De Povos Indígenas no Brasil
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A oportunidade de Chorrobocón: a aposta nos minerais críticos
28/11/2025
Autor: Por Bram Ebus
Fonte: InfoAmazonia - https://infoamazonia.org
Nas florestas colombianas, onde o verde profundo da Amazônia se choca com a pobreza e a marginalização, prospera um negócio oculto e perigoso. Nos recantos remotos de Guainía, comunidades indígenas como os Puinave estão presas ao garimpo ilegal, uma atividade que lhes permite sobreviver, mas ameaça destruir a terra que habitam. Com o declínio do ouro, os minerais estratégicos surgem como uma promessa de futuro. No entanto, essa nova corrida por minérios, que promete ser menos poluente que a mineração de ouro, pode acarretar enormes riscos ambientais e sociais.
A Amazon Underworld conversou com líderes de comunidades indígenas, garimpeiros, traficantes e comerciantes, autoridades da fiscalização e geólogos para entender melhor essa nova corrida por minérios e suas implicações. Nossa equipe também recebeu amostras coletadas no departamento de Guainía, na Colômbia, e nos estados venezuelanos de Amazonas e Bolívar, das chamadas "areias negras", um concentrado que contém alguns dos minerais críticos mais procurados do mundo, escondidos no coração da floresta tropical. Avaliadas em um laboratório geológico profissional, os resultados dos testes indicaram altos níveis de estanho, tântalo, além de monazita e xenótimo, que contêm terras raras.
A seis horas do município amazônico de Puerto Inírida, em Guainía, fica Chorrobocón, uma reserva indígena próxima aos icônicos cerros de Mavecure, um destino turístico muito procurado. O principal vilarejo de Chorrobocón está separado do acesso direto a Inírida pelas corredeiras de Zamuro, onde os moradores locais arriscam a vida batendo suas lanchas contra ondas e rochas ou as arrastando pela margem do rio. Para as embarcações mais pesadas da Marinha, as corredeiras funcionam como uma barreira natural que as mantém a leste, enquanto Chorrobocón fica no lado oeste. É justamente a partir desse ponto que se começa a sentir uma presença mais marcante de dissidências das antigas FARC, integradas por aqueles que não aceitaram o acordo de paz de 2016 com o Estado colombiano ou abandonaram o processo.
A comunidade indígena da etnia Puinave é composta por algumas casas de madeira habitadas por cerca de 750 pessoas. Em frente, três balsas de garimpo com tetos de palha e equipamentos de processamento estão amarradas ao longo da margem do rio.
"Garimpar [ouro] é o único meio ou alternativa que nós temos para conseguir, ou com o qual temos conseguido, sustento para nossas famílias", diz Luis Camelo, o capitão da comunidade, após a missa evangélica vespertina em um templo.
Garimpar [ouro] é o único meio ou alternativa que nós temos para conseguir, ou com o qual temos conseguido, sustento para nossas famílias
Luis Camelo, capitão da comunidade.
Quando os garimpeiros brasileiros chegaram em busca de ouro, no início da década de 1990, as comunidades locais rapidamente aprenderam a construir e operar suas próprias balsas. A extração de minerais, incluindo tungstênio, ouro e prata, prosperou em Zancudo, Cerro Tigre e até mesmo dentro da Reserva Natural Nacional Puinawai. Desde então, comunidades como Chorrobocón têm se sustentado por meio do garimpo.
Carolina Florez Hernández, uma mulher tímida e de voz suave, coordena a guarda indígena de Chorrobocón. Ela explica como o garimpo se tornou intergeracional: "A minha mãe trabalhava no garimpo antes de eu nascer; eu nasci e cresci lá, e passei a maior parte da minha infância lá, trabalhando com a minha mãe... Eu tenho certeza de que nossos filhos continuarão trabalhando no garimpo ilegal, assim como nós", acrescenta, resignada.
