De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Seus amores: as filhas e o verde
06/08/1995
Fonte: OESP, p. F-9
Seus amores: as filhas e o verde
Ele é um ambientalista. Decidiu dedicar-se à preservação da natureza e, apoiado pelas filhas, vai escrever suas experiências e retomar a fotografia.
Vera Fiori
O ambientalista João Paulo Ribeiro Capobianco, o Capô, herdou do avó, o Major Custódio Ferreira Leite, o amor e o respeito pela natureza. Ele tinha uma fazenda de café em Guaxupé, Sul de Minas. Com o crack da Bolsa de Valores, em 29, para compensar o prejuízo financeiro, os cafeicultores da região optaram pela extração da madeira. Ferreira Leite, que tinha paixão pelos seus jequitibás rosas, plantados um a um, deixou a mata intocada, apesar das dificuldades. Com sua morte, a família dividiu-se: parte dos herdeiros queria a derrubada das árvores, enquanto Capô e outros parentes formavam o Grupo de Defesa da Mata do Major.
Desfecho: o "grupo de resistência" conseguiu impedir o desmatamento, mas, logo depois, a situação se inverteu, e lá se foi a madeira. Com o episódio, Capô aprendeu a jamais comemorar uma conquista na área de preservação, antes do tempo.
Aos 38 anos, pai de Luana, com 14 e Ana Terra, com 12, antes de se dedicar integralmente à ecologia, Capô, formado em Biologia, foi fotógrafo e professor de natação. Em 84 ao fotografar a Juréia, fascinou-se pela região, decidindo atuar exclusivamente na área ambiental. Diz ele:
- Na época, a Juréia era alvo de disputa de um poderoso grupo imobiliário. E havia planos de se construir usinas nucleares.
Graças à mobilização do Grupo de Defesa da Juréia, do qual Capô era um dos articuladores, a mata foi preservada. Depois, ele participou do SOS Mata Atlântica, até achar que era hora ir mais longe, até à Amazônia. Hoje, com outros profissionais, dirige o Instituto Social Ambiental, de âmbito nacional, que se propõe a estudar o meio ambiente e as questões sociais como um todo. Ele vive mergulhado no trabalho, mas tem a sorte da família ser "verde". A mulher dedica-se à Educação Ambiental e as filhas o acompanham desde pequenas.
- Um episódio me marcou muito. Em 88 numa manifestação diante do Palácio dos Bandeirantes, demos abaixo-assinados para um grupo de crianças entregar ao Quércia. Luana e Ana Terra pintaram o rosto com bichos, seguidas das outras.
A compenetração delas era incrível. Foram as precursoras dos caras pintadas.
Noutra vez, quando se cogitou da construção de garagens sob o parque Siqueira Campos, na Paulista, o pai levou as duas a uma manifestação. Ao ver que todas aquelas árvores poderiam ser destruídas, a caçula desatou num choro de "dar dó", conta ele. Acostumada a ouvir histórias de fazendas e heranças, Ana Terra perguntou ao pai, quando ele ainda estava no SOS, se seria herdeira da entidade. As filhas, orgulhosas e conscientes da importância do trabalho do pai, acham que o melhor presente para ele seria a continuação do seu trabalho.
Pai aos 23 anos, no auge dos questionamentos, Capô segurou a experiência numa boa. "Luana nasceu pelo parto Leboyer, na época algo absolutamente inovador." Depois de surpreender sua família, mineira e tradicional, dizendo que ia ser pai sem se casar, ele criou mais polemica ao colocar as garotas com menos de um ano na escola. "Foram para a Ibeji; na época, única a seguir a linha alternativa, priorizando a afetividade, a socialização, sem regras comportamentais como no padrão de ensino tradicional", diz ele.
A família já viajou muito. Hoje, com os estudos e atividades do pai, os programas se resumem a pequenas viagens nos fins de semana e a shows de MPB. "Quando era jovem, meu pai chegou a construir uma edícula só para que eu e meus irmãos ouvíssemos os Beatles." Em sua casa, todos têm o mesmo gosto musical, indo de Chico Buarque a Marisa Monte, a nova paixão das duas.
Leitor ávido, Capô lê, no momento Darwin, Mauá e Trânsito, simultaneamente. "Adoro cinema e os filmes que mais me marcaram foram 2001 Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrik, e Terra em Transe, de Glauber Rocha. " Capô já teve filhos e plantou muitas árvores. Agora só falta escrever um livro com suas experiências, o que está em seus planos. Outro desejo é retomar a fotografia, onde tudo começou.
