De Povos Indígenas no Brasil
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<strong>Mulheres Bioma</strong>: são várias gerações de corpos de mulheres indígenas conectados com a ancestralidade e com o corpo da Terra e seus biomas.
 
<strong>Mulheres Bioma</strong>: são várias gerações de corpos de mulheres indígenas conectados com a ancestralidade e com o corpo da Terra e seus biomas.
  
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Saiba mais em: https://anmiga.org/
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Edição das 17h48min de 28 de fevereiro de 2025

Mulheres indígenas em movimento

Linha do tempo do associativismo de mulheres indígenas


Mapas das Organizações de Mulheres Indígenas

Como se movimentam as indígenas mulheres?

As mulheres indígenas estão em movimento de diversas formas: são departamentos, núcleos, redes, uniões, conselhos, articulações, coletivos, associações, organizações, grupos, institutos e movimentos de mulheres indígenas – entre outras nomenclaturas –, que expressam uma grande diversidade de formas de se organizar. Os levantamentos que realizamos nas duas edições do mapa não se restringiram a associações que contam com CNPJ, mas buscaram rastrear, com algumas limitações, diferentes expressões do associativismo das mulheres indígenas no Brasil.

Parte das organizações reúnem mulheres por povo (Coletivo de Mulheres Iny Mahadu); por Terra Indígena (Movimento Mulheres do Território Indígena do Xingu); por estado (Comissão de Mulheres Indígenas de Pernambuco); por região (Mulheres Indígenas Alto Rio Guamá); por bioma (Guardiãs do Pantanal); por atividade econômica (Tecê – Iniciativa de Mulheres Indígenas Artesãs de Rondônia); por ameaça enfrentada (Guerreiras da Floresta/Tenetehar Kuzá Gwer Wá), entre outras. Há também organizações pluriétnicas, que articulam mulheres de mais de um povo, como a Associação das Mulheres Indígenas do Centro-Oeste Paulista (Amicop) e sediadas em espaços urbanos, como a Kaguateca – Coletivo de Mulheres Indígenas de Campo Grande. Essa diversidade é tributária das especificidades do associativismo e movimentos políticos de cada povo ou contexto indígena, das diferentes respostas dadas pelos movimentos de mulheres indígenas aos desafios que buscam enfrentar e dos variados motivos que as levam a se organizar.

São também diversas as formas como as organizações de mulheres indígenas se relacionam com os contextos em que emergiram. Em alguns casos, os movimentos de mulheres se conformam em organizações próprias; em outros, em departamentos vinculados a organizações já existentes; ou, ainda, ganham nomes e modos de organização diferentes, como fóruns, núcleos, coletivos, redes etc.

A Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (Agir) é um dos exemplos de organização, oficializada em 2015, por mulheres dos povos Tupari, Paiter Suruí, Cinta Larga, Oro Win, Apurinã, entre outros. Elas já se movimentavam no contexto do associativismo estadual e regional, participando por exemplo, do Departamento de Mulheres da Associação Metareilá, do povo Paiter Suruí.

Para além de organizações próprias, outro caminho comum de se organizar são os departamentos, grupos, secretarias, coordenadorias de mulheres presentes em inúmeras organizações indígenas não compostas exclusivamente por elas. É o caso dos departamentos da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) e da recém-fundada Menire Xikrin do Bacajá parte da Associação Bebô Xikrin do Bacajá. Esses casos não se resumem à atuação dessas organizações mistas junto às mulheres, mas são resultado dos movimentos singulares delas naquele contexto. Existem ainda outras formas de vinculação de movimentos de mulheres a organizações indígenas, como o Fórum das Kunhangue Ruvixa da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), que congrega coletivos de mulheres guarani mbya e avá-guarani e foi oficializado como parte da estrutura de governança da CGY em 2022, após uma série de encontros de mulheres guarani, em diferentes aldeias e regiões.

Movimentos como esses, de encontros de mulheres indígenas, ainda que fundamentais para a mobilização das mulheres em muitos contextos, não puderam ser incluídos neste mapa, por dificuldades de representação cartográfica e de apuração de informações. Por isso, os Encontros de Mulheres Yanomami, que ocorrem há pelo menos 14 anos na TI Yanomami (AM/RR), não constam nesse mapa, assim como as assembleias de mulheres guarani da CGY ou as Caravanas das Originárias da Terra, da Anmiga – sendo incluídas somente organizações que por ventura tenham emergido desses processos de mobilização.

