De Povos Indígenas no Brasil

News

Povos Tradicionais denunciam a arqueologia dos massacres e a impunidade

27/11/2025

Fonte: Cimi - https://cimi.org.br



Após um momento de reflexão e partilha de sonhos, povos e comunidades tradicionais de todas as regiões do país iniciaram o dia (26) com intensos debates em Brasília. Em seminário sobre a violência nos Territórios e a impunidade contra os povos e a natureza. O objetivo central do dia era anunciar e denunciar as violências e violações. No Centro Cultural de Brasília (CCB), lideranças receberam pesquisadores e parlamentares para um dia dedicado a compreender a escalada da violência que atinge populações do campo, das florestas e das águas em todo o Brasil.

"O objetivo é ouvir os povos e desenvolver estratégias contra a violência, apoiando lideranças e fortalecendo políticas públicas, além de promover mecanismos de escuta para enfrentar conflitos", afirmou Jardel Lopes, secretário executivo da Campanha Contra a Violência no Campo.

"O objetivo é ouvir os povos e desenvolver estratégias contra a violência"

O evento, traz como lema o compromisso dos povos com a vida e a luta pela soberania, focou a discussão na impunidade, visibilizando denúncias e apresentando dados cruciais sobre a violência e a grilagem. O encontro contou com a participação dos deputados federais Erika Kokay (PT-DF) e Nilto Tatto (PT-SP).

"Os assassinatos e crimes contra a vida são métodos para expropriar não apenas a terra, mas também seus modos de vida, culturas, relações de parentesco e sociais"

"Os assassinatos e crimes contra a vida são métodos para expropriar não apenas a terra"

Massacre no Campo: violência física e química

Os dados levantados por pesquisadores, somados aos testemunhos das lideranças, confirmaram um quadro de brutalidade crescente nos conflitos. O debate não se limitou à agressão física, destacando também a violência química, o impacto da monocultura e do uso intensivo de agrotóxicos. O levantamento, que reúne casos de violência e impunidade no campo desde 1985 (período da Nova República), foi realizado em conjunto por um grupo de universidades públicas e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), mantendo atualizados os dados do contexto agrário nacional.

Segundo a análise, o modelo de agronegócio, apesar da maquiagem política e social, mantém sua essência na estrutura tradicional do latifúndio. A pesquisa evidencia a fragilidade do Poder Judiciário e denuncia a violência contra os povos comunitários, reforçando a importância da luta pelo acesso à terra.

"À medida que avança o desmatamento, também se provoca o surgimento de massacres"

O relatório chama especial atenção para a região amazônica, onde os massacres ocorrem de forma endêmica. "À medida que avança o desmatamento, também se provoca o surgimento de massacres", disse o professor Humberto Góes, da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Além dos dados, a pesquisa detalha o racismo ambiental sofrido pelos povos. "Os assassinatos e crimes contra a vida são métodos para expropriar não apenas a terra, mas também seus modos de vida, culturas, relações de parentesco e sociais", relatou o professor e antropólogo Edmilson Rodrigues.

"Viemos para reivindicar as violações de direitos que sofremos desde de 2020"

Acordo de Escazú e a Arqueologia dos Massacres

Os parlamentares presentes destacaram iniciativas em defesa dos povos, mas ressaltaram a realidade adversa no Congresso Nacional, onde a maioria é ligada ao movimento do Agro.

O deputado Nilto Tatto frisou a urgência de o Brasil ratificar o Acordo de Escazú (no âmbito da ONU para a América Latina e Caribe), que visa a defesa de defensores de direitos humanos e ambientalistas. "O Brasil é um dos países que mais mata defensores da luta. Conseguimos aprovar na Câmara, e falta aprovar no Senado", afirmou. Ele defendeu que a sociedade acompanhe de perto a tramitação para que o acordo se torne lei interna.

"O Brasil é um dos países que mais mata defensores da luta"

Para Tatto, o seminário é fundamental para sistematizar as informações sobre a violência e embasar políticas públicas. "A paz no campo só é possível se houver reconhecimento e consolidação desses direitos, promovendo acesso à terra", defendeu.

A deputada Erika Kokay denominou o estudo como a "arqueologia dos Massacres". "É um ponto de chegada e um ponto de partida. Mais de 2 mil pessoas assassinadas na luta por direitos são vítimas da violência patrimonialista que acha que pode vergar, dominar o Estado e tem poder sobre as vidas", declarou a deputada, ressaltando a importância da pesquisa para denunciar e proteger a vida de quem defende a natureza.

Odília Moraes, da comunidade tradicional de Taboca, no Mato Grosso (MT), reforçou as denúncias: "Viemos para reivindicar as violações de direitos que sofremos desde de 2020. Enfrentamos a queima de casas, grilagem de terra, extração ilegal de madeira e o foco de políticas públicas falhas. Estar aqui é uma forma de dizer: nós existimos, estamos resistindo e precisamos da regularização imediata do nosso território".

"Enfrentamos a queima de casas, grilagem de terra, extração ilegal de madeira e o foco de políticas públicas falhas"

Ameaças no Congresso e o PL da Devastação

Entre as maiores preocupações levantadas no seminário estão as propostas legislativas que tramitam no Congresso, buscando criminalizar movimentos de luta pela terra e anular a possibilidade de desapropriação de terras que não cumprem sua função social, um risco de retrocesso a conquistas históricas.

O debate também destacou o peso do poder econômico como principal motor da violência e a necessidade de uma forte atuação política no próximo processo eleitoral, por meio da politização das informações. O objetivo final é levar à disputa eleitoral a construção de uma sociedade inclusiva e democrática.

"Entre as maiores preocupações levantadas no seminário estão as propostas legislativas que tramitam no Congresso"

Na parte da tarde, foram apresentados indicadores do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) e da CPT, que evidenciam a crescente escalada de confrontos e ameaças.

Outro ponto de destaque foi o Decreto no 6.040, que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), essencial para a regularização territorial e a valorização de seus modos de vida.

Um tema fundamental foi o Projeto de Lei PL 2159, o "PL da Devastação", um grave retrocesso ambiental. Alice Dandara, do Instituto Socioambiental (ISA), contextualizou o processo histórico do projeto, que se tornou "moeda de troca" de parlamentares contrários às pautas dos povos.

"Os povos denunciam que multinacionais exploram minerais críticos e raros para atender à demanda da transição energética"

O texto estará em debate nesta quinta-feira (27), para a análise da manutenção ou derrubada dos vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Lei Geral do Licenciamento Ambiental. A pressão política visa derrubar todos os vetos, o que faria o PL da Devastação que praticamente elimina o licenciamento ambiental no país, retornar à sua versão original.

Por fim, os povos denunciaram que multinacionais estão explorando minerais críticos e raros para atender à demanda da transição energética. Essa atividade tem resultado na destruição de solo, águas e ecossistemas locais, como nos rios Araçuaí e no Vale do Jequitinhonha, intensificando a ameaça às comunidades tradicionais. A situação é agravada pela aprovação de leis que favorecem mineradoras e diminuem áreas de proteção, a exemplo da Chapada do Lagoão, que é uma Área de Proteção Ambiental (APA).

https://cimi.org.br/2025/11/povos-tradicionais-denunciam-massacres-impunidade/
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source