De Povos Indígenas no Brasil
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A longa viagem de Claudia Andujar em busca dos índios
07/05/2013
Autor: ANDUJAR, Claudia
Fonte: Valor Econômico, Eu & Cultura, p. D4
A longa viagem de Claudia Andujar em busca dos índios
Por Gabriela Longman | Para o Valor, de São Paulo
Exposição na Galeria Vermelho traz imagens que a artista fez em 1976, quando percorreu de Fusca os mais de 4 mil quilômetros que separam São Paulo e Roraima; objetivo era conhecer melhor o país e reencontrar os ianomâmis
Em 1976, a artista Claudia Andujar entrou num Fusca preto e pegou a estrada. Ao lado do colega de trabalho Carlo Zacquini, percorreu os mais de 4 mil quilômetros que separam São Paulo e Roraima. O objetivo era conhecer melhor o Brasil e voltar a trabalhar com os índios ianomâmis, grande centro de interesse da fotógrafa desde 1971.
Algumas das paisagens fotografadas de dentro do carro são expostas a partir de hoje na Galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, SP, tel. 11- 3138 1520; ter. a sex., 10h às 19h; sáb., 11h às 17h; até 1o/6; grátis). Por conta da cor, o carro foi apelidado pelos ianomâmis de urubu (watupari, na língua indígena), palavra que está no título da mostra - "O Vôo de Watupari".
Aos 82 anos, Claudia Andujar, fotógrafa suíça de origem húngara radicada no Brasil, é uma referência para a fotografia brasileira e também para a causa ianomâmi. Foi uma das fundadoras da Comissão pela Criação do Parque Yanomami e esteve profundamente envolvida no processo de demarcação das terras indígenas, concretizado em 1992.
As artistas Dora Longo Bahia e Keila Alaver também abrem hoje exposições individuais na galeria.
Valor: Quais são as lembranças mais vivas da viagem?
Claudia Andujar: Foi uma experiência muito intensa e hoje penso que poucas pessoas tiveram a oportunidade de fazer algo assim. Atravessamos todo o Mato Grosso, Rondônia, Rio Negro e Rio Branco. A [rodovia] Perimetral Norte estava em construção. Havia um determinado ponto em que a estrada acabava e o carro precisava ser embarcado numa espécie de balsa. Ao chegar nas áreas indígenas, encontramos a epidemia de sarampo e muitas vezes usamos o Fusca para transportar doentes até Boa Vista. Era um momento de forte presença militar e a minha ida para lá foi vista como suspeita e bastante incômoda. Fui convidada a me retirar, tive que vender o carro e deixar a região. Não havia escolha.
Valor: Como surgiu a ideia de mostrar essas imagens?
Claudia: No fim do ano passado eu participei de uma exposição no CCBB ["Planos de Fuga - Uma Exposição em Obras"] e algumas imagens dessa viagem foram mostradas ali. O Eduardo Brandão [sócio da Vermelho] frequenta a minha casa, já foi curador em outras exposições e conhece muito bem o meu trabalho. A mostra foi sendo delineada aos poucos.
Valor: A senhora continua envolvida com que acontece na região do Ajarani? Os conflitos com os garimpeiros persistem?
Claudia: Sim, eu recebo notícias de lá quase diariamente. Existem sempre os conflitos com os garimpeiros e mais recentemente com os fazendeiros também. Esses dias mesmo a Funai conseguiu retirar o primeiro deles, mas é uma situação de muita tensão, que está longe de estar resolvida.
Valor: Um novo pavilhão do Instituto Inhotim (MG) está sendo contruído para abrigar sua obra. O que podemos esperar desse espaço?
Claudia: As obras já começaram e o plano é que ele seja inaugurado no ano que vem. É uma galeria que fica numa área mais afastada do parque, dentro da Mata Atlântica e com mais ou menos 500 fotos dos ianomâmis. Existe um processo imenso de trabalhar e digitalizar as imagens que já está em pleno curso. Mas é uma tarefa imensa.