Mergulhadores equipados com cintos de chumbo e oxigênio comprimido que chega por um bocal usam mangueiras para sugar sedimentos do leito dos rios e extrair ouro. Às vezes, eles descem a profundidades superiores a 25 metros, arriscando suas vidas, pois as margens ou declives subaquáticos podem desabar, soterrando-os no leito do rio. No entanto, o garimpo de ouro pode não ser o fator determinante do futuro da comunidade. O esgotamento das jazidas minerais é motivo de preocupação: "É que, como meus colegas estão dizendo hoje, a produção de ouro não é mais a mesma. Havia toneladas e toneladas com que costumávamos trabalhar, mas essa é a pedra que sobrou, e eu acho que em cinco anos não vai ter mais nada", diz Luis Camelo, referindo-se ao declínio na obtenção de ouro. Por isso, a comunidade está avaliando a exploração de minerais críticos como alternativa.
Os garimpeiros pagam 2 milhões de pesos colombianos (US$ 500) por meio quilo de mercúrio e usam 300 gramas para obter 100 gramas de ouro. Cientes dos danos ambientais causados por esse uso, eles têm esperança de que a comunidade consiga legalizar as operações de minerais críticos. "Se a gente conseguir trabalhar com essas areias negras... que nos legalizem, para que a gente não trabalhe com medo. Porque as areias negras não usam mercúrio. Se nós tivéssemos outra fonte de renda, deixaríamos de trabalhar no garimpo ilegal. Nós continuamos trabalhando porque não temos outra fonte de renda", diz um deles.
Embora o garimpo de minerais críticos seja considerado menos prejudicial do que o do ouro, o impacto ambiental é inegável. Na República Democrática do Congo, na África Central, a extração de coltan causou muito desmatamento e poluição da água, enquanto destrói habitats de gorilas em pontos críticos de biodiversidade. Da mesma forma, a mineração de terras raras em Mianmar, no Sudeste Asiático, causou grave contaminação do solo e da água por produtos químicos tóxicos, como o sulfato de amônio, contribuindo para o desmatamento e o deslocamento de comunidades que tiveram que deixar terras agrícolas contaminadas.
O professor Thomas Cramer é um geólogo alemão que leciona na Universidade Nacional de Bogotá. De jaleco azul, ele nos mostra seu gabinete, que parece um pequeno museu geológico. Abrindo uma vitrine com pedras, ele se aproxima de um equipamento que emite sinais preocupantes. "É que os efeitos na saúde não aparecem imediatamente se a dose não for muito alta", alerta, enquanto o número na tela continua subindo. É a radioatividade, a causa silenciosa de doenças presente em alguns dos minérios em que há a presença de coltan. Esses riscos à saúde não são nada desconhecidos dos garimpeiros informais que trabalham sem qualquer acompanhamento, equipamentos de proteção ou capacitação.
Além dos efeitos desconhecidos dos baixos níveis de radioatividade de algumas das "areias negras", há uma falta de informação sobre quais minerais os garimpeiros de Chorrobocón estão encontrando. "Conhecimento é poder!", exclama Cramer, argumentando que as comunidades fazem parte de um desequilíbrio de poder em que os compradores globais sabem mais sobre os minerais do que quem os extrai, o que também se aplica ao governo colombiano. A Agência Nacional de Mineração disse à Amazon Underworld que há falta de conhecimento sobre as "areias negras" e que não consegue diferenciar os minerais ilegais dos legais quando são apresentados.
Em Chorrobocón, ao abrir um pote de plástico com areia fina de um cinza escuro, Luis diz: "Eu tenho aqui na minha frente, agora. É um material desconhecido no momento, mas nós vamos mandar examinar para ver se é um material de valor. Vamos trabalhar."
"Se encontrarmos um comprador para a areia negra, vamos converter as próprias balsas e máquinas usadas no garimpo de ouro para trabalhar com a areia negra", explica.
As guardas indígenas, como a que Carolina coordena, são grupos civis de defesa territorial baseados em princípios de não violência. Com a presença da guerrilha em seu território, conseguem negociar acordos de respeito mútuo. "Eles têm suas regras e nós também temos as nossas. Eles nos respeitam e nós respeitamos eles", explica Carolina.
