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Em nota, ABA denuncia e repudia novos ataques às comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito Kue e Mbarakay, no Mato Grosso do Sul
17/11/2025
Fonte: Cimi - https://cimi.org.br
Em meio à escalada de violência no Cone Sul do Mato Grosso do Sul, antropólogos alertam para violações constitucionais, impactos dos agrotóxicos e omissão estatal que mantêm comunidades Guarani e Kaiowá sob ataque e sem acesso aos seus territórios tradicionais
Em nota divulgada na segunda-feira (10), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), sua Comissão de Assuntos Indígenas (CAI) e seu Comitê de Laudos Antropológicos denunciam novos ataques armados contra as comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito Kue e Mbarakay, no Cone Sul do Mato Grosso do Sul. Entre os dias 4 e 5 de novembro, os indígenas foram alvo de tiros pela segunda vez em menos de três dias ao tentarem retornar aos seus territórios de ocupação tradicional, de onde foram expulsos.
As comunidades já haviam protagonizado, em 2012, a mobilização nacional "Somos todos Kaiowá", após sofrerem ataques semelhantes. A Terra Indígena (TI) Iguatemipegua I - que abrange os tekoha de Pyelito e Mbarakay - foi reconhecida oficialmente em 2013, mas segue sem demarcação efetiva. Diante de mais de uma década de paralisações e violações, os Guarani e Kaiowá decidiram retomar seus territórios por conta própria.
"ABA denuncia novos ataques armados contra as comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito Kue e Mbarakay, no Cone Sul do Mato Grosso do Su"
A ABA destaca que os tekoha são fundamentais para a vida física, espiritual e coletiva dos Guarani e Kaiowá, e que a permanência fora dessas terras gera adoecimento e vulnerabilidade. "É de fundamental importância ter em conta que para as comunidades Kaiowá (lê-se "kaiová") seus tekoha são seus suportes de vida, que lhes foram entregues na origem do mundo pelas divindades, para que dela fizessem bom uso e cuidassem", destaca o documento.
Na nota a ABA aponta o avanço do agronegócio, o uso intensivo de agrotóxicos, a devastação ambiental e o racismo estrutural como fatores que agravam a violência, frequentemente associada à atuação de milícias privadas e à omissão estatal.
A entidade lembra ainda que outro conflito grave, envolvendo a comunidade Guyraroka, ocorreu dias antes, após contaminação por agrotóxicos. Para a ABA, a repetição dos ataques e o descumprimento das obrigações constitucionais colocam em risco a própria garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas previstos no Artigo 231 da Constituição.
"O avanço do agronegócio, o uso intensivo de agrotóxicos, a devastação ambiental e o racismo estrutural são fatores que agravam a violência"
Com a Nota os antropólogos manifestam "profunda preocupação com a possibilidade que se avizinha de que os ditames constitucionais, que preveem a garantia, pelo Estado brasileiro, do direito à demarcação das terras de ocupação tradicional, sejam desrespeitados, ajudando a promover a continuidade da violência contra os indígenas."
A Associação exige investigação imediata dos ataques e cobra que Executivo, Legislativo, Judiciário e órgãos de direitos humanos garantam a demarcação integral das terras tradicionalmente ocupadas pelos Kaiowá, conforme determina a Constituição Federal.
Leia a nota na íntegra:
Nota da ABA de denúncia e repúdio a novos ataques às comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito e Mbarakay, no Mato Grosso do Sul
Na madrugada do dia 04 para 05 de novembro de 2025, as comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito Kue e de Mbarakay, no cone sul do Mato Grosso do Sul, ao tentarem retornar aos territórios de ocupação tradicional de onde haviam sido expulsas, viram-se novamente alvo de ataques a tiros, pela segunda vez em menos de três dias.
Ambas comunidades já haviam tentado retornar aos seus territórios em 2012, quando se tornaram protagonistas de uma resistência a ataques armados, que mobilizou a opinião pública na campanha com o mote "Somos todos Kaiowá". Após esta mobilização, a Terra Indígena Iguatemipegua I, que engloba os tekoha (ou seja, as terras) de Pyelito Kue e de Mbarakay, foi reconhecida oficialmente pelo Estado, em publicação no D.O.U. em 2013. Porém, até o momento encontra-se sem ser demarcada.
Passados doze anos daquela publicação oficial e sem verem avançar os meios formais para voltar a ocupar seus tekoha (lê-se "tekorrá"), as comunidades decidiram não esperar mais e voltaram.
