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Índios usam antigo museu como ponto de encontro

19/10/2008

Fonte: FSP, Brasil, p. A18



Índios usam antigo museu como ponto de encontro
Casarão que abrigou Museu do Índio funciona como albergue desde 2006
Imóvel recebe índios que visitam o Rio; segundo os invasores, objetivo é fazer do espaço um centro para a difusão da cultura indígena

Denise Menchen
Da sucursal do Rio

O portão do casarão com ares de abandonado em frente ao Maracanã se abre e o índio Agnaldo Souza Silva, também conhecido como Garapirá Pataxó, 29, vê a fila de torcedores na bilheteria ao lado do portão 13 do estádio. "Preciso comprar meu ingresso", diz em voz alta.
É véspera do jogo do Brasil contra a Colômbia, e o movimento perto do estádio é intenso. Mas no interior do casarão, tranqüilidade: os últimos visitantes voltaram para as aldeias no fim de semana anterior.
Há dois anos, as idas e vindas dos grupos se repetem. Sem uso desde que o Museu do Índio saiu de lá, em 1978, o imóvel da União foi invadido em outubro de 2006 por indígenas, seus ocupantes desde então.
O objetivo dos invasores, porém, não é usar o local para moradia. Segundo a professora de história Marize de Oliveira, a Tamikuan Ara, 50, da etnia guarani, a idéia é transformá-lo em um centro difusor da cultura indígena. "Mandamos um projeto para Brasília, mas até agora nada", lamenta.
O imóvel pertence à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), vinculada ao Ministério da Agricultura. Segundo o ministério, a situação do prédio está sendo avaliada por sua assessoria jurídica.
Enquanto a definição não vem, o local transformou-se em uma espécie de albergue. Recebe índios de várias regiões, que vêm à cidade para vender artesanato, participar de eventos educativos em escolas ou conhecer a cidade. A maioria passa alguns dias no Rio e depois retorna para casa. Outros, como Amauri Vieira Braz (Pakari Pataxó), 25, acabam ficando.
"Fiquei para dar um apoio à ocupação. Queremos transformar isso aqui num ponto de referência para as 240 etnias", diz. "O desconforto é grande, mas temos que lutar."
A luta inclui manter permanentemente pelo menos alguns índios no local. Atualmente, são três. Outros, que já moram na cidade, passam eventualmente para dar apoio ou participar de eventos culturais.
A professora Marize sonha com a construção do Instituto Tamoio, que reuniria informações sobre a história, a organização, a religião e as lutas das etnias indígenas do país e do continente. "Ninguém respeita aquilo que não conhece".
O plano, porém, corre o risco de ser frustrado. De olho na Copa de 2014, o Governo do Estado planeja obter permissão da União para derrubar o imóvel e, no terreno, construir um estacionamento.

FSP, 19/10/2008, Brasil, p. A18
 

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