De Povos Indígenas no Brasil
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O lado invisível da crise climática: efeitos mais graves têm cor, gênero e território
04/07/2025
Fonte: OESP - https://www.estadao.com.br/
O lado invisível da crise climática: efeitos mais graves têm cor, gênero e território
04/07/2025
Bruna Ribeiro
Quando se fala em mudanças climáticas, nem sempre se percebe que seus efeitos mais graves têm cor, gênero e território. As populações mais vulneráveis são as que mais sofrem com eventos extremos como enchentes, secas e deslizamentos, principalmente em regiões periféricas e tradicionais. Essas comunidades são historicamente vulnerabilizadas, excluídas de políticas públicas estruturantes e pouco ouvidas nos processos de tomada de decisão sobre seus próprios territórios.
Essa foi uma das reflexões abordadas pelo CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), juntamente a outras instituições da sociedade civil, em um evento paralelo da Conferência de Bonn, realizada de 16 a 26 de junho, em Bonn, na Alemanha. Neste ano, a reunião intermediária da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) foi também preparatória para a COP30, que será realizada em novembro, em Belém, no Brasil.
De acordo com dados divulgados pelo Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos (IDMC), em 2023, o Brasil é o país com o maior número de deslocamentos internos causados por desastres nas Américas. Em 2023, houve 745 mil deslocamentos forçados no país por causa de desastres climáticos.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, 62% das famílias que vivem em áreas de risco no Brasil são negras. Já o Instituto Alana divulgou que 59,58% dos estudantes de escolas localizadas em áreas de risco de inundações, enxurradas ou deslizamentos de terras são negros. Dados divulgados pelo Fundo Malala estimam que as mudanças climáticas podem impedir que 12,5 milhões de meninas em 30 países vulneráveis ao clima concluam a educação a cada ano.
Segundo Daniel Bento Teixeira, diretor-executivo do CEERT, a inclusão de dados desagregados por raça e gênero criação nos indicadores globais para a adaptação climática é essencial. "Desde o início, temos proposto uma perspectiva interseccional nos sistemas de monitoramento. Não basta saber quantas pessoas serão impactadas. É preciso saber quem são essas pessoas", afirma.
Para Daniel, qualquer ação de adaptação climática precisa partir do reconhecimento das desigualdades estruturais que atravessam o Brasil e o mundo. "É preciso olhar para quem está mais vulnerável nos diferentes espaços e entender que essa população deve fazer parte da concepção das medidas tomadas", afirma. Ele lembra que empreendimentos como parques eólicos, que fazem parte da transição energética, muitas vezes impactam diretamente populações negras, quilombolas, ribeirinhas e indígenas -- sem consulta prévia ou respeito à sua forma de viver, como determina a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
"Segundo o último Censo do IBGE, a população negra na Amazônia, que é um dos biomas com maior destaque nessa agenda, representa 75% da população total, mas isso não está na perspectiva de quem está olhando para essa região. Não se considera essa população não só como destinatária de políticas e programas, mas como quem deve conceber o que deve ser feito", exemplifica Daniel.
A urgência de um novo modelo econômico que integre saberes tradicionais e respeite a sociobiodiversidade é tema recorrente nas agendas internacionais. A juventude negra tem um papel central nessa construção. Apesar de enfrentar diariamente obstáculos que vão da violência ao racismo estrutural, essa geração tem se colocado como protagonista na agenda climática.
Para Daniel, a juventude "quer se ver possível na chamada economia verde", seja propondo soluções a partir dos seus territórios, seja ocupando espaços nos programas nacionais e internacionais voltados à transição justa no mundo do trabalho, pensando em políticas ambientais e econômicas conectadas com a equidade racial.
