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"Nosso território é nossa mãe, não abrimos mão", afirmam lideranças indígenas do Mato Grosso e Pará, em incidência na capital federal

04/11/2025

Autor: Por Adi Spezia e Hellen Loures, da Assessoria de Comunicação do Cimi

Fonte: Cimi - https://cimi.org.br



Cerca de 60 lideranças indígenas do Mato Grosso e do Pará se mobilizaram para reivindicar a demarcação, a desintrusão e a proteção de seus territórios tradicionais entre os dias 20 e 24 de outubro, em Brasília


O clamor por resistência e proteção da terra percorreu Brasília entre 20 e 24 de outubro, quando cerca de 60 lideranças indígenas do Mato Grosso e do Pará se mobilizaram para reivindicar a demarcação, a desintrusão e a proteção de seus territórios tradicionais. Entre os pontos da pauta estavam a denúncia da invasão de madeireiros, garimpeiros, fazendeiros e pescadores, além da cobrança ao Estado brasileiro pela efetivação de direitos constitucionais historicamente ignorados.

A delegação reuniu representantes dos povos Manoki, Arara do Guariba, Chiquitano, Boe Bororo, Guarani de Cocalinho, Xerente do Araguaia, Kanela do Araguaia, Xatagaka, Yudja Juruna, Apyawa Tapirapé, Ynã Karajá, Wassu, Myky, Xavante de Marãiwatsédé, Kayabi, Nambikwara e Krenak-Makacali, do Mato Grosso; e Arara, do Pará.

"Somos vários povos, mas um só sangue: indígena. Estamos aqui para falar do que a gente passa lá nos nossos territórios, cobrar pelas nossas vidas"

"Somos vários povos, mas um só sangue: indígena. Estamos aqui para falar do que a gente passa lá nos nossos territórios, cobrar pelas nossas vidas", afirmou o ancião e cacique Siravé Kayabi, do Mato Grosso.

As lideranças reivindicam a demarcação, desintrusão e proteção de seus territórios tradicionais. Do Supremo Tribunal Federal (STF) e de seu recém-empossado presidente, Edson Fachin, os indígenas cobram a conclusão do julgamento de repercussão geral que trata dos direitos constitucionais dos povos indígenas e pedem a declaração de inconstitucionalidade da Lei 14.701/2023, conhecida como "Lei do Marco Temporal".

A delegação Arara cobrou da Funai, do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) agilidade na conclusão do processo de demarcação e desintrusão da Terra Indígena. Trata-se da retirada dos mais de 1.200 ocupantes não indígenas que vivem no território, incluindo um assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

"Nós não aceitamos mais, porque isso daí está virando um jogo de comércio. Nós perdemos nossas madeiras, nossos minérios."

É muito preocupante para nós, estamos pedindo socorro, para poder fazer essa homologação imediata. E tem muito invasor, muito pescador", o cacique Ioru Arara, da TI Cachoeira Seca, no Pará. Preocupado com a segurança de seu povo, o cacique afirma: nós não aceitamos mais, porque isso daí está virando um jogo de comércio. Nós perdemos nossas madeiras, nossos minérios. Quem se dá bem é esses que vêm buscar a nossa riqueza do nosso território, completa cacique Ioru Arara.

Já na TI Cachoeira Seca, no Pará, o desmatamento acumulado ultrapassou 68.777 hectares até julho de 2025, representando 9,35% da área total. A invasão se dá pela abertura de ramais ilegais para o roubo de madeira, conforme consta na nota técnica produzida por organizações indígenas e indigenistas.

"Na TI Cachoeira Seca, no Pará, o desmatamento acumulado ultrapassou 68.777 hectares até julho de 2025, representando 9,35% da área total"

"Nós queremos a desintrusão da nossa terra, porque isso é muito importante para nós, porque ela é a nossa origem. Então, vim buscar melhoria para a nossa comunidade", explica Karakio, liderança do povo Arara, da Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca (PA).

