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Famílias desintrusadas vivem em situação precária na periferia

19/04/2010

Autor: Vanessa Lima

Fonte: Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/




As famílias de não-índios expulsas da reserva Raposa Serra do Sol que receberam casas no bairro Cidade Satélite, na periferia de Boa Vista, estão em situação precária, e, mesmo após um ano da retirada, a grande maioria ainda não conseguiu emprego. Muitos ainda vivem com o que resta do valor das indenizações pago pelas benfeitorias existentes nas propriedades na área.

"As coisas eram muito mais fáceis lá [na reserva]. Até hoje não arrumei emprego porque aqui [na capital] precisa de estudo. Eu trabalhava lá com salgadinho e mexia com plantação de verdura. Agora a nossa renda é exclusivamente o que meu marido ganha trabalhando no garimpo", disse a dona-de-casa Terly Roth da Luz. A indenização da propriedade localizada no município de Uiramutã, segundo ela, "não valeu muita coisa" e mal deu para o sustento da família de cinco pessoas, sendo três filhos.

Antônio Almeida, 52, era proprietário de um pequeno comércio na vila Surumu. Desde que saiu da área, está desempregado e também vive com o que recebeu de indenização, que não foi suficiente para abrir outro negócio em Boa Vista. "O que eu tinha [na reserva] era pouco, mas dava para manter minha família", comentou.

A dona-de-casa Maria Lucivanda dos Santos morava no Surumu na propriedade dos pais. Na região, ela trabalhava em uma pequena panificadora da família. Hoje, ela critica a expulsão da reserva.

"Está muito ruim. Falta água e quando chove alaga tudo. Estamos vivendo com o que meu marido ganha fazendo bico, porque eu não consigo arrumar emprego. Para quem tem estudo já é difícil, imagina para quem não tem. Até hoje meus pais só receberam R$ 3 mil e ainda estão à espera do reassentamento por parte do Iteraima em outra área. Por enquanto, os animais estão na propriedade de um amigo da família", destacou a dona-de-casa que tem três filhos.

Produtores aguardam reassentamento

Figura emblemática em todo o processo de retirada de não-índios, Joaquim Correa de Melo, 87, que era dono do lago Caracaranã, em Normandia, continua lutando junto ao Instituto de Terras de Roraima (Iteraima) para ter acesso a uma área para realocação. Ele ainda lamenta ter deixado a terra que pertencia a sua família desde 1816, quando Roraima ainda era parte do estado do Amazonas.

Ele foi o último não-índio a sair da área no dia 22 de março de 2009. Alguns meses depois recebeu a indenização que considera "absurda e injusta", pois todos os valores das benfeitorias foram rebaixados.

Joaquim contou que teve que sair às pressas do Caracaranã e como não recebeu uma área para realocação e não tinha para onde transferir seus bens, teve de dar quase tudo. A casa da fazenda, um galpão, um bar, um restaurante, cerca de nove chalés e outras benfeitorias ficaram para trás.

Dentre os seis rizicultores expulsos da Raposa Serra do Sol, a empresária Regina Aparecida Silva, esposa do produtor Ivo Barilli, está importando arroz do Mato Grosso para não fechar as portas. A compra vem ocorrendo há três meses e atende uma parte da demanda de consumo em Roraima. Ela registra que teve queda de 50% na produção de arroz.

O rizicultor Paulo César Quartiero, que ainda está sem plantar, adquiriu uma propriedade e deve transferir sua atividade econômica para o estado do Pará. Ele disse ter comprado uma fazenda de 12 mil hectares no município de Cachoeira do Arari, na região do Marajó, após a indicação de outro produtor que já reside no Estado. O produtor mantinha duas fazendas na reserva indígena: Depósito e Providência.

INDENIZAÇÕES - Das 53 famílias e entidades habilitadas para o recebimento das indenizações referentes às benfeitorias existentes na Raposa, até a última informação, dez ainda não tinham requerido os valores junto à Justiça. Entre os retardatários, estão quatro igrejas, uma casa de mães e o restante são pessoas físicas.

Os valores foram depositados em juízo pela Fundação Nacional do Índio (Funai), no Banco do Brasil. À medida que os alvarás judiciais são emitidos e apresentados ao banco, o dinheiro é liberado. (V.L.)

http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=84542
 

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