Há ainda movimentos de mulheres que, por diferentes motivos, não se apresentam sob a forma de entidades ou coletivos e, por isso, não foram incluídos neste levantamento. Outros, mesmo emergindo de processos de mobilização no território, transformaram-se em organizações, como é o caso da Kuñangue Aty Guasu, a grande assembleia das mulheres guarani kaiowá e guarani ñandeva.

A permanência parece ser uma das dificuldades do associativismo das mulheres indígenas, possivelmente uma marca dos movimentos sociais em geral. Nas palavras das integrantes da Anmiga, garantir que as organizações permaneçam mobilizadas para além da gestão das fundadoras é um dos maiores desafios vividos pelas mulheres indígenas organizadas. Outros desafios, segundo elas, são: formalizar as organizações e obter financiamento para projetos – o que impacta sua sustentabilidade.

O fenômeno do associativismo de mulheres indígenas também se presta a um desafio da visibilidade. Ao se nomearem enquanto entidades ou coletivos, as mulheres indígenas enfatizam que sempre estiveram em movimento – ainda que sem o devido reconhecimento de sua participação e formas próprias de organização –, ao mesmo tempo em que fazem aparecer novos sujeitos políticos e instauram outras possibilidades de ação política.

O que leva as mulheres indígenas a se organizarem?

Em 2017, Sonia Guajajara ecoou pela primeira vez a mensagem: “A luta pela mãe terra é a mãe de todas as lutas”. Desde então, ela se tornou um lema na organização das indígenas mulheres no Brasil, que se mobilizam em torno de inúmeras outras pautas comuns.

Uma das pautas que motivam essa mobilização é o reconhecimento enquanto detentoras de saberes e verdadeiras lideranças, presentes e atuantes no movimento. “Do chão da aldeia para o chão do mundo”, elas buscam ocupar os espaços de poder e tomada de decisão, apoiando que diferentes mulheres se coloquem à disposição para ocupar cargos que, muitas vezes, são exercidos pelos parentes homens. É o caso, por exemplo, das mulheres do povo Mẽbengôkre Kayapó, que vêm se destacando tanto no movimento indígena nacional, quanto como lideranças em suas aldeias. “Nós somos porque nossas ancestrais já foram” é o lema que anima as mulheres indígenas à liderança.

No entanto, há outros motivos que levam as mulheres a se mobilizarem. Em Mato Grosso do Sul, as mulheres do povo Kadiwéu atuam por meio da Associação de Mulheres Artistas Kadiwéu (Amak), na esteira de outra organização focada na produção da cerâmica tradicional de seu povo, a Associação das Ceramistas Kadiwéu, que esteve ativa na década de 1990. No Vale do Javari (AM), artesãs de diferentes povos vêm se articulando localmente em associações e também na Mulheres Artesãs Indígenas do Vale do Javari (MAI), coletivo fundado em 2019 e que hoje articula cerca de 230 mulheres em torno da produção de artesanatos e da agricultura, com apoio do projeto “Javari Vale da Arte”, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

É também pensando na produção e difusão de suas artes e saberes que emergem outras organizações, como o Coletivo de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós, pautada na música e na dança; ou como o Movimento das Mulheres Indígenas Yarang, uma rede de mulheres coletoras de sementes tradicionais do povo Ikpeng, no território indígena do Xingu. A Associação de Parteiras e Benzedeiras Potiguara da Paraíba (Aparbep), por sua vez, articula-se em torno de saberes e fazeres reconhecidos como patrimônio cultural do país.

Outra pauta fundamental é o enfrentamento às violências contra as mulheres e seus corpos-territórios. A violência é inimiga e adversária do bem-estar das mulheres dentro dos seus territórios. Em um manifesto escrito em 2021, elas questionam: “Como calar diante de um ataque? Diante de um Genocídio que faz a Terra gritar mesmo quando estamos em silêncio? Porque a Terra tem muitos filhos e uma mãe chora quando vê, quando sente que a vida que gerou, hoje é ameaçada”.

