De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Povo Ianomâmi chega a Inhotim
26/11/2015
Fonte: O Globo, Segundo Caderno, p. 8
Povo Ianomâmi chega a Inhotim
Claudia Andujar
Nani Rubin
RIO - Há artistas maiores que a sua arte - ainda que seu trabalho, ao longo da vida, tenha uma dimensão inegável. Este parece ser o caso de Claudia Andujar, húngara radicada desde os anos 1950 no Brasil, e que se notabilizou pelo registro e documentação dos índios ianomâmi, extenso e importante projeto iniciado nos anos 1970 - e que frutificou na demarcação de suas terras, em 1992, pelo governo brasileiro. É este recorte de sua trajetória que ganha uma celebração à altura no Instituto Inhotim, em Brumadinho, com a inauguração, nesta quinta-feira, de um pavilhão permanente dedicado à fotógrafa.
Com 1.600 m², a Galeria Claudia Andujar é o segundo maior espaço expositivo de Inhotim (perde apenas para o de Tunga). O projeto é da Arquitetos Associados, mesma empresa que desenhou o de Miguel Rio Branco, o único outro fotógrafo com pavilhão permanente no local. Construído em quadro blocos, exibirá cerca de 400 fotografias, algumas delas ampliadas pela primeira vez. O curador Rodrigo Moura fez várias viagens a São Paulo - onde a fotógrafa, aos 84 anos, mora e mantém seu arquivo - para garimpar, com ela, as imagens.
- Claudia tem um tipo de trajetória muito coerente, que leva posicionamento poético no limite do real - observa ele. - Mas o que chama a atenção é como isso está articulado no trabalho: esse mergulho na terra, na cultura, na língua, uma espécie de etnografia muito calorosa. Mas numa adesão que é diferente da fotografia etnográfica, que tem um caráter científico.
O curador observa que desde o início da carreira da fotógrafa existia essa preocupação com o outro, em trabalhos como o do registro de caiçaras em São Paulo. Mas foi ao conhecer os ianomâmi (numa viagem à Amazônia pela revista "Realidade", em 1970) que a pesquisa fotográfica assumiu um outro caráter, desaguando, num segundo momento, no ativismo. Claudia liderou uma campanha longa e árdua em prol dos índios, obtendo apoio internacional para a causa. Esse envolvimento fez com que os índios se acostumassem com a sua presença num momento em que o contato deles com a civilização ainda era recente.
- O que tem de muito bonito e singular é que ela permite que o trabalho se transforme, deixe-se afetar pelo contato com o outro. E deixou os índios à vontade, autônomos na maneira como são retratados. É possível ver isso nas fotos do xamanismo - diz Moura.
O xamanismo é um dos aspectos da cultura ianomâmi que aparecem nas fotos. Em Inhotim, o trabalho foi distribuído em quatro blocos. No primeiro, estão fotografias de natureza em diversos locais da Amazônia, com o início de sua aproximação com os índios. No segundo, uma instalação com cerca de 150 fotos feitas entre 1974 e 77, período de imersão da artista na região Catrimani. No terceiro, além de material sobre a construção da rodovia Perimetral Norte (1973), projeto do governo militar com lastro de doenças na população indígena, estão as fotos da série "Marcados", uma das mais conhecidas e impactantes de Claudia, retratos dos índios com um número - catalogação que visava salvar vidas, registrando os que já haviam sido vacinados. No quarto bloco, há cem desenhos produzidos por quatro índios.
- Nos anos 1970, ela distribuiu papel e lápis a eles, e começou a colecionar seus desenhos, para apreender sua cultura. Eles estavam acostumados a desenhar sobre os corpos, nunca em papel. E mostraram cenas da mitologia, representação dos espíritos, ente outras. Ela usava como uma maneira de ter um aprendizado maior - conta o curador.
O s visitantes poderão ainda assistir a um filme, "A estrangeira", dirigido por Rodrigo Moura ao longo dos cinco anos de processo de conversas com a artista e seleção do material.
