De Povos Indígenas no Brasil

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Criado comitê de crise da gripe suína

13/11/2009

Autor: VANESSA LIMA

Fonte: Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=74230




Diante da possibilidade do primeiro registro da gripe suína entre as populações indígenas Yanomami no País, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) criou ontem o Comitê de Crise H1N1, junto com o Gabinete Emergencial da Influenza A, Exército Brasileiro, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Hutukara Associação Yanomami (HAY).

Em reunião realizada na tarde de anteontem na sede da Funasa, um plano de ações foi definido para o trabalho que será feito de forma conjunta com todos os órgãos federais e estaduais que têm acesso à área indígena.

Além das equipes multidisciplinares que já estão em área, estarão sendo colocadas nas 22 aldeias que fazem fronteira com a Venezuela equipes exclusivamente para o monitoramento do vírus. O grupo será formado por um enfermeiro, um técnico em enfermagem e outro em laboratório, além de um Yanomami que fale português.

Em sete comunidades serão instalados rádios transmissores para comunicação entre o comitê. As demais já possuem o aparelho que possibilitará a radiofonia. Além disso, serão levados motores estacionários e alguns equipamentos de laboratório que auxiliarão no atendimento das equipes.

"É importante ressaltar que não temos nenhum caso de H1N1 no Brasil. Toda essa movimentação e ações que estão sedo realizadas são, justamente, para que quando acontecer o primeiro caso a gente esteja preparado para resolver todos os problemas e fazer o diagnóstico e o tratamento precocemente, fazendo com que a gente tenha um menor número de óbitos possíveis", disse o coordenador regional da Funasa, Marcelo Lopes.

Ele admitiu ser uma "questão de tempo" o vírus acometer os Yanomami. "Por experiência de outras localidades, a gente sabe que o vírus quando está nas mediações das localidades é uma questão de tempo ele entrar, assim como foi no Brasil. Sabemos que é quase inevitável que isso possa chegar às comunidades indígenas".

Lopes destacou que até agora são apenas suspeitas de que o vírus já esteja presente entre os indígenas, mas ele circula ao redor da área Yanomami brasileira. O Ministério da Saúde da Venezuela confirmou oito casos da Influenza A entre os indígenas da etnia do país vizinho. Desses, dois já vieram a óbito.

"Essa semana todo esse plano está sendo desenvolvido a fim de que a barreira esteja montada no máximo em dez dias cobrindo toda a região. Isso, logicamente, não impedirá que o vírus entre no Brasil, mas as 22 localidades de trânsito Yanomami com os venezuelanos estarão cobertas", informou Marcelo Lopes.

Como não há condições de manter um médico em cada localidade, o Conselho Regional de Medicina (CRM) manifestou-se favoravelmente para que o medicamento seja prescrito por radiofonia. Um profissional de saúde de nível superior, no caso o enfermeiro, irá passar para o médico a situação do paciente.

O Exército Brasileiro também se colocou à disposição através dos dois Pelotões de Fronteira localizados na região: um em Surucucus, área mais próxima à aldeia onde foram confirmados do lado Venezuelano os casos da doença, e em Auaris, mais ao norte de Roraima. Cada pelotão possui um médico e uma equipe de enfermagem.

CRISE - "Chamamos Comitê de Crise porque no caso do Yanomami o alerta é máximo. A logística para atendimento, para remoção e colocação de paciente é totalmente diferenciada da população em geral. Através desse nosso gabinete de crise, teremos informações atualizadas diariamente de tudo o que está sendo feito em área com cada comunidade", disse Marcelo Lopes.

Por se tratar de saúde indígena, ficou a cargo do coordenador da Funasa repassar as informações de casos da H1N1 na reserva. A função antes ficava a cargo do médico Alexandre Salomão, coordenador do Gabinete Emergencial da Influenza A.

Resultados de exame serão divulgados na terça-feira

Foi coletado material para exame clínico de quatro indígenas com síndrome gripal. O exame é feito através da secreção nasal e não pelo sangue, como a Folha informou na edição de ontem. O material já foi enviado para o instituto Evandro Chagas. A expectativa é que o resultado saia na próxima terça-feira, 18.

Os indígenas são da comunidade Yaritha, na região do Alto Orinoco, que fica a um dia e meio de caminhada para os índios (três dias de caminhada para os não-índios) da comunidade Haraú, no país vizinho, onde morreram dois Yanomami por conta da doença.

A comunidade possui 283 indígenas. Os grupos são nômades, e é intenso o trânsito entre os indígenas dos dois países, uma vez que não existe uma fronteira para eles. O Brasil tem aproximadamente mil quilômetros de fronteira com a Venezuela e a maior parte está na divisa com o território Yanomami.

"Vale lembrar que nessa época do ano cerca de 80% dos Yanomami sofrem de síndrome gripal, isso é comum em todos. Então nós estamos acompanhando só mesmo números do ano anterior, inclusive ainda não atingimos a quantidade de síndrome gripal do ano passado, ou seja, está tudo dentro da normalidade. A gente acredita que nós realmente ainda não temos o H1N1 dentro da área Yanomami do Brasil", comentou Marcelo Lopes.

Acontecendo o primeiro caso confirmado de síndrome gripal aguda grave, diagnóstico da Influenza A, o protocolo será remover imediatamente o indígena de área para trazê-lo para Boa Vista. Na reserva, tanto as crianças como os adultos serão imediatamente medicados com Tamiflu, o remédio usado para combater a gripe suína.
 

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