De Povos Indígenas no Brasil

Notícias

Lula diz que repassou terras ao estado para atender não-índios e legalizar RR

20/04/2010

Autor: Cyneida Correia

Fonte: Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/




Nem a chuva e nem a lama atrapalharam o presidente Lula da Silva de andar a pé pela aldeia Maturuca na Raposa Serra do Sol. Após descer de um helicóptero da FAB e ser ovacionado pelos índios, ele foi recepcionado à base de dança, música indígena e ritual de defumação. O presidente fez uma avaliação da homologação, prometeu melhorar a vida dos índios e disse que não deve mais nada aos arrozeiros.

"Eu lembro aqui, no estado de Roraima, depois que nós fizemos a demarcação em terra contínua, era como se nós fôssemos o demônio, porque diziam que a gente iria tirar a terra que Roraima precisava para produzir. Um estado com tanta terra ainda sem produzir, alguns queriam exatamente a terra que não era deles, que era dos índios. Mas nós fizemos a coisa da forma mais ordeira possível, para evitar que houvesse qualquer conflito", afirmou.

Ele acrescentou que "mesmo quando nós tínhamos ordem de mandar o Exército para cá para desocupar a terra em que estavam alguns arrozeiros, nós não fizemos isso, porque nós não queríamos brigar com ninguém. Nós queríamos apenas negociar, fazer um acordo para que todos pudessem viver em paz, que aqueles que queriam plantar arroz plantassem em outro lugar. O governo iria desapropriar como desapropriou - e pagou os arrozeiros", disse Lula, afirmando que transformou Roraima em um estado "legal".

"Legalizamos praticamente quase todo o estado de Roraima, que era um estado ilegal, ou seja, praticamente todas as terras eram do governo federal, e nós, então, passamos não sei quantos milhões de hectares - 6 milhões de hectares - para que a gente pudesse dar terra para quem quisesse trabalhar, sobretudo para pequenos e médios proprietários aqui deste estado, porque a nós interessa que o estado de Roraima seja desenvolvido, cresça economicamente, sem tirar o direito do índio viver tal como ele queira viver", explicou. (Leia mais trechos do discurso na pag. 4A e na íntegra no site www.folhabv.com.br)

Lula veio acompanhado de ministros e lideranças políticas como o senador Romero Jucá e o deputado federal Neudo Campos, que sentaram lado a lado no palanque. Além deles, apenas as deputadas federais Maria Helena Veronese e Ângela Portela representaram os políticos locais. Segundo os índios, o governador de Roraima, José Anchieta Júnior (PSDB), pré-candidato à reeleição, não foi convidado para a festa.

Os índios fizeram uma reunião a portas fechadas com Lula e entregaram uma carta de agradecimento pela homologação da área indígena e outra com 20 pedidos que incluíam educação, saúde, financiamento para projetos e mais colaboração do governo federal no processo de sustentabilidade da área indígena Raposa Serra do Sol. Lula prometeu atendê-los.

Lula recebeu uma escultura com o mapa da área indígena Raposa Serra do Sol que representava a chave da reserva e plantou uma árvore próximo a um símbolo construído na área central da maloca.

Com um cocar na cabeça e uma criança indígena no braço, o presidente Lula discursou e afirmou que um ano depois os povos indígenas estão satisfeitos com a homologação da reserva.

O presidente da Funai, Márcio Meira, afirmou que a reserva é um símbolo para todos os povos indignas do Brasil. O vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Terêncio Manduca, explicou que os índios pediram do presidente mais colaboração do governo federal. "Queremos nos sustentar e precisamos de incentivos para criar gado, peixe, pois ainda falta muita coisa nas aldeias", explicou.

O coordenador do CIR Dionito de Souza mostrou-se contente com o que chamou de "atendido ao chamado feito pelos povos indígenas" por parte do presidente Lula e acredita que o território da Raposa Serra do Sol vai crescer.

"Pedimos melhorias em estradas, escolas e educação, além de água potável e saneamento básico, pois é a partir do desenvolvimento sustentável que seremos verdadeiramente um território indígena de Roraima e do Brasil" concluiu.

IMPRENSA - Os jornalistas que cobriram a festa não tiveram acesso à reunião de Lula com as lideranças e nem ao almoço do presidente. Apesar de a assessoria de comunicação da Presidência organizar um espaço para coletiva, Lula da Silva ignorou completamente os jornalistas e recusou-se a falar com a imprensa.

Exército, PF e PM cuidaram da segurança

Cerca de 250 homens do Exercito, além de policiais federais e homens do Grupo de Operações Especiais da Policia Militar, fizeram a segurança do presidente Lula.

O coronel Mateus, comandante do 6 BEC, explicou que o Exército sempre atua na segurança em situações onde o presidente esteja envolvido. "Ajudamos na logística do evento com helicópteros e um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Também colocamos médicos ao longo da estrada para situações de risco", concluiu.

O Exército também instalou barreiras ao longo da estrada, mas em nenhuma delas houve revista nos veículos ou passageiros, apenas orientação aos convidados do caminho a seguir. Somente na última barreira, indígenas da coordenação do Maturuca solicitaram credencial. As barreiras eram uma forma de fiscalizar a entrada de pessoas não autorizadas, armas, bebidas e outros ilícitos, além de garantir a segurança do evento.

Além disso, o Exército também recuperou parte da estrada até Maturuca, onde o acesso não é fácil, por se tratar de região de serras onde há trechos com muitas pedras, subidas e descidas. Partindo da capital Boa Vista, o trajeto de ida e volta é de mais ou menos 700 quilômetros.

Apesar de menos de 1/3 dos 18 mil convidados ter comparecido ao evento, os índios fizeram questão de colaborar com a segurança e cerca de 100 indígenas foram destacados para colaborar. Eles andavam com bastões de madeira pela aldeia. Não houve registros de incidentes. (C.C.)


Índios matam mais de 100 bois para festa

Mais de cem bois foram mortos por índios para a comemoração da homologação da área indígena Raposa Serra do Sol, para os cerca de 5 mil convidados que compareceram à festa. Os bois eram abatidos na própria comunidade, a céu aberto, e a carne levada para ser assada em fornos feitos no chão das malocas.

Além dos bois disponibilizados pelas próprias comunidades indígenas, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) disponibilizou cestas básicas e até caxiri, segundo anúncio feito pelo coordenador de projetos, Júlio Macuxi, durante a festa de homologação. "Conab, cadê nosso caxiri?", perguntou o coordenador no microfone da grande tenda onde Lula foi recepcionado. Após a visita do presidente houve uma festa de forró para os convidados.

A alimentação era gratuita, mas houve pontos de vendas de alimentos típicos para quem não quis entrar na fila da comida, que era longa. As comunidades instalaram ainda feiras-livres, como forma de garantir renda para suas famílias. Mas algumas tiveram prejuízos. "Temos carne demais e pouca gente para comer o que tem aqui nas barracas. Mas pelo menos tem comida suficiente para todos", disse o índio macuxi Valuar Alves de Souza. Bastante simpático, ele contou que o povo está feliz com a homologação e que acredita que a comunidade vá desenvolver cada vez mais sem a presença dos não-índios. "Vamos produzir e sobreviver de nossa produção", explicou. A festa será encerrada hoje. (C.C.)

http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=84636
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.