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Índios ajudam militares: faltam 11 corpos

10/10/2006

Fonte: O Globo, O País, p. 17



Índios ajudam militares: faltam 11 corpos
Legista diz que passageiros podem ter sido projetados no espaço antes de o avião se chocar contra o solo

Jailton de Carvalho
Enviado especial

Das 154 vítimas do vôo 1907 da Gol, 11 ainda não foram localizadas. Ontem, as buscas foram intensificadas com a chegada de 80 homens do Exército à Fazenda Jarinã, onde funciona uma base improvisada da Força Aérea Brasileira. Com a ajuda, foram localizados mais 23 corpos, alguns em baixo das ferragens do avião. Segundo o Instituto Médico Legal de Brasília, até agora, foram identificadas 90 pessoas, sendo que 58 corpos já foram retirados pelos parentes para sepultamento.

Corpos teriam sido projetos antes de avião cair
Com a chegada dos homens de infantaria do Exército de Manaus, a FAB decidiu ampliar a varredura que vinha fazendo nos locais onde há destroços do boing. Os militares ficam posicionados um ao lado do outro e avançam em determinada direção em busca de qualquer sinal que possa indicar a presença de corpos. A varredura é feita em quadrados imaginários traçados com a ajuda de,equipamentos de medição e coordenação geográfica.

O médico legista Aluísio Trindade, afirmou ontem que há sinais de evidência de que muitos passageiros do Boeing 737-800 da Gol foram projetados no espaço antes de o avião ter se espatifado na floresta. Trindade é chefe da equipe de médicos legistas que está há dez dias no local do acidente:

- Com certeza alguns corpos foram expelidos da aeronave. Nem é preciso ser especialista para ver que o avião se fragmentou e espatifou no ar e que algumas pessoas caíram.

Para o médico legista, essa é a única conclusão possível diante do desolador cenário da queda do avião. Os corpos encontrados estão espalhados nus e muitos deles, afastados dos destroços do Boeing. Outros estão sobre as ferragens do avião. Para um oficial da aeronáutica, por serem mais pesadas, as engrenagens chegaram ao solo antes dos corpos dos passageiros. Na queda livre, as pessoas perderam as roupas infladas e arrancadas do corpo pelo vento ou pelas árvores.

Farrapos de várias peças ainda tremulam nos galhos que estão ao longo do local do acidente com o avião.
Aluísio Trindade procurou tranqüilizar os familiares dos mortos. Segundo ele, todos os corpos encontrados até o momento serão devidamente identificados, antes mesmo de eventual testes de DNA. Trindade acrescentou que boa parte dos corpos foi identificada ainda no serviço de triagem na base dá fazenda Jarinã. Numa segunda etapa, a identidade de cada será confirmada pelo Instituto Médico-Legal de Brasília, para onde os corpos estão sendo levados.

O serviço de identificação está sendo facilitado pelas impressões digitais colhidas a partir de pedaços de pele extraídos dos dedos das vítimas e sobretudo por informações encontradas em alianças. Até agora pelo menos 20 passageiros foram identificados a partir do nome de cônjuge e das datas de casamento inscritos nas alianças. Essas informações estão sendo comparadas com as fichas de dados pessoais dos mortos.

- Podem ficar sossegados porque vamos identificar todos os corpos - disse Trindade emocionado ao ver, na tela de uma TV, a mãe de um dos mortos chorando por medo de nunca mais encontrar o corpo do filho, uma das 154 vítimas do desastre.

Megaron Txucarramãe, um dos principais líderes do Parque Nacional do Xingu, informou ontem ao comando do resgate do acidente, que ele e mais 22 guerreiros caiapós e jurunas encontraram vários corpos na área do acidente.

Eles, inclusive, retornaram à fazenda Jarinã, depois de passar seis dias na mata, na área apontada como o centro da queda do avião.

Índios limparam local para pouso de helicópteros
O brigadeiro Jorge Kersul, chefe da operação, disse que enviará tropas ao local apontado pelos índios para checar as informações. Megaron e os guerreiros partiram da fazenda no primeiro dia deste mês, pouco depois de serem informados sobre o acidente. Dois dias de caminhada, mata adentro, eles chegaram ao local onde estão concentrados os destroços do avião. Os índios teriam limpado o matagal ao redor dos corpos e até abriram uma clareira para facilitar eventuais pousos de helicópteros da Força Armada que chegam ao local. 0 líder indígena disse que seguiu à risca as instruções militares e não tocou nos corpos.

- É muito triste ver os corpos das pessoas daquele jeito, sem braço, sem cabeça - disse Megaron.

O Globo, 10/10/2006, O País, p. 17
 

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