Diferentemente de outros grupos de guarda indígena que normalmente patrulham terras ancestrais para impedir a entrada de invasores armados ou garimpeiros ilegais, a guarda indígena de Chorrobocón, com 20 membros, protege seu próprio equipamento de garimpo ilegal. "No dia em que o exército parar as balsas [de garimpo], a guarda indígena vai se defender", afirma um membro.
Em 1992, as comunidades do povo Puinave, em Guainía, estabeleceram uma Zona de Mineração Indígena abrangendo quase 48 mil hectares ao longo do rio Inírida para formalizar suas atividades de garimpo de ouro. A zona operou até o vencimento das licenças em 2005, após enfrentar contestações judiciais de organizações indígenas nacionais colombianas, como a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), que entraram com pedidos de liminar para conter o avanço da mineração no Inírida. Foi então que as iniciativas de garimpo informal começaram a predominar.
Como reserva indígena reconhecida com autogoverno autônomo constitucionalmente protegido, a reserva Remanso-Chorrobocón obteve do Estado 13 autorizações coletivas de mineração em 2021, mas não tinha as licenças ambientais para explorar legalmente os recursos naturais. Posteriormente, em outubro de 2024, o governo colombiano emitiu um decreto concedendo poderes ambientais às autoridades indígenas dentro de suas terras coletivas.
Em janeiro de 2025, a Reserva Indígena Remanso-Chorrobocón solicitou a exclusão de mais de mil hectares de uma reserva florestal protegida, para atividades de mineração. No entanto, o Ministério do Meio Ambiente negou o pedido naquele mesmo mês, argumentando que a exclusão de áreas de reserva só pode ser concedida por razões de utilidade pública ou interesse social, desde não se prejudique a função de proteção da reserva.
Os membros da comunidade percebem essas restrições impostas como um tratamento paternalista. "Nós temos as mesmas necessidades de vocês, brancos, as mesmas necessidades de funcionários do governo nacional", explica Luis Camelo. "Vocês recebem os seus salários todo mês, enquanto nós, das comunidades indígenas, não temos salário. Como é possível que a gente passe fome aqui, cercados de riquezas? Nós temos que trabalhar", acrescenta.
Campos Elías Flores Hernández, um puinave de 50 anos que administra balsas de garimpo e explorou ouro toda a vida, explica as pressões econômicas. "Agora nós também queremos comida de branco", reivindica. Embora as comunidades ribeirinhas tradicionalmente dependam da pesca para obter alimentos básicos, adquirir carne é caro nessas áreas remotas da Amazônia. "Antes nós dormíamos em redes, agora dormimos em colchões." Itens de primeira necessidade precisam ser comprados em Puerto Inírida, uma viagem de ida e volta que custa 2 milhões de pesos colombianos, o equivalente a US$ 500; além do pão de mandioca, a comunidade não tem muito o que vender. Com o dinheiro do garimpo, eles têm mandado os filhos para estudar fora do território. "É por isso que a gente está aqui, ralando, arriscando a vida no garimpo", diz Campo Elías.
É por isso que a gente está aqui, ralando, arriscando a vida no garimpo.
Campos Elías Flores Hernández, administrador de balsa.
Para preservar seu modelo de subsistência, comunidades como as do rio Inírida desenvolveram estratégias de proteção, incluindo sistemas de alerta precoce que informam sobre a presença de forças policiais do governo no território. "Já têm alguém no cerro Mavecure com um rádio, que avisa quando chegam", explica um garimpeiro venezuelano, que antes trabalhava no rio Atabapo e agora trabalha em um ponto do rio que está abaixo de Chorrobocón. Além dos membros da comunidade que operam balsas de garimpo, pessoas não indígenas, chamadas pela comunidade de "colonos", entraram na região para garimpar, muitas vezes pagando uma parte da sua produção às autoridades indígenas.