É de fundamental importância ter em conta que para as comunidades Kaiowá (lê-se "kaiová") seus tekoha são seus suportes de vida, que lhes foram entregues na origem do mundo pelas divindades, para que dela fizessem bom uso e cuidassem. A vida, portanto, fora dos tekoha é uma subvida, geradora de perturbações e de doenças, tanto nos indivíduos que compõem estas comunidades quanto nelas próprias, coletivamente. Acresce-se a isto o uso indiscriminado de agrotóxicos nas monoculturas de exportação que as cercam, poluindo-se as águas e os cultivos dos indígenas, num estado cujo nome de Mato Grosso (do Sul) hoje conta, em seu Cone Sul, com uma vegetação nativa que não ultrapassa a média de 2% da cobertura original, além de um racismo endêmico e de uma extrema morosidade nos processos de demarcação, pela pressão do agronegócio. Este encontra-se seja representado fortemente por políticos do estado, seja organizado em sindicatos, atuando com repressão privada armada e contando com suporte das forças policiais locais. Neste clima geral, veículos de informação como o Repórter Brasil, além do Conselho Indigenista Missionário relatam denúncias dos indígenas de ataques a tiros, espancamento e outras violências, físicas e psicológicas.
Registra-se, igualmente, que apenas há pouco mais de uma semana, outro caso, o da comunidade de Guyraroka, que também aguarda a demarcação de sua terra, resultou em um episódio de nível máximo de conflito, com reação da comunidade justamente ao uso do agrotóxico, a afetar a saúde de suas famílias.
Após mais estes ataques, que se juntam a uma série longa e constante de outros, a ABA, através da sua Comissão de Assuntos Indígenas e do Comitê de Laudos Antropológicos, vem manifestar profunda preocupação com a possibilidade que se avizinha de que os ditames constitucionais, que preveem a garantia, pelo Estado brasileiro, do direito à demarcação das terras de ocupação tradicional, sejam desrespeitados, ajudando a promover a continuidade da violência contra os indígenas. Na prática, estes ditames significam que Executivo, Legislativo e Judiciário têm a tarefa constitucional de garantir aos povos indígenas o acesso aos seus territórios de uso e ocupação tradicional, e o direito à vida com dignidade neles, "segundo seus usos, costumes e tradições", como estabelecido no Artigo 231 da Constituição. Por todo o exposto, com suas ações os Kaiowá demonstram que este preceito deve ser um imperativo instransponível, em termos legais, mas também morais, em nosso país.
Nesses termos, a ABA, ao tempo que demanda a profunda investigação dos atos de violência aqui apontados, e a tomada de providências correlatas pelas forças de segurança pública e de direitos humanos do Estado brasileiro, demanda igualmente à Presidência da República, ao Ministério dos Povos Indígenas, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal que, em seus papéis institucionais perante os Kaiowá, velem pela Constituição, garantindo integralmente a demarcação de suas terras tradicionalmente ocupadas.
Brasília, 10 de novembro de 2025.
Associação Brasileira de Antropologia (ABA); sua Comissão de Assuntos Indígenas (CAI); e seu Comitê de Laudos Antropológicos
https://cimi.org.br/2025/11/nota-aba-denuncia-repudio-ataques-indigenas-pyelito-kue-mbarakay-ms/
Em nota divulgada na segunda-feira (10), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), sua Comissão de Assuntos Indígenas (CAI) e seu Comitê de Laudos Antropológicos denunciam novos ataques armados contra as comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito Kue e Mbarakay, no Cone Sul do Mato Grosso do Sul. Entre os dias 4 e 5 de novembro, os indígenas foram alvo de tiros pela segunda vez em menos de três dias ao tentarem retornar aos seus territórios de ocupação tradicional, de onde foram expulsos.
As comunidades já haviam protagonizado, em 2012, a mobilização nacional "Somos todos Kaiowá", após sofrerem ataques semelhantes. A Terra Indígena (TI) Iguatemipegua I - que abrange os tekoha de Pyelito e Mbarakay - foi reconhecida oficialmente em 2013, mas segue sem demarcação efetiva. Diante de mais de uma década de paralisações e violações, os Guarani e Kaiowá decidiram retomar seus territórios por conta própria.
"ABA denuncia novos ataques armados contra as comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito Kue e Mbarakay, no Cone Sul do Mato Grosso do Su"
A ABA destaca que os tekoha são fundamentais para a vida física, espiritual e coletiva dos Guarani e Kaiowá, e que a permanência fora dessas terras gera adoecimento e vulnerabilidade. "É de fundamental importância ter em conta que para as comunidades Kaiowá (lê-se "kaiová") seus tekoha são seus suportes de vida, que lhes foram entregues na origem do mundo pelas divindades, para que dela fizessem bom uso e cuidassem", destaca o documento.
Na nota a ABA aponta o avanço do agronegócio, o uso intensivo de agrotóxicos, a devastação ambiental e o racismo estrutural como fatores que agravam a violência, frequentemente associada à atuação de milícias privadas e à omissão estatal.
A entidade lembra ainda que outro conflito grave, envolvendo a comunidade Guyraroka, ocorreu dias antes, após contaminação por agrotóxicos. Para a ABA, a repetição dos ataques e o descumprimento das obrigações constitucionais colocam em risco a própria garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas previstos no Artigo 231 da Constituição.
