 19% (357) vivem em risco nutricional, ou seja, abaixo do peso considerado normal.
Em 2004, o índice de mortalidade infantil aumentou 15% nas aldeias de Dourados, passando a 64,33 por mil nascidos vivos. A média brasileira é, segundo o Ministério da Saúde, de 24 por mil.
A situação em Dourados é, contudo, menos grave que nas aldeias dos guaranis e caiuás, localizadas mais ao sul do Estado.
Em Amambai, 331 (19% da aldeia) crianças estão desnutridas, e outras 306 (18%), em risco nutricional. A mortalidade infantil chegou a 96,47 por mil nascidos vivos. Em Tacuru, a mortalidade triplicou, indo a 94,34.
Mortalidade cresce por mudanças na Funasa, diz índio
Da Agência Folha, em Dourados (MS)
O vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, o índio Fernando da Silva Souza, 37, diz que a mortalidade infantil aumentou nas aldeias porque houve "aparelhamento" na Funasa (Fundação Nacional de Saúde) -cargos preenchidos por critérios políticos.
Segundo Souza, funcionários dos pólos distritais perderam cargos devido a indicações a partir de 2003.
O médico Zelik Trajber, 58, que presidiu o conselho e atende crianças índias em Dourados no PSFI (Programa de Saúde Familiar Indígena), afirma que a mudança na Funasa afetou o trabalho de assistência médica.
O conselho é formado por índios, agentes da Funasa e médicos. Segundo Trajber, médicos não têm como socorrer crianças em desnutrição severa nas aldeias.
O Ministério do Desenvolvimento Social criou em 2003 o programa Fome Zero Indígena, repassando R$ 5 milhões ao governo de Mato Grosso do Sul.
Essa verba, segundo o ministério, foi destinada à compra de sementes, maquinários agrícolas e adubos, atendendo 11 mil famílias indígenas.
A responsabilidade pela implantação do programa é do governo de Mato Grosso do Sul, que se comprometeu a aplicar mais R$ 500 mil.
"Não temos dez hectares de arroz plantado por falta de trator. Três tratores estão parados na oficina por falta de pagamento da Funai", disse o vice-capitão (líder indígena) da aldeia Bororó, o caiuá Assunção Cáceres, 53.
O presidente do Conselho dos Direitos Indígenas, o caiuá Sílvio Paulo, 45, afirma que as sementes chegam fora de hora do plantio nas aldeias e falta trator para espalhar calcário pela terra.
O caiuá Carlinhos Gonçalves, 23, disse que comprou 30 litros de óleo diesel para trabalhar a terra, plantando milho, mas faltou o trator.
Outro lado
O diretor nacional do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Alexandre Padilha, diz que não existe interferência política no órgão e na área de assistência.
"Tivemos uma reunião do Conselho Distrital [de Saúde Indígena] que aprovou não só a permanência dos chefes dos pólos distritais como a do coordenador regional da Funasa [Gaspar Hickmann]", disse Padilha.
"Houve apenas substituições de três profissionais de saúde e todas foram solicitadas pela comunidade indígena", acrescentou o diretor.
Na quinta-feira passada, em reunião com líderes indígenas em Campo Grande, Padilha disse que não aceita mais tratar de "picuinhas".
Hickmann, sindicalista ligado ao PT, atribuiu a acusação de aparelhamento da Funasa à disputa política entre lideranças indígenas de Dourados. (HC)
Índios recorrem a lixão para sobreviver
Da Agência Folha, em Dourados (MS)
Índios guaranis e caiuás da reserva de Dourados (218 km de Campo Grande) recorrem até a um lixão para sobreviver. As crianças desses povos são as mais atingidas por desnutrição e mortalidade infantil no país.
No depósito de lixo a 16 km das aldeias, já dentro do município de Itaporã, índios recolhem roupas, madeira, latinhas ou papelões para vender, qualquer utensílio doméstico e até, segundo o prefeito da cidade, Marcos Antônio Paco (PFL), "restos de comida".
Na quinta-feira à tarde, a reportagem encontrou no lixão a caiuá Elisabete Arce, 18. Ela disse que não recebe cesta básica do governo estadual.
Estava com dois irmãos adolescentes e outro, de sete anos, que carregava no meio do lixo a filha de Elisabete, de oito meses. A criança tinha na boca uma mamadeira suja. "Na aldeia falta de tudo. Até calcinhas. Por isso viemos aqui", diz a irmã de Elisabete, sem falar o nome.