OESP, 06/08/1995, p. F9
Ele é um ambientalista. Decidiu dedicar-se à preservação da natureza e, apoiado pelas filhas, vai escrever suas experiências e retomar a fotografia.
Vera Fiori
O ambientalista João Paulo Ribeiro Capobianco, o Capô, herdou do avó, o Major Custódio Ferreira Leite, o amor e o respeito pela natureza. Ele tinha uma fazenda de café em Guaxupé, Sul de Minas. Com o crack da Bolsa de Valores, em 29, para compensar o prejuízo financeiro, os cafeicultores da região optaram pela extração da madeira. Ferreira Leite, que tinha paixão pelos seus jequitibás rosas, plantados um a um, deixou a mata intocada, apesar das dificuldades. Com sua morte, a família dividiu-se: parte dos herdeiros queria a derrubada das árvores, enquanto Capô e outros parentes formavam o Grupo de Defesa da Mata do Major.
Desfecho: o "grupo de resistência" conseguiu impedir o desmatamento, mas, logo depois, a situação se inverteu, e lá se foi a madeira. Com o episódio, Capô aprendeu a jamais comemorar uma conquista na área de preservação, antes do tempo.
Aos 38 anos, pai de Luana, com 14 e Ana Terra, com 12, antes de se dedicar integralmente à ecologia, Capô, formado em Biologia, foi fotógrafo e professor de natação. Em 84 ao fotografar a Juréia, fascinou-se pela região, decidindo atuar exclusivamente na área ambiental. Diz ele:
- Na época, a Juréia era alvo de disputa de um poderoso grupo imobiliário. E havia planos de se construir usinas nucleares.
Graças à mobilização do Grupo de Defesa da Juréia, do qual Capô era um dos articuladores, a mata foi preservada. Depois, ele participou do SOS Mata Atlântica, até achar que era hora ir mais longe, até à Amazônia. Hoje, com outros profissionais, dirige o Instituto Social Ambiental, de âmbito nacional, que se propõe a estudar o meio ambiente e as questões sociais como um todo. Ele vive mergulhado no trabalho, mas tem a sorte da família ser "verde". A mulher dedica-se à Educação Ambiental e as filhas o acompanham desde pequenas.
- Um episódio me marcou muito. Em 88 numa manifestação diante do Palácio dos Bandeirantes, demos abaixo-assinados para um grupo de crianças entregar ao Quércia. Luana e Ana Terra pintaram o rosto com bichos, seguidas das outras.
A compenetração delas era incrível. Foram as precursoras dos caras pintadas.
Noutra vez, quando se cogitou da construção de garagens sob o parque Siqueira Campos, na Paulista, o pai levou as duas a uma manifestação. Ao ver que todas aquelas árvores poderiam ser destruídas, a caçula desatou num choro de "dar dó", conta ele. Acostumada a ouvir histórias de fazendas e heranças, Ana Terra perguntou ao pai, quando ele ainda estava no SOS, se seria herdeira da entidade. As filhas, orgulhosas e conscientes da importância do trabalho do pai, acham que o melhor presente para ele seria a continuação do seu trabalho.
Pai aos 23 anos, no auge dos questionamentos, Capô segurou a experiência numa boa. "Luana nasceu pelo parto Leboyer, na época algo absolutamente inovador." Depois de surpreender sua família, mineira e tradicional, dizendo que ia ser pai sem se casar, ele criou mais polemica ao colocar as garotas com menos de um ano na escola. "Foram para a Ibeji; na época, única a seguir a linha alternativa, priorizando a afetividade, a socialização, sem regras comportamentais como no padrão de ensino tradicional", diz ele.
A família já viajou muito. Hoje, com os estudos e atividades do pai, os programas se resumem a pequenas viagens nos fins de semana e a shows de MPB. "Quando era jovem, meu pai chegou a construir uma edícula só para que eu e meus irmãos ouvíssemos os Beatles." Em sua casa, todos têm o mesmo gosto musical, indo de Chico Buarque a Marisa Monte, a nova paixão das duas.
Leitor ávido, Capô lê, no momento Darwin, Mauá e Trânsito, simultaneamente. "Adoro cinema e os filmes que mais me marcaram foram 2001 Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrik, e Terra em Transe, de Glauber Rocha. " Capô já teve filhos e plantou muitas árvores. Agora só falta escrever um livro com suas experiências, o que está em seus planos. Outro desejo é retomar a fotografia, onde tudo começou.
OESP, 06/08/1995, p. F9
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