De Povos Indígenas no Brasil

Notícias

Organizações latino-americanas repudiam perseguição a Guardas Indígenas no Equador, acusadas de terrorismo

14/11/2025

Fonte: Cimi - https://cimi.org.br



Com preocupação e em solidariedade, organizações indígenas e indigenistas da América Latina, além de apoiadores da causa indígena de outros continentes, decidiram expressar em nota pública, divulgada nesta sexta-feira (14), seu repúdio à criminalização que vem sofrendo as Guardas Indígenas no Equador, além de exigirem respeito às formas de organização própria de cada comunidade ou nacionalidade.

A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) convocou uma paralisação nacional no final do último mês de setembro. Neste contexto, as Guardas Indígenas - formadas por homens e mulheres para a defesa coletiva de seus territórios - tornaram-se o foco principal da reação governamental.

Na nota, as organizações solicitam garantias às pessoas e organizações defensoras de direitos humanos que acompanham as mobilizações dos povos indígenas no Equador.

O governo equatoriano, aliado a setores da mídia, tem adotado como estratégia de criminalização uma campanha para estigmatizar, perseguir e criminalizar as Guardas Indígenas e seus apoiadores. As acusações incluem rotulá-las como "terroristas", "subversivas", "forças de choque" e até mesmo "paramilitares".

Em nota, as organizações solicitam que organismos internacionais se pronunciem e exortem publicamente o Governo Nacional do Equador sobre sua obrigação de respeitar os processos de organização própria e autodeterminação indígenas

A motivação do governo é silenciar a resistência indígena para avançar com uma agenda extrativista - mineração e petróleo, especialmente na Amazônia. Essa agenda estaria ligada ao cumprimento de acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Grandes veículos de comunicação - como El Universo, Expreso e La Hora - publicaram artigos e editoriais difamatórios, repetindo acusações oficiais. Vídeos circulando nas redes sociais amplificaram essas acusações e identificaram publicamente líderes indígenas e defensores de direitos humanos, colocando suas vidas em risco.

Leia aqui a nota em espanhol e aqui em inglês.

Abaixo, leia na íntegra em português:

Denunciamos e rejeitamos a estigmatização e perseguição do governo equatoriano e de outros atores sociais e econômicos contra as Guardas Indígenas no Equador

As organizações signatárias expressam profunda preocupação pela estigmatização e perseguição que voltou a ser realizada contra as Guardas Indígenas no Equador no contexto da paralisação nacional, taxando-as de terroristas, subversivas e até de agirem sob o comando de grupos ligados ao crime organizado.

Desde o final de setembro, após o início da paralisação convocada pela CONAIE, em vários meios de comunicação nacionais, como El Universo, Expreso ou La Hora, foram publicados artigos ou entrevistas com pessoas próximas ao governo, onde se acusa expressamente as Guardas Indígenas de serem grupos terroristas, subversivos ou forças de choque, cujo objetivo seria a desestabilização do Estado; assinalando nos mesmos termos líderes indígenas e defensoras/es de direitos humanos que acompanham os legítimos processos das guardas; fazendo referência a relatórios reservados de inteligência policial e supostas investigações que o Ministério Público estaria movendo contra essas Guardas Indígenas e pessoas que as integram; tudo isso em um claro processo de perseguição e criminalização contra elas. Ações estatais que, entre outras coisas, acarretam a negação de direitos coletivos essenciais, como o autogoverno e a autoridade territorial para a preservação de suas culturas, formas de vida e de organização.

Entre as publicações na imprensa, destaca-se o editorial do Diario Expreso de 29 de setembro de 2025, intitulado "Guardas Indígenas: resistência ancestral ou risco subversivo", recolhido e divulgado posteriormente na publicação NotiDefensa, do Ministério da Defesa, no qual se taxam as Guardas Indígenas de "força de choque organizada", e, citando a polícia, identifica-as e detalha como estão distribuídas por todo o país; além de se referir arbitrariamente a pessoas e atividades próprias das Guardas para justificar suas acusações na lógica de acusação e perseguição criminal.

