De Povos Indígenas no Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Consentimento informado é relativo, afirma geneticista

09/05/2010

Autor: ANGELO, Claudio

Fonte: FSP, Ciência, p. A22



Consentimento informado é relativo, afirma geneticista

Claudio Angelo
Editor de Ciência

Para o geneticista gaúcho Francisco Salzano, ex-aluno e colaborador de James Neel por cinco décadas, a coleta de sangue dos ianomâmis foi feita "de modo absolutamente ético".
O pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul participou das coletas em 1967 e diz que não faria nada diferente se tivesse de repeti-las.
"Esse material é precioso para a nossa história", afirma, lamentando a sua devolução.
Neel e seus colegas tinham em mente uma série de questões científicas que poderiam ser respondidas com a análise do sangue e do DNA indígena.
Uma delas era estudar a microevolução humana, ou seja, o impacto do isolamento geográfico entre os grupos ianomâmis na sua diferenciação genética.
O DNA da tribo também foi usado para ajudar a mapear a migração do homem para a América, na Era do Gelo.
Outro objetivo, menos nobre, era usar os ianomâmis como grupo controle para analisar mutações genéticas em sobreviventes da bomba atômica.
Salzano diz que ainda havia muito o que aprender com as amostras e que só uma parte muito pequena do DNA foi sequenciada. "Quando se desenvolveram novas técnicas genômicas é que houve o embargo."
O pesquisador, de 81 anos, rebate as acusações de que não houve esclarecimento -o chamado consentimento informado- aos índios na época.
"Consentimento informado é relativo em qualquer grupo marginal, até mesmo urbano", afirma, explicando que não é possível esperar que esses grupos entendam o que a ciência planeja fazer com o DNA deles.
"Todo mundo tem direito ao seu DNA. Se os sujeitos de investigação se recusam, é uma posição que eu considero errônea, mas temos de respeitar."
Em nome de pesquisas que trariam o suposto "bem comum", cientistas acabam em atoleiros éticos. Nos anos 1990, um projeto do geneticista Luigi Luca Cavalli-Sforza de mapear a diversidade do genoma humano foi a pique sob acusações de índios e antropólogos -e o apelido de "Projeto Vampiro".
Na mesma década, foi a vez de antropólogos dos EUA se engalfinharem com uma tribo em torno do crânio do Homem de Kennewick, o mais antigo do país. Os índios queriam enterrar o fóssil de 9.000 anos, considerado por eles um ancestral, mas a Justiça deu ganho de causa aos pesquisadores.

FSP, 09/05/2010, Ciência, p. A22

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0905201003.htm
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.