"O avanço do agronegócio, o uso intensivo de agrotóxicos, a devastação ambiental e o racismo estrutural são fatores que agravam a violência"
Com a Nota os antropólogos manifestam "profunda preocupação com a possibilidade que se avizinha de que os ditames constitucionais, que preveem a garantia, pelo Estado brasileiro, do direito à demarcação das terras de ocupação tradicional, sejam desrespeitados, ajudando a promover a continuidade da violência contra os indígenas."
A Associação exige investigação imediata dos ataques e cobra que Executivo, Legislativo, Judiciário e órgãos de direitos humanos garantam a demarcação integral das terras tradicionalmente ocupadas pelos Kaiowá, conforme determina a Constituição Federal.
Leia a nota na íntegra:
Nota da ABA de denúncia e repúdio a novos ataques às comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito e Mbarakay, no Mato Grosso do Sul
Na madrugada do dia 04 para 05 de novembro de 2025, as comunidades indígenas Kaiowá de Pyelito Kue e de Mbarakay, no cone sul do Mato Grosso do Sul, ao tentarem retornar aos territórios de ocupação tradicional de onde haviam sido expulsas, viram-se novamente alvo de ataques a tiros, pela segunda vez em menos de três dias.
Ambas comunidades já haviam tentado retornar aos seus territórios em 2012, quando se tornaram protagonistas de uma resistência a ataques armados, que mobilizou a opinião pública na campanha com o mote "Somos todos Kaiowá". Após esta mobilização, a Terra Indígena Iguatemipegua I, que engloba os tekoha (ou seja, as terras) de Pyelito Kue e de Mbarakay, foi reconhecida oficialmente pelo Estado, em publicação no D.O.U. em 2013. Porém, até o momento encontra-se sem ser demarcada.
Passados doze anos daquela publicação oficial e sem verem avançar os meios formais para voltar a ocupar seus tekoha (lê-se "tekorrá"), as comunidades decidiram não esperar mais e voltaram.
É de fundamental importância ter em conta que para as comunidades Kaiowá (lê-se "kaiová") seus tekoha são seus suportes de vida, que lhes foram entregues na origem do mundo pelas divindades, para que dela fizessem bom uso e cuidassem. A vida, portanto, fora dos tekoha é uma subvida, geradora de perturbações e de doenças, tanto nos indivíduos que compõem estas comunidades quanto nelas próprias, coletivamente. Acresce-se a isto o uso indiscriminado de agrotóxicos nas monoculturas de exportação que as cercam, poluindo-se as águas e os cultivos dos indígenas, num estado cujo nome de Mato Grosso (do Sul) hoje conta, em seu Cone Sul, com uma vegetação nativa que não ultrapassa a média de 2% da cobertura original, além de um racismo endêmico e de uma extrema morosidade nos processos de demarcação, pela pressão do agronegócio. Este encontra-se seja representado fortemente por políticos do estado, seja organizado em sindicatos, atuando com repressão privada armada e contando com suporte das forças policiais locais. Neste clima geral, veículos de informação como o Repórter Brasil, além do Conselho Indigenista Missionário relatam denúncias dos indígenas de ataques a tiros, espancamento e outras violências, físicas e psicológicas.
Registra-se, igualmente, que apenas há pouco mais de uma semana, outro caso, o da comunidade de Guyraroka, que também aguarda a demarcação de sua terra, resultou em um episódio de nível máximo de conflito, com reação da comunidade justamente ao uso do agrotóxico, a afetar a saúde de suas famílias.
Após mais estes ataques, que se juntam a uma série longa e constante de outros, a ABA, através da sua Comissão de Assuntos Indígenas e do Comitê de Laudos Antropológicos, vem manifestar profunda preocupação com a possibilidade que se avizinha de que os ditames constitucionais, que preveem a garantia, pelo Estado brasileiro, do direito à demarcação das terras de ocupação tradicional, sejam desrespeitados, ajudando a promover a continuidade da violência contra os indígenas. Na prática, estes ditames significam que Executivo, Legislativo e Judiciário têm a tarefa constitucional de garantir aos povos indígenas o acesso aos seus territórios de uso e ocupação tradicional, e o direito à vida com dignidade neles, "segundo seus usos, costumes e tradições", como estabelecido no Artigo 231 da Constituição. Por todo o exposto, com suas ações os Kaiowá demonstram que este preceito deve ser um imperativo instransponível, em termos legais, mas também morais, em nosso país.
Nesses termos, a ABA, ao tempo que demanda a profunda investigação dos atos de violência aqui apontados, e a tomada de providências correlatas pelas forças de segurança pública e de direitos humanos do Estado brasileiro, demanda igualmente à Presidência da República, ao Ministério dos Povos Indígenas, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal que, em seus papéis institucionais perante os Kaiowá, velem pela Constituição, garantindo integralmente a demarcação de suas terras tradicionalmente ocupadas.
Brasília, 10 de novembro de 2025.
Associação Brasileira de Antropologia (ABA); sua Comissão de Assuntos Indígenas (CAI); e seu Comitê de Laudos Antropológicos
https://cimi.org.br/2025/11/nota-aba-denuncia-repudio-ataques-indigenas-pyelito-kue-mbarakay-ms/
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