O Globo, 26/11/2015, Segundo Caderno, p. 8
http://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/inhotim-inaugura-pavilhao-dedicado-aos-ianomami-18138528
Claudia Andujar
Nani Rubin
RIO - Há artistas maiores que a sua arte - ainda que seu trabalho, ao longo da vida, tenha uma dimensão inegável. Este parece ser o caso de Claudia Andujar, húngara radicada desde os anos 1950 no Brasil, e que se notabilizou pelo registro e documentação dos índios ianomâmi, extenso e importante projeto iniciado nos anos 1970 - e que frutificou na demarcação de suas terras, em 1992, pelo governo brasileiro. É este recorte de sua trajetória que ganha uma celebração à altura no Instituto Inhotim, em Brumadinho, com a inauguração, nesta quinta-feira, de um pavilhão permanente dedicado à fotógrafa.
Com 1.600 m², a Galeria Claudia Andujar é o segundo maior espaço expositivo de Inhotim (perde apenas para o de Tunga). O projeto é da Arquitetos Associados, mesma empresa que desenhou o de Miguel Rio Branco, o único outro fotógrafo com pavilhão permanente no local. Construído em quadro blocos, exibirá cerca de 400 fotografias, algumas delas ampliadas pela primeira vez. O curador Rodrigo Moura fez várias viagens a São Paulo - onde a fotógrafa, aos 84 anos, mora e mantém seu arquivo - para garimpar, com ela, as imagens.
- Claudia tem um tipo de trajetória muito coerente, que leva posicionamento poético no limite do real - observa ele. - Mas o que chama a atenção é como isso está articulado no trabalho: esse mergulho na terra, na cultura, na língua, uma espécie de etnografia muito calorosa. Mas numa adesão que é diferente da fotografia etnográfica, que tem um caráter científico.
O curador observa que desde o início da carreira da fotógrafa existia essa preocupação com o outro, em trabalhos como o do registro de caiçaras em São Paulo. Mas foi ao conhecer os ianomâmi (numa viagem à Amazônia pela revista "Realidade", em 1970) que a pesquisa fotográfica assumiu um outro caráter, desaguando, num segundo momento, no ativismo. Claudia liderou uma campanha longa e árdua em prol dos índios, obtendo apoio internacional para a causa. Esse envolvimento fez com que os índios se acostumassem com a sua presença num momento em que o contato deles com a civilização ainda era recente.
- O que tem de muito bonito e singular é que ela permite que o trabalho se transforme, deixe-se afetar pelo contato com o outro. E deixou os índios à vontade, autônomos na maneira como são retratados. É possível ver isso nas fotos do xamanismo - diz Moura.
O xamanismo é um dos aspectos da cultura ianomâmi que aparecem nas fotos. Em Inhotim, o trabalho foi distribuído em quatro blocos. No primeiro, estão fotografias de natureza em diversos locais da Amazônia, com o início de sua aproximação com os índios. No segundo, uma instalação com cerca de 150 fotos feitas entre 1974 e 77, período de imersão da artista na região Catrimani. No terceiro, além de material sobre a construção da rodovia Perimetral Norte (1973), projeto do governo militar com lastro de doenças na população indígena, estão as fotos da série "Marcados", uma das mais conhecidas e impactantes de Claudia, retratos dos índios com um número - catalogação que visava salvar vidas, registrando os que já haviam sido vacinados. No quarto bloco, há cem desenhos produzidos por quatro índios.
- Nos anos 1970, ela distribuiu papel e lápis a eles, e começou a colecionar seus desenhos, para apreender sua cultura. Eles estavam acostumados a desenhar sobre os corpos, nunca em papel. E mostraram cenas da mitologia, representação dos espíritos, ente outras. Ela usava como uma maneira de ter um aprendizado maior - conta o curador.
O s visitantes poderão ainda assistir a um filme, "A estrangeira", dirigido por Rodrigo Moura ao longo dos cinco anos de processo de conversas com a artista e seleção do material.
O Globo, 26/11/2015, Segundo Caderno, p. 8
http://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/inhotim-inaugura-pavilhao-dedicado-aos-ianomami-18138528
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