Luis, plenamente ciente de que o garimpo é a realidade econômica de Chorrobocón, para o bem ou para o mal, entende que, se não eles conseguirem legalizar suas operações ou identificar corretamente os minerais que têm, serão forçados a vender no mercado negro, provavelmente a preços ditados por comerciantes temerários que buscam lucrar com o comércio ilegal. "A empresa com a qual estamos conversando é a Gracor", diz Luis. "Eu entendo que sim, que ela está fazendo uma oferta para que possamos trabalhar ilegalmente."
https://infoamazonia.org/2025/11/28/a-oportunidade-de-chorrobocon-a-aposta-nos-minerais-criticos/
A Amazon Underworld conversou com líderes de comunidades indígenas, garimpeiros, traficantes e comerciantes, autoridades da fiscalização e geólogos para entender melhor essa nova corrida por minérios e suas implicações. Nossa equipe também recebeu amostras coletadas no departamento de Guainía, na Colômbia, e nos estados venezuelanos de Amazonas e Bolívar, das chamadas "areias negras", um concentrado que contém alguns dos minerais críticos mais procurados do mundo, escondidos no coração da floresta tropical. Avaliadas em um laboratório geológico profissional, os resultados dos testes indicaram altos níveis de estanho, tântalo, além de monazita e xenótimo, que contêm terras raras.
A seis horas do município amazônico de Puerto Inírida, em Guainía, fica Chorrobocón, uma reserva indígena próxima aos icônicos cerros de Mavecure, um destino turístico muito procurado. O principal vilarejo de Chorrobocón está separado do acesso direto a Inírida pelas corredeiras de Zamuro, onde os moradores locais arriscam a vida batendo suas lanchas contra ondas e rochas ou as arrastando pela margem do rio. Para as embarcações mais pesadas da Marinha, as corredeiras funcionam como uma barreira natural que as mantém a leste, enquanto Chorrobocón fica no lado oeste. É justamente a partir desse ponto que se começa a sentir uma presença mais marcante de dissidências das antigas FARC, integradas por aqueles que não aceitaram o acordo de paz de 2016 com o Estado colombiano ou abandonaram o processo.
A comunidade indígena da etnia Puinave é composta por algumas casas de madeira habitadas por cerca de 750 pessoas. Em frente, três balsas de garimpo com tetos de palha e equipamentos de processamento estão amarradas ao longo da margem do rio.
"Garimpar [ouro] é o único meio ou alternativa que nós temos para conseguir, ou com o qual temos conseguido, sustento para nossas famílias", diz Luis Camelo, o capitão da comunidade, após a missa evangélica vespertina em um templo.
Garimpar [ouro] é o único meio ou alternativa que nós temos para conseguir, ou com o qual temos conseguido, sustento para nossas famílias
Luis Camelo, capitão da comunidade.
Quando os garimpeiros brasileiros chegaram em busca de ouro, no início da década de 1990, as comunidades locais rapidamente aprenderam a construir e operar suas próprias balsas. A extração de minerais, incluindo tungstênio, ouro e prata, prosperou em Zancudo, Cerro Tigre e até mesmo dentro da Reserva Natural Nacional Puinawai. Desde então, comunidades como Chorrobocón têm se sustentado por meio do garimpo.
Carolina Florez Hernández, uma mulher tímida e de voz suave, coordena a guarda indígena de Chorrobocón. Ela explica como o garimpo se tornou intergeracional: "A minha mãe trabalhava no garimpo antes de eu nascer; eu nasci e cresci lá, e passei a maior parte da minha infância lá, trabalhando com a minha mãe... Eu tenho certeza de que nossos filhos continuarão trabalhando no garimpo ilegal, assim como nós", acrescenta, resignada.
Mergulhadores equipados com cintos de chumbo e oxigênio comprimido que chega por um bocal usam mangueiras para sugar sedimentos do leito dos rios e extrair ouro. Às vezes, eles descem a profundidades superiores a 25 metros, arriscando suas vidas, pois as margens ou declives subaquáticos podem desabar, soterrando-os no leito do rio. No entanto, o garimpo de ouro pode não ser o fator determinante do futuro da comunidade. O esgotamento das jazidas minerais é motivo de preocupação: "É que, como meus colegas estão dizendo hoje, a produção de ouro não é mais a mesma. Havia toneladas e toneladas com que costumávamos trabalhar, mas essa é a pedra que sobrou, e eu acho que em cinco anos não vai ter mais nada", diz Luis Camelo, referindo-se ao declínio na obtenção de ouro. Por isso, a comunidade está avaliando a exploração de minerais críticos como alternativa.
