De Povos Indígenas no Brasil
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Notícias
Figurinha repetida
22/04/2009
Autor: Jessé Souza *
Fonte: Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=60452
Recebi um e-mail de um médico que pede anonimato. Como se trata de uma síntese de como pensa a sociedade local, decidi transcrevê-lo. Ele diz: De que servem os indígenas em Roraima? O que nestes séculos produziram para a melhoria de vida da população, indígena ou não? Trabalhei como médico para a Funai e em cada maloca que ia só via indígenas embriagados com o caxiri e, na maioria das vezes, com a cachaça dos brancos.
Depois da cirrose, voam para Boa Vista (aviões de ONGs, da própria Funai e também da Aeronáutica) para tratamento nos hospitais daqui. Onde está a Funasa? Sou médico e atendo um yanomami bêbado. Ninguém paga nada ao Governo do Estado por este atendimento. Nenhuma autoridade se manifesta! Ninguém! Então, viva o Estado Indígena de Roraima para o deleite do editor-chefe desta Folha que, com a experiência que possui, não pode assumir posições xiitas".
Aqui está o sumo desse pensamento esdrúxulo que acometeu o inconsciente coletivo: os índios são intrusos e o único problema desse Estado. Vamos começar pelo anonimato, expediente usado pela maioria esmagadora para não fazer sua parte como cidadão.
O médico questiona a contribuição dos índios, e talvez seja ele mais um com pensamento romântico sobre índios e negros, e que jamais leva em conta que este Brasilzão foi construído sob o lombo dos negros, dos índios, dos pobres, ou seja, na chicaca. No entanto, para esses povos fica apenas o reconhecimento pelo folclore, pela comida e a dança, menos pelo trabalho. Porque só quem trabalha são o branco e o colonizador.
Como profissional de Medicina, pisoteia os índios os classificando como estorvos cachaceiros, como se os hospitais públicos na cidade não estivessem lotados de gente mutilada, inválida e o cemitério cheio de vítimas da cachaça dos não-índios, dos brancos que destroçam famílias por causa do alcoolismo.
Talvez se perguntar o que acha do alcoolismo no trânsito, ele responda em tom professoral com voz de William Bonner que é um problema grave de saúde pública, que merece toda a atenção. Mas, no caso dos índios, não: o índio é o problema a ser eliminado (neste caso, usando o tom de voz do apresentador Ratinho).
Preconceito é quando se tem uma opinião preconcebida. No caso desse médico, ele conhece a realidade e estudou. Então isso chama-se discriminação e/ou racismo, que é crime no Brasil, um dos poucos que dá cadeia.
Ele fala que índio não paga imposto, desfazendo-se dos centenas de servidores públicos indígenas (professores, agentes de saúde e outros). Sem contar que não pagar imposto por sua produção foi uma garantia confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, a Corte maior deste país.
Escondido no anonimato, o médico quer culpar o índio pelo entrave deste Estado, fazendo de conta de que não sabe que quem ajudou a afundar Roraima foram a corrupção, a omissão de profissionais que sabem dos desmandos e fazem vistas grossas, a política safada, os joguetes de grupos e a incompetência dos órgãos federais e estaduais.
Culpar os índios é fácil, porque isso já virou rotina; e, além do mais, é muito cômodo para quem não quer se indispor com os verdadeiros culpados por afundar um Estado pobre como Roraima, que está de pé graças aos recursos federais, e jamais pelos 4% que agropecuária representa no PIB.
* Articulista - jesse@folhabv.com.br - Visite o blog do autor: http://pajuaru.blogspot.com/
Depois da cirrose, voam para Boa Vista (aviões de ONGs, da própria Funai e também da Aeronáutica) para tratamento nos hospitais daqui. Onde está a Funasa? Sou médico e atendo um yanomami bêbado. Ninguém paga nada ao Governo do Estado por este atendimento. Nenhuma autoridade se manifesta! Ninguém! Então, viva o Estado Indígena de Roraima para o deleite do editor-chefe desta Folha que, com a experiência que possui, não pode assumir posições xiitas".
Aqui está o sumo desse pensamento esdrúxulo que acometeu o inconsciente coletivo: os índios são intrusos e o único problema desse Estado. Vamos começar pelo anonimato, expediente usado pela maioria esmagadora para não fazer sua parte como cidadão.
O médico questiona a contribuição dos índios, e talvez seja ele mais um com pensamento romântico sobre índios e negros, e que jamais leva em conta que este Brasilzão foi construído sob o lombo dos negros, dos índios, dos pobres, ou seja, na chicaca. No entanto, para esses povos fica apenas o reconhecimento pelo folclore, pela comida e a dança, menos pelo trabalho. Porque só quem trabalha são o branco e o colonizador.
Como profissional de Medicina, pisoteia os índios os classificando como estorvos cachaceiros, como se os hospitais públicos na cidade não estivessem lotados de gente mutilada, inválida e o cemitério cheio de vítimas da cachaça dos não-índios, dos brancos que destroçam famílias por causa do alcoolismo.
Talvez se perguntar o que acha do alcoolismo no trânsito, ele responda em tom professoral com voz de William Bonner que é um problema grave de saúde pública, que merece toda a atenção. Mas, no caso dos índios, não: o índio é o problema a ser eliminado (neste caso, usando o tom de voz do apresentador Ratinho).
Preconceito é quando se tem uma opinião preconcebida. No caso desse médico, ele conhece a realidade e estudou. Então isso chama-se discriminação e/ou racismo, que é crime no Brasil, um dos poucos que dá cadeia.
Ele fala que índio não paga imposto, desfazendo-se dos centenas de servidores públicos indígenas (professores, agentes de saúde e outros). Sem contar que não pagar imposto por sua produção foi uma garantia confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, a Corte maior deste país.
Escondido no anonimato, o médico quer culpar o índio pelo entrave deste Estado, fazendo de conta de que não sabe que quem ajudou a afundar Roraima foram a corrupção, a omissão de profissionais que sabem dos desmandos e fazem vistas grossas, a política safada, os joguetes de grupos e a incompetência dos órgãos federais e estaduais.
Culpar os índios é fácil, porque isso já virou rotina; e, além do mais, é muito cômodo para quem não quer se indispor com os verdadeiros culpados por afundar um Estado pobre como Roraima, que está de pé graças aos recursos federais, e jamais pelos 4% que agropecuária representa no PIB.
* Articulista - jesse@folhabv.com.br - Visite o blog do autor: http://pajuaru.blogspot.com/
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