Igualmente, na semana de 02 de outubro de 2025, começou a circular um vídeo pela rede social WhatsApp, recolhendo e amplificando as assinalações do artigo publicado no Expreso, e identificando ainda pessoas específicas que receberam essa formação "subversiva", líderes indígenas e pessoas defensoras de direitos humanos que acompanham esses processos das Guardas Indígenas. Este vídeo também foi divulgado na rede social Instagram, onde indica que as Guardas Indígenas "são verdadeiros grupos paramilitares a nível territorial". E também na rede social Facebook sob o título "Subversivos em formação, perigo para o Equador".

É necessário recordar que as Guardas Indígenas, integradas por homens e mulheres sob a lógica da autoridade coletiva e da defesa de seus territórios, operam sob princípios próprios como o respeito, a solidariedade e a reciprocidade expressas através da cosmovisão de cada nacionalidade indígena; e constituem formas legítimas dos povos e nacionalidades para proteger e defender seus territórios e os vínculos essenciais com os mesmos.

Indubitavelmente, estas ações são parte de uma estratégia do atual governo equatoriano e de alguns meios de comunicação, que buscam atacar, perseguir e silenciar as formas próprias de organização e resistência dos povos indígenas para proteger sua vida, territórios e cultura; reforçando as intenções governamentais de impulsionar e aprofundar uma agenda extrativista, mineira e petrolífera, especialmente na Amazônia equatoriana, para cumprir com os acordos assinados com o Fundo Monetário Internacional; o governo equatoriano demonstrou que utilizará todos os meios de repressão e controle ao seu alcance, como ocorreu na recente paralisação nacional, ou impulsionando leis e modificações constitucionais que colocam em grave risco de desaparecimento os direitos coletivos e os direitos da natureza.

Esta perseguição e estigmatização não é nova, reproduz e aprofunda falsas e repudiáveis acusações mantidas pelo estado equatoriano em anteriores mobilizações nacionais - 2019 e 2022 -, pondo em risco não apenas as formas de organização tradicional indígena, reconhecidas e protegidas a nível nacional e internacional - a Corte Constitucional expressamente reconheceu sua legitimidade em 2025 - senão também a vida, integridade e liberdade pessoal de quem lidera e integra estas Guardas e de quem acompanha esses processos. E, em geral, põe em risco a sobrevivência física e cultural de povos milenares e da natureza.

Por isso, as organizações signatárias rejeitam categoricamente estas ações e exigimos o respeito às Guardas Indígenas no Equador, às formas de organização própria de cada comunidade ou nacionalidade, e a garantia para as pessoas e organizações defensoras de direitos humanos que acompanham estes processos. Diante do exposto, fazemos os seguintes apelos urgentes:

Ao Estado equatoriano: que cesse imediatamente o discurso e as ações de estigmatização e criminalização contra as Guardas Indígenas e contra as pessoas e organizações que dão acompanhamento técnico, respeitando os direitos constitucionais e internacionais dos povos e nacionalidades indígenas.
Aos meios de comunicação: que sejam respeitosos com os direitos dos povos indígenas, cumpram com sua responsabilidade ética e não divulguem informação não contrastada e estigmatizada, que atenta contra as formas próprias de organização indígena, como as Guardas Indígenas, pondo em risco a vida e a liberdade de guardas, líderes e defensoras/es que acompanham estes legítimos processos.
Aos sistemas internacionais e regionais de direitos humanos, aos Estados e às instituições europeias e multilaterais: que se pronunciem e exortem publicamente o Governo Nacional do Equador sobre sua obrigação de respeitar os processos de organização própria e autodeterminação indígenas, de acordo com o marco constitucional e internacional, especificamente abstendo-se de estigmatizar, perseguir e criminalizar o trabalho legítimo das Guardas Indígenas e de quem as acompanha; e que garantam sua integridade física, espiritual e cultural.
Aos sistemas internacionais e regionais de direitos humanos, aos Estados e às instituições europeias e multilaterais: que mantenham uma observação ativa e sustentada sobre a situação de desmantelamento do estado plurinacional e intercultural de direitos, do direito de associação e dos direitos da Natureza; tudo isso impulsionado pelo Governo Nacional do Equador em funções através de diversas estratégias e com a ação conjunta da institucionalidade.
Defender a vida, os territórios, os direitos humanos e a liberdade de expressão e associação não é crime, é um direito!

https://cimi.org.br/2025/11/criminalizacao-guardas-indigenas-equador-internacional-america-latina/
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.