No dia seguinte, a reportagem voltou ao lixão. Encontrou o casal Leila, 25, e Gilson da Silva, 32. Os dois estavam catando sacos de estopa, segundo eles, para embalar o milho que vão produzir em um hectare que têm na aldeia. "Eu não trago minhas crianças aqui. Nem cato comida", diz Leila, mãe de seis filhos menores de 13 anos.
O médico Antônio Aurélio Teixeira de Carvalho Neto, que atende crianças nas aldeias, disse que índios freqüentam lixões. Seu colega Zelik Trajber recebeu de uma agente comunitária a mesma notícia na sexta-feira.
O prefeito disse que está cercando o local, construindo guarita e deve contratar um segurança para impedir a entrada de catadores.
Nas aldeias Jaguapiru e Bororó, que formam a reserva de Dourados, faltam rios e córregos próximos às casas. Alguns índios pescam lambaris em poças de água barrenta para garantir o almoço.
Outros caminham mais de uma hora em busca de água fresca trazida em galões de córrego, mas que chega quente aos barracos de lona cobertos por sapé onde estão crianças, algumas desnutridas.
É o caso da índia caiuá Ediléia da Silva Isnarde, 18, mãe de Graciele, 2, e Islaine, 1. A primeira criança pesa 9 kg, mas deveria ter 12 kg. A segunda tem 6 kg, segundo a mãe, porém o peso ideal para a idade é no mínimo 9 kg.
A casa de Ediléia, que hoje recebe uma cesta básica do governo estadual, é formada por pedaços de madeira, lona preta e sapé. É semelhante à boa parte das casas nas aldeias de Dourados. Em volta delas, o matagal perde-se de vista. Em meio dele, resistem algumas plantações de milho.
Juntas, as aldeias têm 3.600 hectares (cada hectare tem 10.000 m2). Nas duas, vivem cerca de 11 mil indígenas, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), incluindo a etnia terena, além da guarani e caiuá. Se fosse um assentamento da reforma agrária, caberia cerca de 200 famílias de trabalhadores com lotes de 20 ha.
O caiuá Carlinhos Gonçalves, 23, que mora com mulher e duas crianças menores de quatro anos, tem apenas dois hectares.
Sem poder plantar, o caiuá Sérgio Cabreira, 30, virou servente de pedreiro na cidade e tem renda mensal de R$ 280. A mulher dele, Dalila, 26, mãe de quatro crianças, diz que a cesta básica do governo dura só dez dias. Ela mostra o que ainda resta de alimento da cesta ao lado de 30 kg de arroz comprados com dinheiro de Cabreira.
Para garantir o almoço, Ambrósio de Araújo, 18, e sua mulher, Silvana, 16, com a filha Nádia, de dois meses, pescavam lambari em uma poça barrenta que aflora do lençol freático na última sexta-feira. Usava um saco como rede para pegar lambaris. (HC)
FSP, 22/02/2005, p.A7
Menina de seis meses é a terceira a morrer de desnutrição no Estado neste ano; em 2004, foram 15 casos
Hudson Corrêa
Da Agência Folha, em Campo Grande
A desnutrição causou a morte de mais uma criança índia da etnia caiuá em Dourados (218 km de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul). "A desnutrição levou à diarréia e à desidratação, e a criança morreu", afirmou ontem o médico Zélik Trajber, 58, que presta serviço de assistência na aldeia para a Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
A menina Kelly Fernandes, que tinha seis meses e 15 dias de vida, morreu no sábado pela manhã no Hospital da Mulher localizado na cidade, mas a morte só foi confirmada ontem pela Funasa. O bebê estava internado havia nove dias.
É o terceiro caso de morte por desnutrição neste ano nas aldeias de Dourados.
As outras vítimas foram uma menina de três anos e 11 meses, em fevereiro, e um bebê de oito meses em janeiro. Os dois também eram caiuás. Em 2004, ocorreram 15 mortes devido à fome nas aldeias do sul do Estado.
O médico Helder Lúcio Ganacin, 33, também da Funasa, e Trajber informaram que no atestado de óbito constará como causa da morte desidratação e diarréia. Ganacin e Trajber disseram que a desnutrição tornou a criança mais vulnerável às doenças, porém não aparecerá como motivo da morte.