Os garimpeiros pagam 2 milhões de pesos colombianos (US$ 500) por meio quilo de mercúrio e usam 300 gramas para obter 100 gramas de ouro. Cientes dos danos ambientais causados por esse uso, eles têm esperança de que a comunidade consiga legalizar as operações de minerais críticos. "Se a gente conseguir trabalhar com essas areias negras... que nos legalizem, para que a gente não trabalhe com medo. Porque as areias negras não usam mercúrio. Se nós tivéssemos outra fonte de renda, deixaríamos de trabalhar no garimpo ilegal. Nós continuamos trabalhando porque não temos outra fonte de renda", diz um deles.
Embora o garimpo de minerais críticos seja considerado menos prejudicial do que o do ouro, o impacto ambiental é inegável. Na República Democrática do Congo, na África Central, a extração de coltan causou muito desmatamento e poluição da água, enquanto destrói habitats de gorilas em pontos críticos de biodiversidade. Da mesma forma, a mineração de terras raras em Mianmar, no Sudeste Asiático, causou grave contaminação do solo e da água por produtos químicos tóxicos, como o sulfato de amônio, contribuindo para o desmatamento e o deslocamento de comunidades que tiveram que deixar terras agrícolas contaminadas.
O professor Thomas Cramer é um geólogo alemão que leciona na Universidade Nacional de Bogotá. De jaleco azul, ele nos mostra seu gabinete, que parece um pequeno museu geológico. Abrindo uma vitrine com pedras, ele se aproxima de um equipamento que emite sinais preocupantes. "É que os efeitos na saúde não aparecem imediatamente se a dose não for muito alta", alerta, enquanto o número na tela continua subindo. É a radioatividade, a causa silenciosa de doenças presente em alguns dos minérios em que há a presença de coltan. Esses riscos à saúde não são nada desconhecidos dos garimpeiros informais que trabalham sem qualquer acompanhamento, equipamentos de proteção ou capacitação.
Além dos efeitos desconhecidos dos baixos níveis de radioatividade de algumas das "areias negras", há uma falta de informação sobre quais minerais os garimpeiros de Chorrobocón estão encontrando. "Conhecimento é poder!", exclama Cramer, argumentando que as comunidades fazem parte de um desequilíbrio de poder em que os compradores globais sabem mais sobre os minerais do que quem os extrai, o que também se aplica ao governo colombiano. A Agência Nacional de Mineração disse à Amazon Underworld que há falta de conhecimento sobre as "areias negras" e que não consegue diferenciar os minerais ilegais dos legais quando são apresentados.
Em Chorrobocón, ao abrir um pote de plástico com areia fina de um cinza escuro, Luis diz: "Eu tenho aqui na minha frente, agora. É um material desconhecido no momento, mas nós vamos mandar examinar para ver se é um material de valor. Vamos trabalhar."
"Se encontrarmos um comprador para a areia negra, vamos converter as próprias balsas e máquinas usadas no garimpo de ouro para trabalhar com a areia negra", explica.
As guardas indígenas, como a que Carolina coordena, são grupos civis de defesa territorial baseados em princípios de não violência. Com a presença da guerrilha em seu território, conseguem negociar acordos de respeito mútuo. "Eles têm suas regras e nós também temos as nossas. Eles nos respeitam e nós respeitamos eles", explica Carolina.
Diferentemente de outros grupos de guarda indígena que normalmente patrulham terras ancestrais para impedir a entrada de invasores armados ou garimpeiros ilegais, a guarda indígena de Chorrobocón, com 20 membros, protege seu próprio equipamento de garimpo ilegal. "No dia em que o exército parar as balsas [de garimpo], a guarda indígena vai se defender", afirma um membro.
