De Povos Indígenas no Brasil
Notícias
Infraestrutura no rio Madeira: desenvolvimento para quem?
28/06/2025
Autor: FERREIRA, Iremar Antonio
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Infraestrutura no rio Madeira: desenvolvimento para quem?
Na Amazônia, o planejamento de obras precisa garantir a participação efetiva das populações locais
28/06/2025
Iremar Antonio Ferreira
Investir em manter a floresta em pé é garantir vidas, oxigênio, alimentos e água em abundância. Mas essa não tem sido a prioridade nos projetos de infraestrutura que atingem, há décadas, a bacia do rio Madeira. Sempre conduzidos sem a devida escuta às populações locais, são acompanhados de promessas de progresso que não se concretizam para quem vive às margens dos rios.
O rio Madeira é território ancestral de povos indígenas, como os muras e os mundurukus. A resistência dos muras à colonização portuguesa levou à chamada Devassa Mura (1738-1739). Considerados "incivilizáveis", eles foram alvo de expedições punitivas após resistirem à exploração de cacau nativo e outros alimentos de valor comercial. Para sobreviver, seguiram os cursos d'água, tornando-se seringueiros, pescadores e ribeirinhos.
Na ditadura civil-militar, projetos como o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Polamazônia) e o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do BrasiL (Polonoroeste) impulsionaram a ocupação da amazônia, abrindo estradas como a BR-364 e viabilizando hidrelétricas. Tentando remediar os impactos ambientais, o Estado recorreu ao Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia, o Planafloro, mas o ciclo de imposições continuou.
Hoje, como no passado, os grandes projetos não partem de prioridades definidas pelas populações locais. Desde os anos 2000, com as parcerias público-privadas e a adesão à Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), a bacia do Madeira se viu palco de obras como o complexo hidrelétrico do Madeira, a hidrovia de grãos, a recuperação da BR-319 e a ponte Brasil-Peru. Tudo com o mesmo padrão: benefícios concentrados, impactos distribuídos.
Os royalties pagos pelas hidrelétricas mal retornam para quem convive com os danos. A energia gerada no rio Madeira é exportada via linhas de transmissão para o Sudeste e retorna para Rondônia a preços elevados. Já a hidrovia reforça o modelo agromineral exportador, colocando Porto Velho na liderança da produção de grãos em 2023, mas ignorando no processo as próprias comunidades ribeirinhas que vivem às margens do rio.
Agora, um novo ciclo ameaça aprofundar esse modelo: o Programa Rotas de Integração (PRT). Lançado em 2024, o programa prevê novas concessões de hidrovias e rodovias, além da ponte binacional entre Guajará-Mirim e a Bolívia. Mas o que chega às comunidades tradicionais são as consequências das mudanças climáticas, das monoculturas com agrotóxicos e da perda da floresta.
O que os povos da bacia do Madeira exigem é simples: respeito à Consulta Prévia, Livre e Informada, conforme estabelecem tratados internacionais. Queremos ser ouvidos antes da imposição de obras que afetam nosso presente e ameaçam nosso futuro.
Exigimos projetos que nos incluam, respeitem nossos modos de vida e reconheçam a floresta como infraestrutura viva, que sustenta o equilíbrio climático e a diversidade cultural da amazônia.
Desenvolvimento, para nós, não é sinônimo de devastação. Nossa maior obra é a floresta em pé.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/06/infraestrutura-no-rio-madeira-desenvolvimento-para-quem.shtml
Na Amazônia, o planejamento de obras precisa garantir a participação efetiva das populações locais
28/06/2025
Iremar Antonio Ferreira
Investir em manter a floresta em pé é garantir vidas, oxigênio, alimentos e água em abundância. Mas essa não tem sido a prioridade nos projetos de infraestrutura que atingem, há décadas, a bacia do rio Madeira. Sempre conduzidos sem a devida escuta às populações locais, são acompanhados de promessas de progresso que não se concretizam para quem vive às margens dos rios.
O rio Madeira é território ancestral de povos indígenas, como os muras e os mundurukus. A resistência dos muras à colonização portuguesa levou à chamada Devassa Mura (1738-1739). Considerados "incivilizáveis", eles foram alvo de expedições punitivas após resistirem à exploração de cacau nativo e outros alimentos de valor comercial. Para sobreviver, seguiram os cursos d'água, tornando-se seringueiros, pescadores e ribeirinhos.
Na ditadura civil-militar, projetos como o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Polamazônia) e o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do BrasiL (Polonoroeste) impulsionaram a ocupação da amazônia, abrindo estradas como a BR-364 e viabilizando hidrelétricas. Tentando remediar os impactos ambientais, o Estado recorreu ao Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia, o Planafloro, mas o ciclo de imposições continuou.
Hoje, como no passado, os grandes projetos não partem de prioridades definidas pelas populações locais. Desde os anos 2000, com as parcerias público-privadas e a adesão à Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), a bacia do Madeira se viu palco de obras como o complexo hidrelétrico do Madeira, a hidrovia de grãos, a recuperação da BR-319 e a ponte Brasil-Peru. Tudo com o mesmo padrão: benefícios concentrados, impactos distribuídos.
Os royalties pagos pelas hidrelétricas mal retornam para quem convive com os danos. A energia gerada no rio Madeira é exportada via linhas de transmissão para o Sudeste e retorna para Rondônia a preços elevados. Já a hidrovia reforça o modelo agromineral exportador, colocando Porto Velho na liderança da produção de grãos em 2023, mas ignorando no processo as próprias comunidades ribeirinhas que vivem às margens do rio.
Agora, um novo ciclo ameaça aprofundar esse modelo: o Programa Rotas de Integração (PRT). Lançado em 2024, o programa prevê novas concessões de hidrovias e rodovias, além da ponte binacional entre Guajará-Mirim e a Bolívia. Mas o que chega às comunidades tradicionais são as consequências das mudanças climáticas, das monoculturas com agrotóxicos e da perda da floresta.
O que os povos da bacia do Madeira exigem é simples: respeito à Consulta Prévia, Livre e Informada, conforme estabelecem tratados internacionais. Queremos ser ouvidos antes da imposição de obras que afetam nosso presente e ameaçam nosso futuro.
Exigimos projetos que nos incluam, respeitem nossos modos de vida e reconheçam a floresta como infraestrutura viva, que sustenta o equilíbrio climático e a diversidade cultural da amazônia.
Desenvolvimento, para nós, não é sinônimo de devastação. Nossa maior obra é a floresta em pé.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/06/infraestrutura-no-rio-madeira-desenvolvimento-para-quem.shtml
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