Em torno dessa pauta também surgiram outras organizações, de abrangência local ou regional. É o caso do Grupo de Trabalho Guarita pela Vida (GT-GPV), fundado por mulheres do povo Kaingang especificamente para denunciar e combater a violência contra a mulher na TI Guarita, no Rio Grande do Sul. O combate à violência contra a mulher nas comunidades também é o objetivo principal do Coletivo Xondaria Kuery Jera Rete, criado por mulheres guarani em homenagem a Florinda Jera Rete, uma das primeiras cacicas no Paraná.

Há organizações de mulheres centradas na defesa territorial, como as Guerreiras da Floresta/Tentehar Kuzá Gwer Wá, que somam forças aos Guardiães da Floresta, na proteção da TI Araribóia, no Maranhão. Assegurar a demarcação de Terras Indígenas e garantir um território seguro para o bem viver é essencial, ainda mais num contexto de tantas violações ao corpo-território – como a tese do “Marco Temporal”. As mulheres também se movem por seus modos de vida, por saúde e educação diferenciadas e de qualidade e pela valorização da alimentação tradicional. Todas essas reivindicações não se separam de cantos, rezas e rituais sagrados, que inspiram a seguir na luta.

Sobre a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga)

“Somos corpos-territórios, somos de todos os biomas desse Brasil, somos a Anmiga”

A organização de representação política nacional e internacional das mulheres indígenas do Brasil foi nomeada como Anmiga em 2021. O processo de consolidação da presença dos nossos corpos-territórios nos diferentes espaços e instituições desafia-os a diminuir o estranhamento, no que se refere a tipos de lideranças femininas que estamos formando, nos territórios e fora deles.

A nossa luta como defensoras de direitos humanos e ambientais é por quem se foi, por nós e pelas que virão, pela demarcação de todas as nossas terras. Afinal, a luta pela Mãe Terra é a mãe de todas as lutas. Anmiga é força e continuidade de lutas, pelas mãos, vozes, escritas e falas das mulheres.

A Anmiga nos ajudou a partilhar a nossa humanidade e a nos conectarmos com os nossos territórios-corpos na diversidade, fortaleceu o nosso eu-mulher, nos ensinou como amar e cuidar do corpo é um ato político ancestral e a nos orgulharmos de sermos guardiãs da Terra. Nós revolucionamos os termos e nosso conceito próprio de organização ao sermos as mulheres terras, sementes, raízes e águas.

São esses corpos-territórios que se movimentam em diferentes lugares realizando diferentes atos de reflorestarmentes, somando no trabalho educacional antirracista e de respeito aos povos indígenas.

Vamos juntas construir o bem viver e viver bem para todos! Vamos juntas reflorestarmentes para curar nossa terra!

A Anmiga e seus conceitos

Corpo-território: o corpo-território da mulher indígena carrega consigo a ancestralidade, a espiritualidade, a memória e a história, é um corpo político e intrinsecamente ligado ao território. É coletivo, uma vez que é construído a partir da coletividade de um povo e do bioma de onde veio. Ele é território de conhecimento.

“Corpos são territórios e territórios são corpos”.

Reflorestarmentes: chamado à humanidade por outra forma de se relacionar com a Mãe Terra e entre nós – os seres que vivem nela – pela vida e pelo bem-viver. Propõe-se uma relação a partir das ciências ancestrais, que cuide da Mãe Terra e, consequentemente, dos corpos-territórios e espíritos.

“Corpo é terra e floresta é mente”.

Mulheres Bioma: são várias gerações de corpos de mulheres indígenas conectados com a ancestralidade e com o corpo da Terra e seus biomas.

Saiba mais em https://anmiga.org

Conheça mulheres indígenas


Francy Baniwa. Foto: Benjamin Mast/La Mochila Produções/ISA, 2022.

“Rio Negro, nós cuidamos”

por Francy Baniwa



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Fátima Paumari, com a neta pamela, aldeia Crispim, TI Paumari do Lago Marahã (AM), setembro de 2016 / Oiara Bonilla