Em 1992, as comunidades do povo Puinave, em Guainía, estabeleceram uma Zona de Mineração Indígena abrangendo quase 48 mil hectares ao longo do rio Inírida para formalizar suas atividades de garimpo de ouro. A zona operou até o vencimento das licenças em 2005, após enfrentar contestações judiciais de organizações indígenas nacionais colombianas, como a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), que entraram com pedidos de liminar para conter o avanço da mineração no Inírida. Foi então que as iniciativas de garimpo informal começaram a predominar.
Como reserva indígena reconhecida com autogoverno autônomo constitucionalmente protegido, a reserva Remanso-Chorrobocón obteve do Estado 13 autorizações coletivas de mineração em 2021, mas não tinha as licenças ambientais para explorar legalmente os recursos naturais. Posteriormente, em outubro de 2024, o governo colombiano emitiu um decreto concedendo poderes ambientais às autoridades indígenas dentro de suas terras coletivas.
Em janeiro de 2025, a Reserva Indígena Remanso-Chorrobocón solicitou a exclusão de mais de mil hectares de uma reserva florestal protegida, para atividades de mineração. No entanto, o Ministério do Meio Ambiente negou o pedido naquele mesmo mês, argumentando que a exclusão de áreas de reserva só pode ser concedida por razões de utilidade pública ou interesse social, desde não se prejudique a função de proteção da reserva.
Os membros da comunidade percebem essas restrições impostas como um tratamento paternalista. "Nós temos as mesmas necessidades de vocês, brancos, as mesmas necessidades de funcionários do governo nacional", explica Luis Camelo. "Vocês recebem os seus salários todo mês, enquanto nós, das comunidades indígenas, não temos salário. Como é possível que a gente passe fome aqui, cercados de riquezas? Nós temos que trabalhar", acrescenta.
Campos Elías Flores Hernández, um puinave de 50 anos que administra balsas de garimpo e explorou ouro toda a vida, explica as pressões econômicas. "Agora nós também queremos comida de branco", reivindica. Embora as comunidades ribeirinhas tradicionalmente dependam da pesca para obter alimentos básicos, adquirir carne é caro nessas áreas remotas da Amazônia. "Antes nós dormíamos em redes, agora dormimos em colchões." Itens de primeira necessidade precisam ser comprados em Puerto Inírida, uma viagem de ida e volta que custa 2 milhões de pesos colombianos, o equivalente a US$ 500; além do pão de mandioca, a comunidade não tem muito o que vender. Com o dinheiro do garimpo, eles têm mandado os filhos para estudar fora do território. "É por isso que a gente está aqui, ralando, arriscando a vida no garimpo", diz Campo Elías.
É por isso que a gente está aqui, ralando, arriscando a vida no garimpo.
Campos Elías Flores Hernández, administrador de balsa.
Para preservar seu modelo de subsistência, comunidades como as do rio Inírida desenvolveram estratégias de proteção, incluindo sistemas de alerta precoce que informam sobre a presença de forças policiais do governo no território. "Já têm alguém no cerro Mavecure com um rádio, que avisa quando chegam", explica um garimpeiro venezuelano, que antes trabalhava no rio Atabapo e agora trabalha em um ponto do rio que está abaixo de Chorrobocón. Além dos membros da comunidade que operam balsas de garimpo, pessoas não indígenas, chamadas pela comunidade de "colonos", entraram na região para garimpar, muitas vezes pagando uma parte da sua produção às autoridades indígenas.
Luis, plenamente ciente de que o garimpo é a realidade econômica de Chorrobocón, para o bem ou para o mal, entende que, se não eles conseguirem legalizar suas operações ou identificar corretamente os minerais que têm, serão forçados a vender no mercado negro, provavelmente a preços ditados por comerciantes temerários que buscam lucrar com o comércio ilegal. "A empresa com a qual estamos conversando é a Gracor", diz Luis. "Eu entendo que sim, que ela está fazendo uma oferta para que possamos trabalhar ilegalmente."
https://infoamazonia.org/2025/11/28/a-oportunidade-de-chorrobocon-a-aposta-nos-minerais-criticos/
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