De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
2 lados do mundo
26/11/2016
Fonte: FSP, Seminário Folha, p. 8
2 lados do mundo
PAULO SALDAÑA
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS E TEFÉ (AM)
Todos as noites Kely Cavalcanti, 32, navega 15 minutos de canoa pelos rios Solimões e Tefé, no centro do Amazonas, para ir à escola. Ela mora na comunidade Barreira de Cima, mas só na vizinha Nova Esperança há ensino médio, onde o conteúdo chega de mais longe, pela TV.
Aulas via satélite são a aposta da secretaria de Educação do Estado para levar ensino a regiões isoladas. Na chamada "educação mediada por tecnologia", os professores ministram as disciplinas de dentro de um estúdio, e o conteúdo é transmitido para turmas de todo interior do Estado ao vivo.
Diferente do ensino a distância, aqui os alunos têm de estar na classe e interagem por vídeo, chat e entre si. Ainda realizam exercícios e provas em sala -onde fica um professor mediador.
Dos sete estúdios do Centro de Mídias, uma estação de TV na sede da secretaria, em Manaus, são transmitidas até 12 aulas por dia. Com apoio de antenas parabólicas instaladas nas escolas, 35 mil alunos estudam pelo modelo atualmente. Eles são divididos em 2.100 turmas.
A realidade geográfica impõe desafios: o Amazonas registra baixa densidade demográfica, com populações concentradas em locais de difícil acesso. O sistema atende hoje 2.983 comunidades -nem metade das 6.300 espalhadas pelo Estado.
"O projeto é para locais onde é inviável manter uma escola e professores", diz o secretário executivo da Educação, Raimundo Otaíde.
Em Tefé, 18% dos 62 mil habitantes moram na área rural. Em uma noite no início de novembro, Kelly e os colegas do 2o ano do ensino médio assistiam pela TV à aula de inglês na escola indígena Santa Cruz, a 30 km da cidade - e a 526 km de Manaus.
Da etnia ticuna, Kely parou de estudar na 8ª série, após "arranjar marido e filho". A falta de escola por perto adiou a retomada dos estudos. "Lá não tem ensino médio", diz ela, que vive "da roça". "Minha vó faleceu, mas deixou isso de herança. Ela não estudou, mas queria. Tenho fé de chegar na faculdade."
As aulas contam com vídeos e até realidade aumentada, o que agrada Raizineide Damião, 23, aluna do 1o ano que assistia a aula de química com a filha Ketlyn, 1, nos braços. Se pudesse escolher, preferiria a professora na sala. "Mas o importante é terminar os estudos", diz.
Segundo a dirigente regional de ensino Assunta de Araújo, o "tecnológico" tem levado educação onde nunca houve. Principalmente de ensino médio, etapa escolar que concentra 81% das matrículas. "O modelo ainda valoriza o local de origem deles."
Antes de cada transmissão, há uma pré-produção pedagógica de aulas pouco comum nas escolas tradicionais. A professora de artes Lucia Santos, 49, conta que, ao longo do ano, passa dois meses diante de câmeras. "O resto é planejamento. Toda aula é diferente, nada é gravado."
Priscila Cruz, do Movimento Todos Pela Educação, diz que a principal virtude do Centro de Mídias é o planejamento. "O sucesso é a pedagogia", diz.
A secretaria de Educação do Amazonas não informou o orçamento do programa nem forneceu dados de aprendizado dos alunos participantes.
FSP, 26/11/2016, Seminário Folha, p. 8
http://arte.folha.uol.com.br/educacao/2016/11/27/inovacao/#laboratorio-em-vez-da-sala
PAULO SALDAÑA
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS E TEFÉ (AM)
Todos as noites Kely Cavalcanti, 32, navega 15 minutos de canoa pelos rios Solimões e Tefé, no centro do Amazonas, para ir à escola. Ela mora na comunidade Barreira de Cima, mas só na vizinha Nova Esperança há ensino médio, onde o conteúdo chega de mais longe, pela TV.
Aulas via satélite são a aposta da secretaria de Educação do Estado para levar ensino a regiões isoladas. Na chamada "educação mediada por tecnologia", os professores ministram as disciplinas de dentro de um estúdio, e o conteúdo é transmitido para turmas de todo interior do Estado ao vivo.
Diferente do ensino a distância, aqui os alunos têm de estar na classe e interagem por vídeo, chat e entre si. Ainda realizam exercícios e provas em sala -onde fica um professor mediador.
Dos sete estúdios do Centro de Mídias, uma estação de TV na sede da secretaria, em Manaus, são transmitidas até 12 aulas por dia. Com apoio de antenas parabólicas instaladas nas escolas, 35 mil alunos estudam pelo modelo atualmente. Eles são divididos em 2.100 turmas.
A realidade geográfica impõe desafios: o Amazonas registra baixa densidade demográfica, com populações concentradas em locais de difícil acesso. O sistema atende hoje 2.983 comunidades -nem metade das 6.300 espalhadas pelo Estado.
"O projeto é para locais onde é inviável manter uma escola e professores", diz o secretário executivo da Educação, Raimundo Otaíde.
Em Tefé, 18% dos 62 mil habitantes moram na área rural. Em uma noite no início de novembro, Kelly e os colegas do 2o ano do ensino médio assistiam pela TV à aula de inglês na escola indígena Santa Cruz, a 30 km da cidade - e a 526 km de Manaus.
Da etnia ticuna, Kely parou de estudar na 8ª série, após "arranjar marido e filho". A falta de escola por perto adiou a retomada dos estudos. "Lá não tem ensino médio", diz ela, que vive "da roça". "Minha vó faleceu, mas deixou isso de herança. Ela não estudou, mas queria. Tenho fé de chegar na faculdade."
As aulas contam com vídeos e até realidade aumentada, o que agrada Raizineide Damião, 23, aluna do 1o ano que assistia a aula de química com a filha Ketlyn, 1, nos braços. Se pudesse escolher, preferiria a professora na sala. "Mas o importante é terminar os estudos", diz.
Segundo a dirigente regional de ensino Assunta de Araújo, o "tecnológico" tem levado educação onde nunca houve. Principalmente de ensino médio, etapa escolar que concentra 81% das matrículas. "O modelo ainda valoriza o local de origem deles."
Antes de cada transmissão, há uma pré-produção pedagógica de aulas pouco comum nas escolas tradicionais. A professora de artes Lucia Santos, 49, conta que, ao longo do ano, passa dois meses diante de câmeras. "O resto é planejamento. Toda aula é diferente, nada é gravado."
Priscila Cruz, do Movimento Todos Pela Educação, diz que a principal virtude do Centro de Mídias é o planejamento. "O sucesso é a pedagogia", diz.
A secretaria de Educação do Amazonas não informou o orçamento do programa nem forneceu dados de aprendizado dos alunos participantes.
FSP, 26/11/2016, Seminário Folha, p. 8
http://arte.folha.uol.com.br/educacao/2016/11/27/inovacao/#laboratorio-em-vez-da-sala
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