No atestado de óbito das outras duas crianças que morreram neste ano a desnutrição aparece como causa direta.
Kelly Fernandes morava na aldeia Bororó ao lado de um posto de saúde. Ela era sobrinha do capitão (líder indígena máximo) Luciano Arévolo.
"A família resistia para internar a criança. Apesar de serem pessoas esclarecidas. Não entendi isso", afirmou o vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, o índio terena Fernando da Silva Souza, 37.
Segundo ele, com muita dificuldade os agentes de saúde conseguiram convencer os pais a internar a criança.
O capitão da aldeia de Caarapó, Sílvio Paulo, 45, afirma que, na cultura indígena, os pais costumam chamar diarréia em crianças de "kuaia virado", doença curada pelos líderes religiosos que no tratamento batem nos pés das crianças durante rituais.
Paulo disse que é preciso conversar com as famílias para convencê-las a levar os bebês doentes ao médico.
Ganacin e Trajber preferem não comentar esses aspectos da cultura dos guaranis e caiuás. A Funasa tem dados sobre a fome.
Mortalidade infantil
Em Dourados vivem 11 mil índios das etnias guarani, caiuá e terena, em uma área onde deveriam estar no máximo 200 famílias. Falta terra para plantar.
Segundo a Funasa, na reserva indígena de Dourados 12% dos índios menores de cinco anos de idade, ou 232 crianças, estão desnutridas, e 19% (357) vivem em risco nutricional, ou seja, abaixo do peso considerado normal.
Em 2004, o índice de mortalidade infantil aumentou 15% nas aldeias de Dourados, passando a 64,33 por mil nascidos vivos. A média brasileira é, segundo o Ministério da Saúde, de 24 por mil.
A situação em Dourados é, contudo, menos grave que nas aldeias dos guaranis e caiuás, localizadas mais ao sul do Estado.
Em Amambai, 331 (19% da aldeia) crianças estão desnutridas, e outras 306 (18%), em risco nutricional. A mortalidade infantil chegou a 96,47 por mil nascidos vivos. Em Tacuru, a mortalidade triplicou, indo a 94,34.
Mortalidade cresce por mudanças na Funasa, diz índio
Da Agência Folha, em Dourados (MS)
O vice-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, o índio Fernando da Silva Souza, 37, diz que a mortalidade infantil aumentou nas aldeias porque houve "aparelhamento" na Funasa (Fundação Nacional de Saúde) -cargos preenchidos por critérios políticos.
Segundo Souza, funcionários dos pólos distritais perderam cargos devido a indicações a partir de 2003.
O médico Zelik Trajber, 58, que presidiu o conselho e atende crianças índias em Dourados no PSFI (Programa de Saúde Familiar Indígena), afirma que a mudança na Funasa afetou o trabalho de assistência médica.
O conselho é formado por índios, agentes da Funasa e médicos. Segundo Trajber, médicos não têm como socorrer crianças em desnutrição severa nas aldeias.
O Ministério do Desenvolvimento Social criou em 2003 o programa Fome Zero Indígena, repassando R$ 5 milhões ao governo de Mato Grosso do Sul.
Essa verba, segundo o ministério, foi destinada à compra de sementes, maquinários agrícolas e adubos, atendendo 11 mil famílias indígenas.
A responsabilidade pela implantação do programa é do governo de Mato Grosso do Sul, que se comprometeu a aplicar mais R$ 500 mil.
"Não temos dez hectares de arroz plantado por falta de trator. Três tratores estão parados na oficina por falta de pagamento da Funai", disse o vice-capitão (líder indígena) da aldeia Bororó, o caiuá Assunção Cáceres, 53.
O presidente do Conselho dos Direitos Indígenas, o caiuá Sílvio Paulo, 45, afirma que as sementes chegam fora de hora do plantio nas aldeias e falta trator para espalhar calcário pela terra.
O caiuá Carlinhos Gonçalves, 23, disse que comprou 30 litros de óleo diesel para trabalhar a terra, plantando milho, mas faltou o trator.
Outro lado
O diretor nacional do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Alexandre Padilha, diz que não existe interferência política no órgão e na área de assistência.
"Tivemos uma reunião do Conselho Distrital [de Saúde Indígena] que aprovou não só a permanência dos chefes dos pólos distritais como a do coordenador regional da Funasa [Gaspar Hickmann]", disse Padilha.