Valor Econômico, 07/05/2013, Eu & Cultura, p. D4
http://www.valor.com.br/cultura/3112946/longa-viagem-de-claudia-andujar-em-busca-dos-indios#ixzz2SdZgTGXH
Por Gabriela Longman | Para o Valor, de São Paulo
Exposição na Galeria Vermelho traz imagens que a artista fez em 1976, quando percorreu de Fusca os mais de 4 mil quilômetros que separam São Paulo e Roraima; objetivo era conhecer melhor o país e reencontrar os ianomâmis
Em 1976, a artista Claudia Andujar entrou num Fusca preto e pegou a estrada. Ao lado do colega de trabalho Carlo Zacquini, percorreu os mais de 4 mil quilômetros que separam São Paulo e Roraima. O objetivo era conhecer melhor o Brasil e voltar a trabalhar com os índios ianomâmis, grande centro de interesse da fotógrafa desde 1971.
Algumas das paisagens fotografadas de dentro do carro são expostas a partir de hoje na Galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, SP, tel. 11- 3138 1520; ter. a sex., 10h às 19h; sáb., 11h às 17h; até 1o/6; grátis). Por conta da cor, o carro foi apelidado pelos ianomâmis de urubu (watupari, na língua indígena), palavra que está no título da mostra - "O Vôo de Watupari".
Aos 82 anos, Claudia Andujar, fotógrafa suíça de origem húngara radicada no Brasil, é uma referência para a fotografia brasileira e também para a causa ianomâmi. Foi uma das fundadoras da Comissão pela Criação do Parque Yanomami e esteve profundamente envolvida no processo de demarcação das terras indígenas, concretizado em 1992.
As artistas Dora Longo Bahia e Keila Alaver também abrem hoje exposições individuais na galeria.
Valor: Quais são as lembranças mais vivas da viagem?
Claudia Andujar: Foi uma experiência muito intensa e hoje penso que poucas pessoas tiveram a oportunidade de fazer algo assim. Atravessamos todo o Mato Grosso, Rondônia, Rio Negro e Rio Branco. A [rodovia] Perimetral Norte estava em construção. Havia um determinado ponto em que a estrada acabava e o carro precisava ser embarcado numa espécie de balsa. Ao chegar nas áreas indígenas, encontramos a epidemia de sarampo e muitas vezes usamos o Fusca para transportar doentes até Boa Vista. Era um momento de forte presença militar e a minha ida para lá foi vista como suspeita e bastante incômoda. Fui convidada a me retirar, tive que vender o carro e deixar a região. Não havia escolha.
Valor: Como surgiu a ideia de mostrar essas imagens?
Claudia: No fim do ano passado eu participei de uma exposição no CCBB ["Planos de Fuga - Uma Exposição em Obras"] e algumas imagens dessa viagem foram mostradas ali. O Eduardo Brandão [sócio da Vermelho] frequenta a minha casa, já foi curador em outras exposições e conhece muito bem o meu trabalho. A mostra foi sendo delineada aos poucos.
Valor: A senhora continua envolvida com que acontece na região do Ajarani? Os conflitos com os garimpeiros persistem?
Claudia: Sim, eu recebo notícias de lá quase diariamente. Existem sempre os conflitos com os garimpeiros e mais recentemente com os fazendeiros também. Esses dias mesmo a Funai conseguiu retirar o primeiro deles, mas é uma situação de muita tensão, que está longe de estar resolvida.
Valor: Um novo pavilhão do Instituto Inhotim (MG) está sendo contruído para abrigar sua obra. O que podemos esperar desse espaço?
Claudia: As obras já começaram e o plano é que ele seja inaugurado no ano que vem. É uma galeria que fica numa área mais afastada do parque, dentro da Mata Atlântica e com mais ou menos 500 fotos dos ianomâmis. Existe um processo imenso de trabalhar e digitalizar as imagens que já está em pleno curso. Mas é uma tarefa imensa.
Valor Econômico, 07/05/2013, Eu & Cultura, p. D4
http://www.valor.com.br/cultura/3112946/longa-viagem-de-claudia-andujar-em-busca-dos-indios#ixzz2SdZgTGXH
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