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Óleo de castanha é alternativa de renda para Kayapó

11/11/2008

Autor: Andressa Besseler

Fonte: Instituto Ethos - www.ethos.org.br




Apostar no potencial econômico dos recursos naturais da floresta amazônica. Essa é a realidade vivida pelos índios Kayapó há três anos, quando iniciaram as atividades de exploração sustentável do óleo de castanha-do-pará. O trabalho ganhou reforço, neste ano, com a doação de equipamentos pela Caixa Econômica Federal e pela Fundação Mussambê. Atualmente três aldeias da tribo (Kubenkokre, Pukanu e Baú) integram o projeto, totalizando 1.124 índios.

"O objetivo é implantar projetos econômicos viáveis, que resultem na autonomia das comunidades sem, no entanto, alterar o habitat e o ambiente dos índios", explica o biólogo Luiz Carlos Sampaio, coordenador da ONG Instituto Raoni, que iniciou o projeto, com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do governo da Bélgica.

Encravadas no Alto Xingu, as três aldeias de difícil acesso (só se chega de avião, entre os meses de julho e outubro) começaram a viver uma nova realidade em 2005, época em que exploravam o corte ilegal de mogno. Com o cerco da fiscalização, cuja meta é acabar com a exploração predatória de madeira, os índios tiveram de encontrar alternativas para sobreviver. Para isso, contaram com a ajuda das três organizações, que identificaram um forte potencial na extração do óleo de castanha-do-pará, que pode ser comercializado para a indústria de cosméticos.

Nesse sentido, foi planejada uma série de ações para assegurar valor econômico ao saber-fazer tradicional indígena, aliado ao uso sustentável da biodiversidade em suas terras. "No início foi difícil, pois os índios demoraram a se curar da ressaca da ilegalidade. Mesmo assim, realizamos cursos de capacitação com o intuito de prepará-los para o beneficiamento dos recursos florestais e a padronização dos processos necessários para a venda dos produtos", diz Sampaio.

Com o trabalho rudimentar para explorar o óleo de castanha-do-pará, os Mebengokre, como se autodenominam os Kayapó (que significa "gente que veio do buraco d´água"), conseguiram produzir 6.000 litros de óleo. "O ano de 2005 foi bom, principalmente porque houve abundância de castanhas e os índios conseguiram vender todo o óleo em São Paulo, o que rendeu a eles R$ 150 mil. Em 2006, os castanhais produziram cerca de 50% menos, por conta de fatores climáticos", lembra o biólogo.

Já 2008 marca a consolidação desse negócio para os índios. A Fundação Mussambê produziu, com apoio da Caixa Econômica Federal, equipamentos para a exploração da castanha. "Realizamos trabalhos de inclusão social com grupos historicamente excluídos, de modo a resguardar os aspectos ambientais, a diversidade cultural e o saber local , em busca de um modelo sustentável de geração de renda para a comunidade", diz Soraia Zaiden, responsável pelo projeto na Caixa.

O primeiro contato da Caixa com os índios Kayapó foi em 2006, durante um projeto de capacitação voltado para as mulheres. Com investimento de R$ 60 mil, elas aprenderam artesanato com tintas, miçangas e pintura em tecidos. "Nosso trabalho evoluiu tanto que os artigos produzidos pelas indígenas passaram de um simples objeto de consumo para serem vistos como obras de arte, participando até de eventos na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo", diz Zaiden.

Ela conta que o começo foi complicado, porque os indígenas vivem outra realidade e, com a presença do homem branco, o modo de vida deles se alterou muito. "Agora eles precisam de roupas, alimentos, e não havia nenhum tipo de renda mensal, só ocasional. Nossa idéia é ajudá-los a ter uma fonte de renda mensal e fortalecer a sua capacidade de produzir e de se orgulhar."

Por conta dos novos equipamentos, movidos a energia hidráulica, a perspectiva é que a safra de 2009 seja melhor e com mais produtividade de óleo. Só na safra de 2007 foram extraídos manualmente quatro toneladas de óleo de castanha. O quilo do óleo varia entre R$ 30 e R$ 40. Segundo o biólogo Sampaio, o preço é alto por conta das taxas (certificação, frete e 17,5% de imposto).

Novos horizontes

O desafio para os índios e para as organizações que atuam no projeto é garantir mercados e um bom valor agregado. As três aldeias estão numa região com grande potencial para a exploração de recursos naturais. A intenção é criar novas cadeias produtivas de babaçu, pequi, buriti e cumaru, além de utilizar o farelo de castanha para a produção de bolos e tortas.

Existe, também, um intenso trabalho para exportar o óleo de castanha-do-pará para a Itália e a Inglaterra. "O óleo é de altíssima qualidade, com acidez de 0,4%, é certificado com o selo FSC [Forest Stewardship Council] e tem a certificação orgânica do IBD [Associação de Certificação Instituto Biodinâmico]", fala Sampaio.

O selo FSC atesta que a produção foi manejada seguindo critérios de sustentabilidade florestal, promovendo desenvolvimento econômico aliado a justiça social e preservação ambiental. Já o certificado do IBD relaciona-se à garantia de que usaram o mínimo de insumos externos, privilegiando métodos de agricultura (coleta, no caso) que recuperam, mantêm e promovem a harmonia ecológica.
 

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