Conheça as demais instituições que atuaram na Conferência de Bonn, juntamente ao CEERT: Rede por Adaptação Antirracista, Clima de Política, Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB, Instituto Decodifica, SOS Mata Atla?ntica, Conectas Direitos Humanos, Vozes Negras Pelo Clima e Geledés.
https://www.estadao.com.br/emais/bruna-ribeiro/crise-climatica-cor-genero-territorio/
04/07/2025
Bruna Ribeiro
Quando se fala em mudanças climáticas, nem sempre se percebe que seus efeitos mais graves têm cor, gênero e território. As populações mais vulneráveis são as que mais sofrem com eventos extremos como enchentes, secas e deslizamentos, principalmente em regiões periféricas e tradicionais. Essas comunidades são historicamente vulnerabilizadas, excluídas de políticas públicas estruturantes e pouco ouvidas nos processos de tomada de decisão sobre seus próprios territórios.
Essa foi uma das reflexões abordadas pelo CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), juntamente a outras instituições da sociedade civil, em um evento paralelo da Conferência de Bonn, realizada de 16 a 26 de junho, em Bonn, na Alemanha. Neste ano, a reunião intermediária da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) foi também preparatória para a COP30, que será realizada em novembro, em Belém, no Brasil.
De acordo com dados divulgados pelo Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos (IDMC), em 2023, o Brasil é o país com o maior número de deslocamentos internos causados por desastres nas Américas. Em 2023, houve 745 mil deslocamentos forçados no país por causa de desastres climáticos.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, 62% das famílias que vivem em áreas de risco no Brasil são negras. Já o Instituto Alana divulgou que 59,58% dos estudantes de escolas localizadas em áreas de risco de inundações, enxurradas ou deslizamentos de terras são negros. Dados divulgados pelo Fundo Malala estimam que as mudanças climáticas podem impedir que 12,5 milhões de meninas em 30 países vulneráveis ao clima concluam a educação a cada ano.
Segundo Daniel Bento Teixeira, diretor-executivo do CEERT, a inclusão de dados desagregados por raça e gênero criação nos indicadores globais para a adaptação climática é essencial. "Desde o início, temos proposto uma perspectiva interseccional nos sistemas de monitoramento. Não basta saber quantas pessoas serão impactadas. É preciso saber quem são essas pessoas", afirma.
Para Daniel, qualquer ação de adaptação climática precisa partir do reconhecimento das desigualdades estruturais que atravessam o Brasil e o mundo. "É preciso olhar para quem está mais vulnerável nos diferentes espaços e entender que essa população deve fazer parte da concepção das medidas tomadas", afirma. Ele lembra que empreendimentos como parques eólicos, que fazem parte da transição energética, muitas vezes impactam diretamente populações negras, quilombolas, ribeirinhas e indígenas -- sem consulta prévia ou respeito à sua forma de viver, como determina a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
"Segundo o último Censo do IBGE, a população negra na Amazônia, que é um dos biomas com maior destaque nessa agenda, representa 75% da população total, mas isso não está na perspectiva de quem está olhando para essa região. Não se considera essa população não só como destinatária de políticas e programas, mas como quem deve conceber o que deve ser feito", exemplifica Daniel.
A urgência de um novo modelo econômico que integre saberes tradicionais e respeite a sociobiodiversidade é tema recorrente nas agendas internacionais. A juventude negra tem um papel central nessa construção. Apesar de enfrentar diariamente obstáculos que vão da violência ao racismo estrutural, essa geração tem se colocado como protagonista na agenda climática.
Para Daniel, a juventude "quer se ver possível na chamada economia verde", seja propondo soluções a partir dos seus territórios, seja ocupando espaços nos programas nacionais e internacionais voltados à transição justa no mundo do trabalho, pensando em políticas ambientais e econômicas conectadas com a equidade racial.
Conheça as demais instituições que atuaram na Conferência de Bonn, juntamente ao CEERT: Rede por Adaptação Antirracista, Clima de Política, Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB, Instituto Decodifica, SOS Mata Atla?ntica, Conectas Direitos Humanos, Vozes Negras Pelo Clima e Geledés.
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