"Houve apenas substituições de três profissionais de saúde e todas foram solicitadas pela comunidade indígena", acrescentou o diretor.
Na quinta-feira passada, em reunião com líderes indígenas em Campo Grande, Padilha disse que não aceita mais tratar de "picuinhas".
Hickmann, sindicalista ligado ao PT, atribuiu a acusação de aparelhamento da Funasa à disputa política entre lideranças indígenas de Dourados. (HC)
Índios recorrem a lixão para sobreviver
Da Agência Folha, em Dourados (MS)
Índios guaranis e caiuás da reserva de Dourados (218 km de Campo Grande) recorrem até a um lixão para sobreviver. As crianças desses povos são as mais atingidas por desnutrição e mortalidade infantil no país.
No depósito de lixo a 16 km das aldeias, já dentro do município de Itaporã, índios recolhem roupas, madeira, latinhas ou papelões para vender, qualquer utensílio doméstico e até, segundo o prefeito da cidade, Marcos Antônio Paco (PFL), "restos de comida".
Na quinta-feira à tarde, a reportagem encontrou no lixão a caiuá Elisabete Arce, 18. Ela disse que não recebe cesta básica do governo estadual.
Estava com dois irmãos adolescentes e outro, de sete anos, que carregava no meio do lixo a filha de Elisabete, de oito meses. A criança tinha na boca uma mamadeira suja. "Na aldeia falta de tudo. Até calcinhas. Por isso viemos aqui", diz a irmã de Elisabete, sem falar o nome.
No dia seguinte, a reportagem voltou ao lixão. Encontrou o casal Leila, 25, e Gilson da Silva, 32. Os dois estavam catando sacos de estopa, segundo eles, para embalar o milho que vão produzir em um hectare que têm na aldeia. "Eu não trago minhas crianças aqui. Nem cato comida", diz Leila, mãe de seis filhos menores de 13 anos.
O médico Antônio Aurélio Teixeira de Carvalho Neto, que atende crianças nas aldeias, disse que índios freqüentam lixões. Seu colega Zelik Trajber recebeu de uma agente comunitária a mesma notícia na sexta-feira.
O prefeito disse que está cercando o local, construindo guarita e deve contratar um segurança para impedir a entrada de catadores.
Nas aldeias Jaguapiru e Bororó, que formam a reserva de Dourados, faltam rios e córregos próximos às casas. Alguns índios pescam lambaris em poças de água barrenta para garantir o almoço.
Outros caminham mais de uma hora em busca de água fresca trazida em galões de córrego, mas que chega quente aos barracos de lona cobertos por sapé onde estão crianças, algumas desnutridas.
É o caso da índia caiuá Ediléia da Silva Isnarde, 18, mãe de Graciele, 2, e Islaine, 1. A primeira criança pesa 9 kg, mas deveria ter 12 kg. A segunda tem 6 kg, segundo a mãe, porém o peso ideal para a idade é no mínimo 9 kg.
A casa de Ediléia, que hoje recebe uma cesta básica do governo estadual, é formada por pedaços de madeira, lona preta e sapé. É semelhante à boa parte das casas nas aldeias de Dourados. Em volta delas, o matagal perde-se de vista. Em meio dele, resistem algumas plantações de milho.
Juntas, as aldeias têm 3.600 hectares (cada hectare tem 10.000 m2). Nas duas, vivem cerca de 11 mil indígenas, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), incluindo a etnia terena, além da guarani e caiuá. Se fosse um assentamento da reforma agrária, caberia cerca de 200 famílias de trabalhadores com lotes de 20 ha.
O caiuá Carlinhos Gonçalves, 23, que mora com mulher e duas crianças menores de quatro anos, tem apenas dois hectares.
Sem poder plantar, o caiuá Sérgio Cabreira, 30, virou servente de pedreiro na cidade e tem renda mensal de R$ 280. A mulher dele, Dalila, 26, mãe de quatro crianças, diz que a cesta básica do governo dura só dez dias. Ela mostra o que ainda resta de alimento da cesta ao lado de 30 kg de arroz comprados com dinheiro de Cabreira.
Para garantir o almoço, Ambrósio de Araújo, 18, e sua mulher, Silvana, 16, com a filha Nádia, de dois meses, pescavam lambari em uma poça barrenta que aflora do lençol freático na última sexta-feira. Usava um saco como rede para pegar lambaris. (HC)
FSP, 22/02/2005, p.A7
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