Marta Tipuici, do povo Manoki, no Mato Grosso, relatou os impactos dessa invasão: "Nosso território continua sendo explorado, enquanto nós, donos dessa terra, não podemos usufruir dela. A gente já fez roça lá, já fez casa - e eles passaram o trator por cima. Nossos avós que começaram essa luta já se foram e, hoje, estamos aqui cobrando e ainda assim ela não foi efetivada."

"Nós queremos a desintrusão da nossa terra, porque isso é muito importante para nós, porque ela é a nossa origem"
A cacique Maria Aparecida, também do Mato Grosso, reforçou a pressão e os prejuízos que ela e sua comunidade enfrentam: "Eu quero fazer um apelo para vocês - como cacique, como mãe, como avó - porque venho passando uma pressão muito forte, que prejudica até minha saúde. Eu moro em uma terra já demarcada e homologada, mas cheia de invasores. Enquanto esperamos uma decisão, a terra foi prejudicada. Terra indígena é terra-mãe. A gente não vende, não dá, não empresta."

Sobre a desintrusão da TI Urubu Branco, Clara, coordenadora da Funai, informou que está, atualmente, a cargo do MPI, que conduz o processo de planejamento. "Há uma decisão recente para retomar a desintrusão lá no Urubu Branco, mas ela é parcial: refere-se apenas a parte dos invasores que estão no território. A Funai solicitou, via Procuradoria Federal Especializada, uma reforma dessa sentença para tentar abarcar todos os invasores no processo de desintrusão. Essa é a informação mais recente que eu tenho".

"Enquanto esperamos uma decisão, a terra foi prejudicada. Terra indígena é terra-mãe. A gente não vende, não dá, não empresta"

Nina, da Coordenação-Geral de Identificação e Delimitação da Diretoria de Demarcação de Terras Indígenas, detalhou os desafios enfrentados no Mato Grosso para avançar nas demarcações. Segundo ela, o estado tem 35 reivindicações fundiárias registradas e 17 terras em estudo, parte de um total de 560 processos em andamento no Brasil, muitos paralisados há quase seis anos. "É humanamente impossível tratar de mais de 500 reivindicações com tão poucos servidores", afirmou Nina.

As lideranças do Mato Grosso e Pará também reivindicaram a proteção de povos indígenas em isolamento voluntário.

"É muito preocupante para nós, estamos pedindo socorro, para poder fazer essa homologação imediata. E tem muito invasor, muito pescador"

Pedro Viana Martinez, diretor na Secretaria Nacional de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública, também tratou de algumas demandas do Mato Grosso, que sofre com invasões, garimpo ilegal e a presença de organizações criminosas, exigindo a atuação conjunta de múltiplos órgãos federais.

"Estamos fazendo um trabalho bem forte de desintrusão, mas a tem uma situação muito complexa - de invasão, de garimpo, com organizações criminosas e facções. A Polícia Federal, a Força Nacional, junto com a Funai, o Ibama, o ICMBio, o Exército e outros órgãos estão trabalhando forte ali para fazer a desintrusão", afirmou Martinez.

"A Terra Indígena Sararé tem uma situação muito complexa - de invasão, de garimpo, com organizações criminosas e facções"

O servidor ainda tratou ponto a ponto sobre outros territórios, com destaque para a TI Manoki, que aguarda documentação da Presidência da República. "Espero que dê certo e que o presidente consiga homologar logo a Terra Indígena Manoki, porque, para nós, no Ministério da Justiça, está tudo certo para ser feito."

A delegação também participou da Cerimônia Por Uma "Comissão Nacional Indígena da Verdade" (CNIV), realizada no Centro Cultural de Brasília (CCB). Mais de 130 pessoas estiveram presentes, incluindo lideranças indígenas, parceiros do movimento indígena e representantes do Ministério Público Federal (MPF). Na ocasião, entregaram uma minuta solicitando a criação da CNIV, ressaltando: "Lembrar para não repetir. Sem verdade, não há justiça. Sem justiça, não há futuro."

"Lembrar para não repetir. Sem verdade, não há justiça. Sem justiça, não há futuro"

https://cimi.org.br/2025/11/indigenas-do-mato-grosso-e-para-em-brasilia/
 

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